O Ataque

49 4 230
                                    

Foi um dia exaustivo no trabalho. Eu não conseguia parar de pensar em tudo que Jessamine me disse sobre o Outro Lado e a coisa maligna que estava afetando o lugar.

Eu dizia para mim mesmo que não me importava, que não deveria me preocupar com isso, porque como disse a ela, meu trabalho era ajudar os vivos. Os mortos estavam mortos. Fim da história.

— Você está bem? — Trenton me cutucou com o ombro — Parece mais desligado que o normal.

— Não é nada demais — sussurrei, porque estávamos no meio de uma reunião com a capitã sobre os números da delegacia neste mês.

— Você deveria tirar um tempo, cara — Trenton disse, passando a mão pelo cabelo escuro — Você se esforça demais nesse trabalho, mas você merece um descanso também.

Trenton tinha quase trinta anos, mas pelo seu rosto, ainda parecia um universitário que havia acabado de chegar e ainda tinha esperança de que isso tudo acabaria bem.

— Eu sei como se sente. Eu sempre quero fazer mais e me sinto um inútil quando não consigo concluir um caso a tempo — ele continuou falando, sem olhar para mim.

Trenton me lembrou de Jessamine. Ela também tinha traços jovens e queria fazer mais pelas pessoas, a diferença é que sua limitante não era a burocracia americana, mas algo muito maior que não podia ser ignorado.

Suspirei. Eu precisava esquecer essa garota.

— Você ainda é novo, Trenton. Digo, você é nosso prodígio, é o detetive mais novo de toda a região — disse e ele apenas revirou os olhos — Vá com calma, ok?

— Você não é muito mais velho do que eu, então não aja como sábio — ele rebateu e eu ri baixinho.

— Não sei como você veio parar aqui.

— Como eu disse, eu quero fazer mais.

Assenti. A reunião terminou e eu precisei voltar para a mesa a fim de finalizar algumas documentações.

Quando o expediente chegou ao fim, recolhi minhas coisas e estava prestes a ir embora quando avistei Rhodes sozinha na sua mesa. Ela olhava com concentração para o monitor do seu computador e bebia um gole do seu copo de café, apesar de ser dez da noite.

Sai para o estacionamento e abri o carro. Estava prestes a entrar quando ouvi um barulho metálico. Soltei o ar e vi uma pequena fumaça branca se formar na minha frente. Um arrepio subiu pelos meus braços.

— Jessamine? — perguntei, olhando para os lados. Não havia ninguém no estacionamento — Eu odeio quando você faz isso! — gritei, esperando que, dessa forma, ela aparecesse como a grande justiceira dos mortos que era.

Mas Jessamine não respondeu. Eu me virei para meu carro, então eu vi.

Cinco sombras paradas próximas ao carro de Carey. Uma delas estava com o pescoço torto em uma posição que não podia ser humana.

Eles nunca andam juntos.

Mas essa não era a única esquisitice. As cinco sombras tinham olhos brilhantes e brancos como os faróis do meu Passat quando estavam ligados. E eles olhavam diretamente para mim.

— Olá? — chamei, mas eles permaneceram parados.

Que tipo de espírito andava em grupo? Eu já tinha visto mortes em conjunto, mas os fantasmas não ficavam tão próximos um do outro. Eles pareciam ter algum tipo de aversão um pelo outro.

— Ok, eu vou apenas ir, então — eu disse.

Não sei se podia fazer muito por aquelas almas naquele estado.

O Guia dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora