Pela primeira vez desde que fui transferido para o 82° distrito de Nova York, eu pedi para voltar mais cedo para o trabalho depois de uma folga. Eu vi a forma que Johnson, um dos detetives mais velhos, me olhou como se eu tivesse enlouquecido.
Mas eu precisava de tempo para buscar mais sobre os desaparecimentos. Nathan tinha razão. Mais três pessoas desapareceram na última semana. Agora, eu não sabia se Carrie havia sequestrado esses indivíduos para caçar mais Guias ou se ela estava apenas brincando com a gente.
Se é que estávamos falando de um indivíduo pensante. Podia ser qualquer coisa.
Na delegacia, tudo era mais fácil, sabíamos com o que estávamos lidando quando chegávamos em uma cena do crime. Era só buscar as pistas e achar o assassino. Mas isso? Não sabíamos nem se existia um assassino, não sabíamos nada, estávamos nadando no escuro.
— E aí o que encontrou? — A voz da Jessamine atrás de mim fez um arrepio descer pelo meu pescoço.
Ela deu a volta pela mesa. Estava usando o mesmo vestido preto que lhe dei e a jaqueta jeans. Seus cabelos estavam soltos e os cachos dourados escorriam pelos ombros. Ela não usava maquiagem, mas suas bochechas estavam coradas como se estivesse correndo.
Eu estava tão concentrado nela que não percebi que ela estava ali.
— Como chegou aqui?
— Como todo nova iorquino chega nos lugares — explicou simples — Metrô.
— Você sabe pegar o metrô?
— Eu falei tudo o que sabia para Nate, então ficamos um tempo catalogando alguns livros, mas comecei a ficar entediada e irritada porque Nate e Trenton claramente gostam um do outro, mas não admitem.
— Você está ok com isso?
— Eu só nasci em outro século, Montague, não sou uma babaca — ela cruzou os braços — De qualquer forma, Nate me explicou como pegar o metrô. Foi divertido, mas as pessoas não são muito educadas.
— Essa é Nova York — dei de ombros — Eu peguei o nome de três desaparecidos. Um deles em Long Island e outros dois no Brooklyn, próximo à ponte. Acredito que exista uma abertura ali.
— Hum. Então as pessoas ainda estão desaparecendo?
— Pois é, alguma teoria sobre o que pode estar acontecendo? Ela obviamente eliminou todos os Guias, então o que está fazendo com esses corpos? — falei, me encostando contra a cadeira.
Jessamine olhou para o computador com o cenho franzido. Ela podia estar se adaptando bem ao nosso mundo, mas eu sabia que algumas coisas ainda confundiam seu cérebro.
— Não faço a menor ideia. Os corpos nem deveriam conseguir se deslocar pelo Outro Lado — Jessie suspirou — Está ficando cada vez pior.
— Nós vamos resolver — sorri.
— Montague, o que é isso?
Eu me virei e Rhodes estava ao lado da nossa mesa. Ela havia acabado de voltar de um interrogatório. Estava com a prancheta nas mãos e o cabelo escuro preso.
Rhodes me olhou, depois olhou para Jessamine. Era estranho pensar que as duas já estiveram juntas outras vezes, mas Rhodes nunca foi capaz de olhá-la tão diretamente.
— Quem diabos é essa? Você sabe muito bem que não pode ficar trazendo suas amigas aqui — ela enfatizou a palavra amigas — Se Owston souber...
— Se acalme, Carey. Essa é apenas minha... hum... prima da Inglaterra — falei — Jessamine Bassford. Ela está passando uns tempos em Nova York.
— É um prazer, senhorita Carey, ouvi falar muito de você — Jessie disse educadamente com seu forte sotaque inglês. O seu tom cortês pareceu desarmar Rhodes.

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O Guia dos Mortos
FantasyUm fantasma de outro século e um detetive que não confia em ninguém estão prestes a entrar em uma missão arriscada e se envolver em uma relação impossível. Fantasmas existem. Russell T. Montague é capaz de ver fantasmas desde o acidente que matou t...