Questionamentos

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Eu realmente não tinha saída, muito menos opção.

D- Tá, suponhamos que eu aceite essa loucura do meu pai. De quanto tempo estamos falando? Duas semanas no Brasil?

_ Um pouco mais.
D- Três semanas?
_Mais um pouquinho.
D- Um mês?
_ Mais.
D- Tá, três meses então?
_ Olha, quase acertou! Um pouquinho mais que isso.
D- Mais que isso?
_ É..
D- Cinco meses?
_ Passou bem perto, hein! O seu pai quer que você fique um ano no Brasil.

Nesse momento eu vi o mundo girar e a minha vista escurecer. Acordei quinze minutos depois, com os dois jogando água em mim e a mulher que trabalha aqui segurado um copo com mais água.

D- Me dá isso aqui.
Pego o copo da mão dela, e bebo a água desesperadamente.

D- O que aconteceu?
_- Você desmaiou.
D- Gente, me conta que oque eu tive foi um surto e que nada do que eu lembro é real.
_- Calma! Foi só um surto da sua cabeça.
D- Ainda bem.
Respiro mais aliviado.

_- Mas e aí? Podemos colocar os patrimônios a venda?

D- VOCÊ NÃO DISSE QUE TINHA SIDO UM SURTO?
_- Eu menti porque você pediu.

D- Não gente, não! Eu me recuso a sair daqui pra ir passar um ano trabalhando no Brasil, e hospedado na casa de um padrinho que eu nem conheço, e fazendo sei lá oque. É pelo menos trabalhando como um executivo?

_- Olha, quase isso! Conversamos com o seu padrinho, e segundo ele, o trabalho é tranquilo, você trabalharia como ajudante.

D- Ajudante? Ajudante de que? Administrativo de alguma empresa? De alguma filial da Prada?
_- De filial? Da Prada?
_- Não não, é ajudante de lanchonete.
D- Aah.. Eu vou desmaiar de novo!

_- Para com isso. Cada desmaio seu são quinze minutos perdidos!

D- EU NÃO VOU IR MORAR EM SÃO PAULO DE JEITO NENHUM.

_- E quem aqui falou em São Paulo? O seu padrinho mora em uma cidade pequena, no interior de Alagoas.
Nem deu tempo de eu falar mais nada, só percebei a minha vista escurecendo e tudo rodando outra vez.

_- Tem como você parar de fazer isso? Você tá desperdiçando o nosso tempo.
O Advogado fala enquanto me acorda dando leves tapas no meu rosto.

D- Aí, eu ainda tô vivo? Eu não mereço isso. Nunca mereci! Sempre fui um bom filho, por que ele faz isso comigo?

_- Bom filho pra quem? Você via o seu pai uma vez no ano, passou a vida viajando pelo mundo com o dinheiro que ele te dava.
D- Bons tempos.

_- É, bons tempos que acabaram! Agora é trabalhar.

D- NÃO VOU! Podem fazer oque quiserem, eu não vou sair daqui pra ir morar no interior de sei lá onde pra trabalhar como ajudante em lanchonete.

Quando um deles ia me responder, o celular dele tocou. Falou com alguém rapidamente e logo guardou o celular, me olhando novamente.

_- Diego, lembra quando eu disse que o seu cartão ia ser bloqueado em uns dois dias e que você ainda tinha esses dias pra comprar coisas?
D- Lembro.
_- Então, desculpa, eu estava errado.
D- Aí que bom! Deus me ouviu..
_- Ele foi bloqueado hoje, o banco acabou de me avisar.

D- Que?
_- É isso! Você não tem mais nem um real, aliás, nem um dólar.

_-Vamos! Não temos mais nada pra fazer aqui. Ele já deu a resposta dele.
Um fala para o outro. Os dois caminham até a porta, e quando iam abrir, um vira para mim.

_- Ah, esqueci de falar! Essa casa faz parte dos patrimônios do seu pai, então você tem uma semana pra desocupar ela, também vai ficar a venda.

D- Não não, A MINHA CASA?
_- A casa do seu pai.
D- E AONDE EU VOU MORAR?
_- Tá aí uma boa pergunta! Aonde?
Ele fala debochando. Respiro fundo, e quase chorando, eu falo
D- Tá bom! Tá bom, meu pai e vocês venceram! Eu vou ir para o Brasil.
Os dois se olham sorrindo.
D- Quando eu vou?
Pergunto triste me jogando novamente no sofá.

Sem Prada, Sem Nada! Onde histórias criam vida. Descubra agora