Rafael - 12 anos

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Olá, como vai? Espero que esteja bem. Mesmo sem ouvir sua resposta, desejo que seu dia esteja sendo ótimo.

Eu me chamo Rafael, tenho 12 anos, e neste momento, considero a ideia de estar no topo de um prédio, prestes a me jogar. Quem nunca sentiu essa vontade, não é mesmo?

O sétimo ano do ensino fundamental foi um verdadeiro caos para mim, mas então conheci uma garota especial. Ela era gentil, sempre com um sorriso nos lábios e sempre esteve lá por mim. Eu costumava ser um garoto popular, como sempre, um líder seguido por todos, até que ela apareceu.

O nome dela é Camila, e lembro vividamente do dia em que ela surgiu com seu caderno e aquele sorriso encantador. Inicialmente, não me importei com suas peculiaridades. Na verdade, eu a queria bem longe de mim e dos meus amigos. Ela era irritante, mas ao mesmo tempo, meiga. Era diferente, e talvez fosse exatamente por isso que eu não gostava dela.

"Ain, Rafaewn, por que você não gosta dela?" - Vocês me perguntam.

"Porque detesto a ideia de mudar sem motivo!" - Eu respondo.

Para nos comunicarmos com a Camila, utilizávamos um caderno que ela carregava consigo diariamente. Inicialmente, as meninas ficaram maravilhadas (ou com pena) e tentaram a todo custo chamar a atenção dela. No entanto, com o tempo, tornou-se cansativo. Ela era diferente, e daí? Se não queríamos falar com ela, bastava ignorar! Tentaram até nos obrigar a aprender libras, mas isso era um absurdo...

Oi...

Ainda estão aí?

Queria dizer que tudo não passou de uma brincadeira, mas... era assim que eu pensava na época. Fui realmente um idiota com a Camila, fazendo-a chorar, enquanto ela apenas tentava me entender.

Camila...

Se estiver lendo isto, saiba que me arrependo profundamente. Escrevo alguns poemas pensando em você, mesmo sabendo que talvez nunca os leia. Desde que saiu da escola por minha causa, comecei a enxergar o mundo de maneira diferente. Penso em você todos os dias, desde o amanhecer até o anoitecer, quando me humilham na escola, quando colocam a minha cabeça na privada, quando fico sozinho no recreio... o tempo todo.

Não é engraçado quando acontece com você.

E pensar que eu acreditei que tinha amigos, mas percebo que mereço tudo isso. Estou tendo aulas de libras agora, e se algum dia nos reencontrarmos, espero que possamos conversar. No final, fui eu quem precisou mudar...

Quanto a vocês, fofoqueiros de plantão, sei que querem detalhes sobre o que aconteceu, e terão todos, não se preocupem!

Só precisava desabafar um pouco, expressar meu arrependimento. Se pudesse voltar atrás, Camila não teria sofrido tanto.

Estou exausto, já não tenho vontade de falar com as pessoas, ando cabisbaixo, choro diariamente e passo madrugadas encarando a parede rachada do meu quarto. Queria apenas que alguém segurasse minha mão e tentasse me entender.

Não posso continuar vivendo assim, eu me sinto um coadjuvante na minha própria vida, mesmo com tantas pessoas ao meu redor, continuo me sentido só. Talvez subir até o alto de um prédio seja a única maneira de acabar com essa solidão...

Desculpe o desabafo... Enquanto compartilho minha história, vou subindo os degraus até o último andar...

O peso das palavrasOnde histórias criam vida. Descubra agora