Tem certeza de que eu posso entrar? – pergunto, a voz tremendo.
Claro, você só precisa ajudar um pouco e depois vai embora antes que minha mãe chegue! – Marco diz, enquanto me puxa para dentro de sua casa.
Desculpe por começar sem um contexto. Tudo aconteceu tão repentinamente. Eu estava na casa do Lúcio, jogando em um dos seus quinze consoles, quando Marcos e Camila me chamaram para ajudar a organizar uma festa de aniversário para Celina, a mãe deles, que nunca foi exatamente simpática comigo. Apesar disso, decidi aceitar o convite já que Lúcio tinha um compromisso com o pai, uma espécie de sessão de reaproximação familiar, algo típico de pessoas ricas.
Entro no apartamento, que é simples e fica no sexto andar de um prédio visivelmente negligenciado. Há um conjunto de sofás de frente para uma pequena TV de tela plana, de não mais de 32 polegadas. A mesa de jantar está próxima, ao lado do sofá, separada da cozinha apertada por um balcão. A cozinha contém uma grande geladeira, um fogão de cinco bocas, uma pia e um armário de parede. Há outros cômodos, provavelmente dois quartos e um banheiro, acessíveis por um pequeno corredor. Uma janela dá para uma sacada diminuta, onde algumas roupas estão penduradas em um varal improvisado.
Por onde começamos? – pergunto, desviando o olhar para o relógio. 15:30.
Ajude-nos a encher os balões! – Marcos aponta para uma pilha de balões vazios sobre a mesa de jantar.
Acompanho-o até a mesa e começo a soprar os balões com todas as forças que tenho. Nunca fui muito bom nisso. Minha visão se volta para duas pessoas que saem do corredor, vindo de uma pequena porta rangente. Camila e a senhora Maria se aproximam, carregando caixas de enfeites. Ao me ver, Camila sorri, inclinando a cabeça para o lado de maneira gentil.
Como você está? – pergunta ela.
Levanto o polegar em um sorriso de retribuição.
Como está, meu querido Rafa? – pergunta Maria, me envolvendo em um abraço antes que eu possa responder.
Estou bem, e a senhora? – digo, um pouco encolhido.
A vida me leva, como sempre. E graças a você, o Doki está melhor que eu, correndo para todos os lados da loja! – Ela dá um leve tapinha no meu ombro. – Sem contar os doces que vocês estão preparando, está ajudando muito!
Que bom saber! – sorrio, tentando esconder o desconforto. – Não seria uma má ideia se a senhora me deixasse passear com ele, não é?
Claro que não, meu filho, ele é basicamente seu e da Camila! – Ela sorri de forma ampla. – Quase como um filho de vocês dois!
Arregalo os olhos e cerro os dentes, o constrangimento me consumindo. Camila parece visivelmente confusa; por sorte, ela não conseguiu ler os lábios da avó. Quando me viro para voltar a encher os balões, vejo Marco fazendo sinais discretos para informar a Camila sobre o que Maria acabara de dizer.
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O peso das palavras
RomanceRafael, um garoto popular do ensino fundamental, praticava bullying contra Camila, uma garota surda, causando-lhe tanto sofrimento que ela foi obrigada a deixar a escola. Contudo, o destino reserva reviravoltas inesperadas para Rafael. Agora, ele en...