Os corredores do hospital são escuros, as paredes brancas me trazem uma sensação ruim, já é a segunda vez que venho aqui, pela mesma pessoa, mas o clima desagradável nunca muda. Meus passos leves me aproximam cada vez mais da recepção, o nervosismo prevalece em meu peito, eu sei que o Rafael está bem, ele tem que estar.
Paraliso ao ver que Aline se aproxima em alta velocidade ao meu encontro, seus cabelos negros estavam amarrados em um coque e de seus olhos castanhos escorriam vagas lágrimas que eram secadas com suas mãos antes que pudessem percorrer suas bochechas. Ela para em minha frente, bloqueando minha passagem, sua feição muda, era um misto de tristeza e fúria, com uma mão na cintura, Aline aponta para a saída com a outra.
- Rafael! - Digo em voz alta
Ela curva a cabeça e me analisa de cima a baixo.
- Eu quero ver o Rafael! - mantenho minha voz alta
- VOCÊ? - Ela grita. O aparelho consegue captar o som. - ELE NÃO ESTARIA AQUI SE VOCÊ NÃO TIVESSE FEITO O QUE FEZ, E AGORA QUER VÊ-LO?
- Eu não queria...
- NÃO QUERIA? CAMILA, EU TE DEI UMA CHANCE E É ASSIM QUE VOCÊ RETRIBUI? - Percebo sua falta de respiração mas ela logo volta a falar, ainda consigo ouvir mesmo com meus aparelhos baratos - Eu tentei ser sua amiga, tentei te entender, tentei conversar mas não primeira oportunidade você tenta se matar?
- Eu não estava aguentando mais... - Minha voz falha
- E resolveu abrir mão de todo o esforço do Rafael e de todos os outros nos últimos meses por causa de três pessoas que te chamaram de surda? Você já sofreu muito mais e nunca chegou a tanto.
Aline não entende que todo o peso que eu havia carregado durante todos esses anos estavam me sobrecarregando, eu só queria sentir a leveza, só queria deixar de ser um fardo, queria parar de ver o Rafael tentando de esforçar em me mostrar que eu não sou diferente, cansei do Marcos me tratando como uma irmã mais nova, mesmo eu sendo mais velha, cansei de todas as pessoas que me humilham. Uma hora todo o peso cai e ontem isso aconteceu comigo.
- Minha avó, ela eram quem me tirava esses pensamentos. - Digo - Ela não está mais aqui.
Aline me encara, seus braços agora estão cruzados e seu semblante, ainda irritado.
- S-A-I! - Ela soletra
Por mais que eu estivesse preocupada com o Rafael, acho que todos os outros reagiriam iguais a Aline quando me vissem, então resolvo voltar para casa, o Marcos pode me atualizar sobre o estado dele mais tarde, sei que podem estar dizendo que se fosse ele em meu lugar, ele estaria fazendo um reboliço pelo hospital para ir me ver mas nem sei se é uma boa ideia eu estar aqui.
Meus passos hesitantes continuam até a saída do hospital, mas meus olhos logo fitam uma situação que me deixa boquiaberta: Minha mãe estava de joelhos frente aos pés da mãe de Rafael.
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O peso das palavras
RomanceRafael, um garoto popular do ensino fundamental, praticava bullying contra Camila, uma garota surda, causando-lhe tanto sofrimento que ela foi obrigada a deixar a escola. Contudo, o destino reserva reviravoltas inesperadas para Rafael. Agora, ele en...