Rafael, um garoto popular do ensino fundamental, praticava bullying contra Camila, uma garota surda, causando-lhe tanto sofrimento que ela foi obrigada a deixar a escola. Contudo, o destino reserva reviravoltas inesperadas para Rafael. Agora, ele en...
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Acordo com a mesma apatia de todos os dias. Não consigo acreditar que, de alguma forma, acabei revelando a Rafael que gosto dele. Ainda bem que ele não entendeu. Esse sentimento é tão novo para mim que não sei se é realmente amor ou apenas uma reação ao fato de ele ter sido o primeiro garoto, além do meu irmão, que demonstrou algum cuidado comigo.
Desde o dia em que o reencontrei, minha vida mudou completamente. Rafael tem esse efeito de transformação, seja para melhor ou para pior.
Após terminar minhas tarefas matinais, caminho até a cozinha, olhando fixamente para meu celular. Por que Rafael nunca pediu meu número? Sei que ele não deve sentir o mesmo por mim, mas, já que ele quer manter a amizade, mensagens seriam bem-vindas.
- Bom dia, princesa! - Leio os sinais de Marcos - Dormiu até mais tarde hoje. Geralmente, você é a primeira a acordar!
Desvio os olhos da tela e vejo que minha avó, Maria, e minha mãe, Celina, já quase terminaram o café da manhã. O cheiro da tapioca com ovo invade minhas narinas.
- Me desculpem! - Faço um esforço para que as palavras saiam de minha boca.
- Vi que você estava pesquisando cursos para a faculdade! - Minha mãe sorri amplamente e gesticula - Admiro a iniciativa da minha menina!
Passei a noite inteira ponderando se valeria a pena fazer minha inscrição. Acabei não fazendo. Embora eu tenha sonhos, não quero arruinar as chances de outras pessoas com o meu futuro, que nem sequer penso em ter.
Rafael de cinco anos atrás me mostrou o quanto sou fraca, e só tenho a agradecer por isso. Minha mãe gasta muito com meus exames e a manutenção dos meus aparelhos auditivos. Não somos tão pobres, mas a vida aqui em casa seria melhor se eu nunca tivesse nascido. Eu sou um fardo. Por isso, acordo cedo, preparo o café, limpo a casa e lavo todas as roupas, tentando ser menos inútil para minha mãe trabalhadora e dedicada.
Ouço minha avó tossir assim que me acomodo à mesa. Tuberculose.
- Esses remédios não estão funcionando. Precisamos de um médico melhor do que aquele do postinho! - Leio os lábios de meu irmão, que se dirige à minha mãe.
Não consigo entender toda a conversa, mas ambos acabam visivelmente irritados.
Se eu não fosse um fardo. Se minha mãe não precisasse gastar tanto comigo. Se eu nunca tivesse nascido...
Sinto toques leves em meus ombros. É minha avó.
- Esse eu fiz pra você! - Ela sinaliza, e o formato da tapioca é um coração.
Amo minha família. Podemos não ter muito dinheiro, mas temos amor. Pena que o amor não paga exames decentes.
- Minha querida, você vai estudar moda? - Pergunta minha avó, com alegria nos olhos.