Capítulo 6 - Malina Castilho

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Eu detestava Lucien; de fato, ele era o Diabo e fazia jus ao seu apelido. No terceiro dia em que estava trancada, a porta só se abria três vezes por dia para enviar minhas refeições. Soquei a porta, gritei o seu nome, e nada. Ele podia ser tão cruel que até trancou as portas da sacada. Eu conhecia o seu quarto e sabia que era longe, mas eu poderia pular da sacada até o próximo dormitório com a porta aberta, poderia fazer milhões de coisas que o forçassem a se comunicar comigo. Eu estava ficando louca; nunca estive tanto tempo sozinha.

O auge da minha loucura se esgotou. No meu quarto branco, sem nenhuma cor na decoração ou móveis, havia uma penteadeira com uma cadeira de ferro. Peguei este móvel e o arremessei na porta de vidro que dava para a varanda, quebrando todos os vidros e espalhando-os pelo quarto. Peguei um tênis que havia no meu closet, roupas compradas por algum pessoal dele, visto que não pude trazer nada do que era meu, nem a roupa do corpo, pois antes de entrar no jato, ele me fez trocar a roupa que vestia. Após calçar o tênis e verificar que estava agasalhada o suficiente, passei com cuidado pelos cacos. Minha sacada era grande e espaçosa, cercada por uma ferragem preta, não era muito longe da próxima sacada. Me agarrando no ferro, atravessei até a próxima sacada. Estava quase pronta para pular para dentro da sacada quando ouvi:

— Senhora, por favor, não pule. — pediu um dos meus seguranças da minha sacada. Não passou pela minha cabeça acabar com a minha vida; eu só queria fugir daquele quarto.

— Senhora, por favor, caso se machuque, estará nos matando também. Devemos mantê-la em segurança. — disse outro segurança.

— Não negociarei com vocês. Chamem aquele cretino do seu chefe.

— Por favor, não o xingue. Não gostaria que nada de ruim acontecesse contigo por isso. — Ele estava preocupado com o que ele podia fazer comigo, enquanto eu supostamente poderia me jogar da sacada. Não ousei olhar para baixo, sem saber o quão longe estava do chão. O vento gelado bagunçava meu cabelo e machucava meu rosto. Porra, um lugar muito frio para o diabo morar.

— Lucien... — gritei. — Lucien. Apareça... — ordenei com raiva.

Então ele apareceu, incrivelmente bonito, com um casaco longo de cor azul escuro, quase meia noite. Ao lado de dos seguranças, me fitava com o olhar.

— Vejo que continua a fazer gracinhas.

— Você não disse que ia mandar meu corpo para mi papá? No dejaré que me mates, lo haré yo mismo. — Não deixarei que você me mate, eu mesmo farei.

Estava nervosa, não era esse meu plano, por isso comecei a confundir os idiomas e falar espanhol.

— Pule para a sacada, não me dê o desgosto de ter que mandar tirar seu sangue do meu chão.

No, ya no quiero vivir esta vida. — Não quero mais viver esta vida.

— Você está me irritando, não faça eu perder o controle.

— ¿Qué podría ser peor que matarme? — O que poderia ser pior do que me matar?

— Eu não negócio com terroristas. — Então Lucien deu as costas e saiu da sacada, me deixando lá. Eu poderia dizer que estava surpresa, mas não estava. Ele era ruim, não tinha alma. Não conseguia mais ficar presa, enjaulada; eu cresci correndo pela praia, vendo o mar azul.

O ferro que me segurava estava úmido pelo tempo. Meus dedos estavam trêmulos, e eu não conseguia pensar direito. Lágrimas borravam minha visão, então olhei para baixo, vendo a altura em que estava. Por um segundo, uma de minhas mãos escorregou, e eu senti o ar gelado contra meu rosto. Estava prestes a cair quando senti meu corpo bater contra o ferro e ser puxado para dentro da sacada. Cai sobre ele, seu corpo duro contra o meu. Meu coração disparado, adrenalina a mil.

Senhor Mafioso - Série Senhores - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora