Capítulo 23

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A sensação de ser cuidada e transformada era estranha, como se estivessem apagando quem eu era para criar uma nova versão de mim mesma. O cabelo perfeitamente arrumado, as unhas impecáveis e a pele suavizada pareciam pertencer a outra pessoa, não à rebelde Malina Castilho. No espelho, eu via uma mulher refinada, distante da Malina que costumava ser.

Quando Lucien entrou, seu terno impecável contrastava com minha nova imagem. Era como se ele estivesse determinado a moldar uma nova identidade para mim, uma que se alinhasse mais com seus próprios desejos e visão de mundo. Cada detalhe do meu novo visual parecia uma tentativa de apagar as marcas da minha linhagem Castilho, como se ele estivesse tentando reescrever minha história.

Ao vê-lo, uma mistura de sentimentos contraditórios surgiu dentro de mim. Por um lado, havia uma sensação de admiração pela sua determinação em me transformar e uma pitada de gratidão por estar me proporcionando cuidados tão minuciosos. Por outro lado, uma parte rebelde de mim resistia a essa mudança, recusando-se a ser moldada de acordo com os caprichos de Lucien.

Seu olhar ao me ver refletida no espelho era penetrante, como se estivesse avaliando o sucesso de sua empreitada em me transformar. Por um instante, vi um brilho de satisfação em seus olhos, como se estivesse alcançando um objetivo muito desejado. Mas também percebi uma sombra de incerteza, como se ele se questionasse se essa nova versão de mim mesma seria o suficiente para satisfazê-lo.

A presença de Lucien ao meu lado reforçava a sensação de ser vigiada, como se eu estivesse constantemente sob seu escrutínio. Era um lembrete constante de que, apesar de todas as mudanças físicas, eu ainda era sua prisioneira, presa dentro dos limites que ele havia estabelecido para mim.

— Está pronta, Malina? — Lucien indagou, sua voz suave contrastando com a seriedade de seu olhar.

— Sim, estou pronta — respondi, alisando o tecido do vestido que ele havia escolhido para mim.

Ele se aproximou, ficando atrás de mim no espelho, nossos olhares se encontraram no reflexo.

— Tenho um presente para você — anunciou ele, virando-se para Gorki que estava à espera.

Gorki entrou com uma caixa, depositando-a sobre a cama conforme instruído por Lucien.

Curiosa, me aproximei da caixa, ansiosa para descobrir o que estava dentro. Ao abrir a caixa, me deparei com um lindo casaco de pele, elegantemente dobrado e disposto sobre o tecido de cetim que revestia o interior. Suas cores eram ricas e profundas, uma combinação de tons escuros que emanavam sofisticação e luxo. Ao tocá-lo, senti a maciez da pele sob meus dedos, e uma sensação de calor e conforto me envolveu. Era um presente magnífico, digno de uma ocasião especial. Olhei para Lucien com gratidão e surpresa, impressionada com o gesto inesperado de generosidade.

Enquanto eu admirava o casaco de pele, uma mistura de emoções me invadia. Por um lado, lembrava-me das vezes em que Lucien agiu de forma rude e controladora, impondo sua vontade sobre mim. Mas, por outro lado, também recordava os momentos em que ele mostrava bondade e cuidado, como agora, ao me presentear com algo tão belo e luxuoso. Era como se ele tentasse compensar suas atitudes negativas com gestos de generosidade, querendo agradar-me de alguma forma. Essa dualidade em seu comportamento deixava-me confusa e intrigada, sem saber ao certo o que esperar dele.

O comportamento de Lucien muitas vezes refletia o da sua mãe, Olga. Ambos compartilhavam uma natureza dominadora e controladora, exercendo sua autoridade de forma inquestionável sobre aqueles ao seu redor. Assim como Olga, Lucien podia ser implacável em suas decisões e ações, mostrando-se tanto generoso e protetor quanto cruel e manipulador conforme a situação exigisse. Essa semelhança entre mãe e filho revelava uma dinâmica familiar complexa, onde o poder e o controle eram valores fundamentais.

Senhor Mafioso - Série Senhores - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora