CAP 01

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MOSCOU, 2024 | NELLI

Confesso que no fundo achava que não voltaria nunca, mas cá estou eu, me arrumando em um quarto de hotel, com toda a calma do mundo como se não estivesse atrasada.

Cheguei em Moscou pela manhã, sem avisar minha família, pretendendo fazer uma surpresa na festa de noivado de um dos capitães do Pakhan.

Sorrio ao colocar o piercing, dando ainda mais destaque ao batom vermelho na minha boca.

Kira, uma amiga que fiz no Japão, dizia que essas são duas coisas pela qual eu sou obcecada: minhas botas e as diversas joias de piercing que eu tenho.

Por falar em piercing, sorrio de canto ao ver que as joias em meus seios não marcam muito por conta da cor do vestido.

Me olho nos pés a cabeça no reflexo do espelho, e aprovo o visual.

O vestido preto, de alças finas com uma fenda que começa na coxa e vai até os pés, deixando visível a joia de cobra na minha coxa, junto com minhas botas de salto preta, entram em contraste com o ruivo do meu cabelo que está enorme, e com o batom vermelho, me deixando linda pra caralho.

Uma das coisas que mais mudaram em mim, fora o novo visual, foi a minha auto estima.

Amava minha irmã mais que tudo, e sabia que éramos bonitas, mas ser confundida com ela me deixava muito pra baixo.

Kira me ajudou muito, ela que me apresentou Yildiz, a tatuadora responsável por cada desenho no meu corpo.

Quando passei a me olhar no espelho, e perceber que eu não era apenas uma cópia da minha irmã, tudo mudou.

Mas foi apenas um ano trás, que eu tomei a das melhores decisões da minha ruiva, pintar meu cabelo.

Amava meus fios loiros, mas quando eu me vi naquele ruivo, não tive uma gota sequer de arrependimento.

Se uma Pavlova loira de olhos verdes era bonita, uma Pavlova ruiva de olhos verdes é maravilhosa.

Assim que desci do táxi e entrei no local, só conseguia pensar a cara do meu pai e da Anna.

O local era fechado e quando me apresentei aos seguranças, tive que mostrar minha identidade, e lógico, um incentivo a mais para não me atrasaram ainda mais, minha adaga favorita.

Já imaginava que estaria na parte da festa, só não imaginei que provavelmente seria a última a vir, e teria todo o salão de convidados olhando para mim.

Quis rir da expressão que todos faziam, e procurei meu pai com os olhos, achando-o junto com minha irmã, e infelizmente com o Pakhan.

Achei que passaria o resto da vida apaixonada por esse homem, que inclusive está mais bonito que cinco anos trás, mas me enganei.

Tudo acaba, principalmente quando não é retribuído, e apesar de ainda ficar nervosa apenas por estar no mesmo ambiente que ele, meu coração já não acelera como antes.

O que sinto por Ruslan agora é somente admiração e respeito.

Depois de colocar a cabeça no lugar e refletir um pouco, entendi seu lado ao me rejeitar daquela maneira.

Provavelmente fui um incômodo, o homem estava prestes a anunciar que ia casar, e eu me declarei horas antes.

Seguro a bolsa de mão com força, deixando meus pés me levaram até a minha família.

— A boa filha a casa torna. — Digo, com um grande sorriso no rosto, indo abraçar meu velho.

Em seguida puxo minha irmã para um abraço apertado, a loira tá travada de tanto choque e surpresa.

— Nelli, por que não avisou que voltava hoje, eu teria ido lhe buscar no aeroporto. — Repreende meu pai, e sorrio, senti falta disso.

— Queria fazer surpresa.

— Uau, irmã é você mesma? — Anna pergunta, quase me fazendo gargalhar.

— Bom, eu sou a mesma Nelli que ficou de guarda para você roubar um pote de biscoitos na madrugada. — Lembro, fazendo a loira arregalar os olhos, e me empurrar de leve, sem conseguir me fazer sair do lugar.

— É você mesma. — Concluí, me olhando de cima a baixo várias vezes.

Ouço um limpar de garganta, e identifico ser de Ruslan.

— Senhor Ruslan. — Comprimento, mostrando respeito ao líder.

O poste de olhos azuis, me encara sem falar nada, e muito menos me cumprimenta de volta.

Acabo me lembrando do que me disse anos atrás, e não digo mais nada a ele.

Se ele não fosse o Pakhan, eu nem mesmo teria cumprimentado, além do que eu nem sabia que ele ia estar aqui, me pegou de surpresa.

Vejo um garçom se aproximar com bebidas, mas antes que possa pegar a taça, uma voz feminina ecoa furiosa pelo salão.

Por estarmos próximas, percebo Anna se encolher ao meu lado, e nem tenho tempo de perguntar algo.

Uma mulher que deve estar na casa dos quarenta anos, se aproxima de nós, com uma expressão furiosa.

— Quem é a tal da Pavlova? — Grita, e sinto minha irmã segurar meu braço, tremendo.

Ah Anna, Ah... em que confusão se meteu dessa vez?

Quem é essa louca e quem deixou ela entrar?

Agradeço mentalmente que ela citou apenas o sobrenome e dou um passo a frente, entrando em seu campo de visão.

— Nelli Pavlova, pois não? — Minha voz firme surge no intervalo de seus gritos e seus olhos pousam no meus, enquanto em vem em minha direção.

— Foi você quem dormiu com meu marido? Sua vadia. — Xinga, gritando pra todo mundo ouvir, me fazendo olhar sobre os ombros e ver as três pessoas me encarando.

Meu pai e Ruslan não desmontam nada, mas Anna está abalada, nervosa.

Balanço a cabeça para que perceba o que fez, e como estou desapontada.

Tinha que ser com homem casado, irmã?

Mal tenho tempo de raciocinar alguma coisa, assim que volto a olhar para a mulher na minha frente, sinto minha bochecha arder.

Essa louca me bateu?

A mim?

Os seguranças presentes veem até mim, provavelmente enxergando essa louca como uma ameaça.

Ergo a mão, e faço um sinal para que parem.

Ela tem coragem, confesso.

Sinto meu lábio inferior arder, e percebo que por conta do piercing, acabou ferindo.

Com a postura recuperada, sinto minhas emoções serem desligadas, como todas as vezes em que fico furiosa.

Tenho vontade de pegar minha adaga, que está presa na perna esquerda, coberta pelo vestido, e rasgar seu pescoço.

A postura da mulher muda, provavelmente percebendo minha mudança de expressão, e cor dos meus olhos, de acordo com Kira, eles ficam mais escuros quando estou assim.


A postura da mulher muda, provavelmente percebendo minha mudança de expressão, e cor dos meus olhos, de acordo com Kira, eles ficam mais escuros quando estou assim

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NELLI - A GÊMEA REJEITADAOnde histórias criam vida. Descubra agora