CAPÍTULO 5

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ISABELLA MILLER

Já faz alguns dias desde toda aquela confusão com Isaac, e desde então não conversamos mais sobre os desenhos. Mas eu sabia que eles ainda estavam nas paredes; sempre dava uma passadinha à tarde no quarto dele para dar uma olhada.

Isaac não ficava muito em casa; eu só o via de manhã.

Talvez ele tenha conseguido um emprego. Ouvi uma conversa dele ao telefone em que mencionava não querer ficar por muito tempo na casa dos outros.

Já fazia um tempo que eu estava acordada, lutando para reunir coragem para sair da minha cama quente e confortável. Hoje era o dia da prova pela qual tanto me preparei e que vinha me tirando o sono nas últimas noites.

Decido finalmente me levantar e caminho em direção da minha porta abrindo e indo direto para o banheiro. Ligo a luz e vejo meu reflexo no espelho, os olhos ainda pesados de sono. Escovo os dentes rapidamente, deixando a água correr para enxaguar a boca. Depois, resolvo as necessidades matinais.

Abro a porta do banheiro e caminho até a cozinha, onde encontro Isaac sentado, tomando seu café e comendo uma torrada.

— Estou saindo. — Darcy aparece arrumando o cabelo ondulado e me deixa um beijo na minha bochecha.

— E minha carona? — Darcy sempre me dava carona para a faculdade, mesmo que fosse sair para outro lugar depois.

Ela olha para Isaac com um sorrisinho no rosto.

— Isaac, poderia dar uma carona para Bella? Eu preciso resolver umas coisas do restaurante com o Ben.

— Claro. — Olho para ele sem acreditar no que tinha escutado.

Depois de tudo que eu fiz para ele? Ele ainda vai me dar uma carona?

— Obrigada, Isaac. — Ela acena e caminha até a porta deixando nós dois sozinhos.

Ficamos um encarando por um bom tempo até ele soltar um suspiro.

— Pergunta logo.

— Por que vai me dar uma carona?- Ele termina de mastigar a torrada e me olha com desânimo.

— Porque eu quero.

— Você vai tentar me matar?

— Não, Isabella.

— Você vai me matar!

— É só uma carona, Isabella. — Ele suspira

Continuo olhando para ele desconfiada.

— Certo, eu não tenho muita escolha, a dona da casa onde estou morando pediu isso. — Ele levanta os ombros. — E você não tem uma prova importante hoje? — Estreito os olhos.

— Como você sabe? — Caminho em sua direção e me sento em frente a dele, levanto minha mão ao seu prato roubando uma torrada.

— Era minha torrada... — Ele solta um suspiro. —  A Darcy me contou.

Isaac termina de beber seu café e pega o prato vazio, levando-o para a pia. Ele coloca um pouco de detergente na esponja e começa a esfregar as louças.

— Você vai ficar me observando ou vai terminar de comer a torrada e se arrumar? — Desvio meu olhar dele.

— Tem 30 minutos para se arrumar, estarei lá embaixo te esperando. — Meus olhos quase saltaram com sua fala.

Só 30 minutos?

Termino de engolir e saio correndo para o meu quarto.

*

Desço as escadas com pressa e olho para o relógio, percebendo que estava dois minutos atrasada.

Abro a porta do prédio e me deparo com Isaac, emburrado, encostado em uma moto.

Uma moto!

Só pode ser brincadeira.

— Você está atrasada 2 minutos. — Eu nem estava mais prestando atenção no que ele estava dizendo. Meu olhar estava fixo naquela moto monstruosa.

— Eu não vou subir nisso não!- Ele ergue as sobrancelhas.

— É só uma moto, Isabella! — Ele desencosta da moto, pega o capacete que estava no guidão e o coloca na cabeça. Em seguida, monta na moto e me encara.

— Ou você sobe na moto ou perde sua prova.

Só tinha se passado dois minutos e eu já tinha esquecido da prova.

Ele me entrega um capacete, e eu fico olhando em desespero. Nunca tinha andado de moto antes, e não faço ideia de como colocar essa coisa.

Isaac parece entender meu olhar desesperado e me chama com a mão para me aproximar dele.

Ele gentilmente coloca o capacete na minha cabeça, seus dedos suaves ajustando cada correia. Enquanto ele trabalha, meus olhos se fixam em seu rosto, absorvendo cada detalhe. Será que ele sente a intensidade do meu olhar?

Com certeza, ele notou meu olhar sobre ele, pois seu rosto ficou levemente corado.

— Pronto, agora é só segurar firme em mim e nada de ruim irá acontecer.

— Nossa, que motivador.

O caminho para a faculdade foi mais tranquilo do que eu imaginava. Isaac manteve uma velocidade moderada, não sei se era por causa do meu medo ou se essa era a sua velocidade habitual.

Foi uma experiência completamente diferente observar a cidade enquanto estávamos na moto. Cada rua e prédio passavam rapidamente diante dos meus olhos, uma sensação de liberdade inundando minha mente. O vento soprava suavemente contra o meu rosto, bagunçando meus cabelos e trazendo uma sensação de frescor. Cada curva e movimento da moto faziam meu coração acelerar, a adrenalina correndo pelas minhas veias enquanto me sentia viva.

Isaac me deixou na faculdade e seguiu seu caminho.

Caminho para dentro da faculdade com o estômago todo revirado. Os corredores estão repletos de estudantes, conversas animadas ecoam ao meu redor. Ignorando o tumulto, dirijo-me à minha sala, ansiosa para ver a expressão do professor que iria aplicar a prova.

Me sento em uma cadeira e coloco minha bolsa ao lado, percebendo o suspiro coletivo que percorre a sala ao ver o professor entrar.

Eu estava completamente perdida.

*

Coloco a mão na bolsa, tentando encontrar a bendita chave perdida entre minhas tranqueiras. Com um suspiro de alívio, dirijo-me à porta e deslizo a chave na fechadura, girando-a com cuidado até ouvir o clique familiar. Com um sorriso de satisfação, empurro a porta e entro em casa.

Finalmente em casa.

Peguei uma carona com uma colega de sala para voltar para casa, como costumava fazer. Normalmente, esse era o meu meio de transporte, já que vivia à base de caronas.

Vejo Isaac na cozinha, mexendo com um monte de coisas. Panelas no fogão e verduras na bancada indicam que ele está preparando algo para comer.

— Nossa, estou morrendo de fome. — Ele me olha rapidamente, mas volta a olhar as panelas.

— O cheiro está muito bom. — Me sento no banco olhando as coisas na bancada.

— Não vai me perguntar como eu fui na prova?

Ele interrompe o movimento das panelas e vira seu olhar na minha direção.

— Você vai ficar quieta depois que me contar?

Que cavalheiro!

•••

Olhares AmargosOnde histórias criam vida. Descubra agora