ISABELLA MILLER
— Então quer dizer que você fala de mim, é? — Me viro para encarar Isaac, que já estava me observando com um sorrisinho de lado, dando de ombros de maneira despreocupada.
— Esse menino vive falando de você. — Dona Cecília revela com um sorriso travesso. Viro meu olhar para a senhora de idade à nossa frente, que exibia um enorme sorriso no rosto.
Seus cabelos brancos contrastam delicadamente com a pele, e os óculos redondos emolduram seu rosto, dando-lhe um ar ainda mais gracioso. Ela veste um vestido florido, coberto por um avental levemente sujo.
— Espero que ele só diga coisas boas sobre mim. — Ela se aproxima mais, pegando minhas mãos com delicadeza e me examinando de cima a baixo com um olhar carinhoso.
— Pode ter certeza que esse aí... — Ela solta uma das minhas mãos e aponta para Isaac. — Ele só fala coisas maravilhosas sobre você.
— Sem conversa fiada, o que acha de mostrar seu ateliê para a Isabella? — Isaac se aproxima por trás, colocando as mãos na minha cintura, o toque inesperado me fazendo congelar por alguns segundos.
— Está com medo de eu revelar tudo o que você me conta sobre sua namorada? — Dona Cecília pergunta com um sorrisinho, enquanto Isaac solta uma risada.
— Não estou com medo, mas nosso tempo é curto e, se bem me lembro, demorei bastante para conseguir marcar essa hora com a senhora. — Ele responde, tentando manter o tom leve, enquanto Dona Cecília estreita os olhos na direção dele, o que me faz soltar uma risadinha ao ver sua expressão.
— Ele tem razão. Esse rapaz me perturbou por um bom tempo para conseguir esse momento com você. — Ela diz, soltando minha mão e caminhando até um cabideiro onde estavam pendurados alguns aventais.
Ela pega dois aventais e nos lança um olhar divertido, enquanto segura os tecidos com as mãos.
— Vão ficar me olhando? Venham pegar seus aventais, ou vão acabar se sujando inteiros. — Olho para Isaac, que me devolve um sorriso.
Nós dois caminhamos até Dona Cecília, que cuidadosamente coloca os aventais em nossos pescoços. Isaac então me gira suavemente para amarrar meu avental nas costas, e faço o mesmo com ele.
Dona Cecília, com toda a sua paciência e carinho, nos guiou pelo ateliê. Ela explicou cada detalhe do processo de criação das peças, desde a preparação meticulosa da argila, passando pela secagem cuidadosa, até o momento crucial da queima. Sua paixão por cada etapa era evidente, e suas palavras transbordavam significado, enquanto compartilhava o que cada peça representava para ela.
Estava completamente encantada com tudo o que Dona Cecília compartilhava. Ela falava com tanto orgulho sobre o seu trabalho, sua felicidade ao lidar com a cerâmica, e como nunca se imaginou fazendo outra coisa. Cada palavra dela transmitia uma paixão genuína.
No andar de cima do ateliê, ela nos mostrou suas peças em diferentes estágios de secagem. Seus olhos brilhavam ao explicar cada uma delas. Ao parar em frente a uma porta branca, ela nos olhou com um sorriso convidativo.
— E aqui é onde vocês vão criar suas próprias peças. — Disse, abrindo a porta e se afastando um pouco para nos deixar passar.
O cômodo era amplo e bem iluminado, com um aroma distinto de argila que preenchia o ambiente. As paredes brancas proporcionavam uma sensação de frescor e tranquilidade, e utensílios variados estavam meticulosamente organizados e pendurados. Muitas prateleiras estavam repletas de peças em diferentes estágios de secagem, mostrando o trabalho cuidadoso de Dona Cecília.
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Olhares Amargos
RomanceA vida de Isabella Miller é um autêntico turbilhão: cursa direito por influência dos pais e divide o apartamento com uma amiga. No entanto, sua rotina se torna ainda mais agitada quando se depara com um desconhecido no sofá de casa. Isaac Williams...