Olhares Amargos

CAPÍTULO 18

ISABELLA MILLER

Acordei cedo em um pleno domingo de folga, poderia ter dormido mais? Sim, mas a ansiedade para descobrir o que Isaac havia planejado me manteve acordada. Levantei-me e caminhei pela casa, tentando disfarçar minha curiosidade. Cada vez que cruzava com Isaac, perguntava o que iríamos fazer, mas ele apenas sorria e desviava o assunto. Seu silêncio estava me deixando ainda mais ansiosa e empolgada para o tal encontro.

Quando deu exatamente 17h35, ele finalmente me disse para me arrumar e escolher uma roupa confortável. A ansiedade que eu sentia era tanta que me vesti rapidamente em menos de 10 minutos.

O caminho todo foi em silêncio, um do lado do outro. Decidimos ir caminhando até o restaurante, como fazemos todos os dias. Isaac sugeriu irmos de moto, mas achei que não seria tão aproveitável, pois a distância não era grande.

Entramos no restaurante e estava tudo escuro. Isaac começou a acender as luzes, fazendo o caminho até a cozinha. Eu o seguia sem entender, pois tudo parecia igual como havíamos deixado na noite anterior.

— Eu ainda não entendi o que vamos fazer aqui, não estou vendo nada de diferente. — Ele me olha e sorri.

— É porque eu ainda não peguei os ingredientes. — Arqueio as sobrancelhas, ainda confusa.

— Ingredientes para quê?

— Para você preparar a receita que separei. — Meus olhos quase saltaram. — Você vai ter que preparar sua própria comida.

— Como assim eu vou ter que preparar minha própria comida? — Eu ainda estava parada no mesmo lugar olhando Isaac com um sorrisinho no rosto.

— É isso mesmo que você ouviu, vai ter que preparar você mesmo.

Fiquei ali, processando a informação. Preparar minha própria comida? Isso não vai ser nada bom.

— Eu não vou preparar nada.

— Então, fique com fome.

Me aproximo dele e coloco minhas mãos em seus braços.

— Você está maluco, quer que eu coloque fogo nesta cozinha? Ou melhor, quer ficar com fome o resto da noite? — Ele olha para minhas mãos e as solta de seus braços.

— Não vai acontecer nada disso, se isso te tranquiliza... Eu vou te ajudar com algumas coisas. — Ele começa a abrir os armários e retirar todos os ingredientes que irá usar.

— Isso não me tranquiliza. — Ele olha para trás e sorri. — Para de sorrir com o minha desgraça, você sabe que não vai sair nada de bom, né?

— Vou continuar sorrindo, e o que você vai preparar vai ficar ótimo, não é difícil. — Sobre o balcão estavam farinha, óleo, fermento, sal, açúcar, uma travessa e um caneco de água.

— Eu não sei se você sabe, mas eu e a Darcy compramos comidas congeladas por um motivo válido. Nenhuma de nós duas sabe cozinhar nada decente.

— Eu sei, o Ben já me contou as histórias horríveis que vocês duas já aprontaram. — Ele se encaminha em direção à porta dos armários.

— Fico feliz que esse fofoqueiro já tenha te contado. — Grito para ele do outro lado da porta.

Logo em seguida, ele aparece rindo, segurando dois aventais.

— Você estava bem animado hoje, não é? — Ele se aproxima, coloca um avental sobre o balcão e o outro passa a alça sobre minha cabeça.

— Só estou feliz. — Ele suspira. — Amarre isso logo, porque você vai ter que sovar uma massa de pizza.

— Massa de pizza?

— Sim, vamos fazer pizza, quer dizer, você vai fazer. — Ele ajusta o avental enquanto observa os ingredientes no balcão. — Não é difícil, e eu sei que você gosta.

— Gosto, mas hoje talvez eu comece a odiar. — Ele balança a cabeça negativamente.

— Não vai! Não confia nos seus talentos culinários?

— Óbvio que não.

*

— Eu disse que não ia ficar ruim. — Isaac diz, colocando mais um pedaço de pizza na boca.

Acho que ele realmente gostou ou estava com muita fome. Prefiro acreditar que ele tenha gostado.

— Não ficou tão ruim, esperava menos. — Ele ri.

Isaac não me ajudou tanto quanto eu esperava. Enquanto eu misturava os ingredientes na travessa, ele apenas observava e me instruía no que fazer. Quando chegou a hora de sovar a massa, fiquei ali por uns 6 minutos, parecendo o Banguela amassando o pãozinho, também conhecido como o travesseiro.

A cozinha virou uma bagunça total, com farinha espalhada por todos os cantos. Posso dizer que eu e Isaac tivemos uma pequena guerra de farinha, mas com razões muito válidas. Estávamos discutindo sobre as nossas brigas bobas desde que ele se mudou para o apartamento.

Pensando bem, nossa guerra de farinha talvez não tenha sido por motivos válidos, mas foi muito divertida.

Tenho quase certeza de que tinha farinha até nos meus ouvidos. Isaac não estava diferente; ainda tinha farinha no seu cabelo.

Eu tirei várias fotos dele sujo; com certeza iria postá-las mais tarde.

— O que você está olhando?

— Seu cabelo está cheio de farinha. — Ele deixa os talheres no prato e passa a mão pelos fios, o pó gruda na palma de sua mão.

— Isso está horrível, você vai me pagar por isso. — Solto uma risada alta.

— Eu tenho farinha até no ouvido, sério! Nem estou conseguindo te ouvir direito. — Ele ri.

Não sabia se era apropriado perguntar, mas eu estava curiosa para saber sua resposta.

— Por que você decidiu ter nosso primeiro encontro aqui no restaurante? — Ele me olha intensamente.

— Para ser honesto... Eu não tinha exatamente um plano de onde te levar, e a única coisa que pensei foi fazer algo que nós dois gostamos. Você adora comida e eu amo cozinhar, além de querer te mostrar que você também consegue preparar algo.

— Você foi muito inteligente. Mas poderia ter dado errado, não sou tão habilidosa na cozinha quanto você.

Isaac é ótimo na cozinha, isso ninguém pode discordar; tudo que ele prepara fica uma maravilha.

— Eu não sei exatamente o que você esperava que fosse, mas espero que pelo menos tenha se divertido um pouco. — Ele sorri, mas consigo perceber um tom de preocupação em sua voz.

Ele estava sendo sincero, e isso era perceptível. Isaac estava realmente preocupado se eu tinha gostado ou não do encontro.

— Pode ficar tranquilo, eu realmente gostei muito do nosso primeiro encontro. Estou ansiosa para os próximos, espero que sejam tão divertidos quanto o de hoje.

Eu realmente gostei do nosso encontro e eu estava gostando da companhia dele.

•••