Olhares Amargos

CAPÍTULO 1

ISABELLA MILLER

Acordo ouvindo um barulho de panelas, armários, tudo o que se pode imaginar – e que está me deixando maluca.

Logo hoje, que eu ia dormir até mais tarde!

Viro para o outro lado da cama, buscando forças para levantar, já que na noite passada fui dormir super tarde, estudando feito louca.

Olho em volta e vejo a bagunça que deixei na minha escrivaninha: livros e mais livros espalhados para todo lado.

Calço minhas pantufas e dou uma olhada no espelho, onde só consigo ver destruição. Fios de cabelo todo bagunçado, pijama amassado, e olheiras mais fundas que um poço. Solto um suspiro e sigo em direção à porta. Com os olhos ainda meio fechados, caminho pelo corredor que dá para a sala e a cozinha.

Era raro ver a Darcy na cozinha, já que ela era péssima em cozinhar. Não posso julgá-la completamente; afinal, também não sou muito habilidosa na cozinha.

No máximo, faço um macarrão instantâneo e olhe lá.

Ao chegar na sala, dou de cara com um homem desconhecido relaxado no meu sofá. Não era exatamente meu, mas eu ajudei a pagar. Nossos olhares se encontram, e um arrepio percorre minha espinha.

— Quem é você? — Minha voz sai um pouco trêmula.

Ele me observa, mas logo ouço sua resposta.

— Seu pior pesadelo — Diz, com um sorrisinho no rosto.

Fico olhando para ele, esperando que comece a rir e diga que é só uma brincadeira de mau gosto.

— Brincadeira, só vou morar com você a partir de hoje.

Permaneço parada por um instante, até me lembrar de que Darcy está na cozinha.

Como a cozinha é americana, consigo ver o vulto de Darcy andando de um lado para o outro.

— Darcy, acho melhor você me explicar quem é ele, ou vou pegar o cabo de vassoura e acertar a cabeça dele! — Grito, o nervosismo estampado no rosto.

Ela aparece na sala, rindo.

— Você não vai bater em ninguém! Ele só tem um humor meio duvidoso. — Darcy caminha até mim e aponta para o indivíduo que, bem relaxado, nos olha. — Esse é o Isaac. Ele vai morar com a gente.

Agora sim estou desesperada.

— Como assim ele vai morar com a gente? — Começo a andar de um lado para o outro. Minha cabeça já estava doendo e agora parece latejar.

— O Ben tá sabendo disso? — Pergunto, olhando fundo nos olhos dela.

— Óbvio, o Isaac é o melhor amigo do Ben. — Agora tudo fazia sentido. Essa ideia maluca só podia ter vindo do Ben.

O Ben já era um homem grandinho, mas suas ideias sempre eram uma furada.

— Por que o seu namorado não acomodou o melhor amigo na casa dele? — Cruzo os braços.

— Você sabe que a casa do Ben mal cabe ele; não tinha como o Isaac ficar naquele cubículo. — Darcy me encara, sabendo que vou falar alguma besteira.

— O banheiro é bem espaçoso. — A encaro com a mesma intensidade.

— Isabella! — Entendo o recado. — Tentei te avisar, mas você está em semana de prova.

"— Bella, preciso falar com você! — Ela surge no meu campo de visão.

Acabei de chegar da faculdade e o único lugar que preciso é meu quarto. Preciso estudar mais.

— Não vai rolar, preciso estudar!"

"Passo pela cozinha correndo contra o tempo, super atrasada para a faculdade.

— Bella, preciso te contar uma coisa! — Abro a porta de entrada e grito antes de sair.

— Conversamos depois, beijos!"

"Ouço batidas na porta do meu quarto e Darcy surge na brecha.

— Podemos conversar? — Ela olha para a pilha de livros na mesa.

— Pode ser depois? Eu realmente preciso estudar."

Em semana de prova, não converso com ninguém; fico completamente focada. Estudo mais que o normal nessas semanas.

— Então era por isso que você estava me ignorando — Ela balança a cabeça, sorrindo.

— Sim, esse era o motivo.

Nós temos um acordo em semana de prova: nunca atrapalhar a outra ou puxar assunto.

Nossas conversas e fofocas duram horas; não tem como durar só alguns minutos.

Mas, pensando bem, talvez fosse algo realmente importante – Isaac morando aqui é algo importante – e eu poderia ter tirado um tempinho para ouvir a Darcy.

Mas isso agora não importa! Preciso investigar o novo morador.

— E você? — Aponto para Isaac. — Não vai falar nada? — Ele me observa por um tempo, parece considerar se vale a pena falar algo.

— Quer que eu me apresente? — Só agora reparo em sua voz rouca e marcante.

— No mínimo, já que sou a única que não te conhece. — Cruzo os braços, esperando ele falar.

— Meu nome é Isaac Williams, tenho 25 anos. Passei quase toda a minha vida em Los Angeles e...

— O principal, Isaac — Darcy o repreende.

— Claro... Estou fugindo do meu pai. — Ele sorri.

Que maravilha!

•••