CAPÍTULO 7

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ISABELLA MILLER


Eu vou trancar a faculdade!

Será possivelmente a maior loucura da minha vida? Sim, mas eu já estava farta, e Isaac só me fez enxergar com mais clareza.

Ontem à noite foi bem tranquilo, jantei com o Isaac e a conversa fluiu muito bem. No entanto, minhas piadinhas e seu olhar rabugento ainda estavam bem vivos.

Não tocamos mais no assunto, mas todas as suas palavras anteriores ainda ecoavam e persistiam em minha mente. Mal consegui dormir, ponderando sobre o que exatamente deveria fazer. Poderia continuar cursando Direito ou simplesmente optar por fazer algo que realmente me agradasse. Bem, escolhi a segunda opção.

Não havia aula na parte da manhã e, ansiosa para resolver isso logo, saí de casa o mais cedo possível. O caminho até a universidade foi um turbilhão de emoções. Estava com medo, mas também determinada a não deixar nada me segurar.

Caminhei pelos corredores da universidade, sentindo o peso das minhas decisões sobre meus ombros. Cada passo parecia uma eternidade enquanto eu me aproximava da secretaria. O coração batia mais rápido, uma mistura de ansiedade e determinação. Ao encontrar a moça atrás do balcão, seus olhos se iluminaram com um sorriso caloroso, e eu não pude deixar de retribuir o gesto.

Naquele instante, enquanto trocávamos cumprimentos cordiais, uma sensação de certeza se apossou de mim. Era como se, finalmente, estivesse assumindo o controle da minha própria vida. Agora, com a decisão tomada, não havia mais volta.

*

O caminho para casa foi todo permeado por um sentimento de alívio. Finalmente, estava tomando uma decisão por vontade própria.

Vasculho minha bolsa, os dedos deslizando entre os objetos, em busca da chave perdida, enquanto os sons vindos do interior do apartamento capturam minha atenção: vozes animadas e risadas altas. Um misto de ansiedade e curiosidade se misturam.

Depois de encontrar a chave, insiro-a na fechadura e abro a porta, deparando-me com todos na cozinha, envolvidos em uma animada conversa. Dou meia-volta para fechar a porta atrás de mim.

Isaac estava mexendo o molho em uma panela, Darcy ocupada fatiando o queijo, enquanto Ben segurava uma taça de vinho em suas mãos.

—  Bella, ainda bem que você chegou, o Isaac vai fazer uma macarronada para a gente e... — Ela para de falar quando a interrompo.

— Eu tranquei minha faculdade! — Todos interrompem o que estavam fazendo e viram seus olhares na minha direção. O silêncio se instala na cozinha, preenchido apenas pelo som suave do molho borbulhando na panela e o corte rítmico do queijo pela faca de Darcy. O impacto das minhas palavras paira no ar, enquanto aguardo suas reações.

As reações começam a aparecer. Darcy, com os olhos arregalados, e Ben, com a boca aberta, expressam surpresa, enquanto Isaac mantém um sorrisinho no canto da boca.

— Eu não estava feliz. — Darcy vem ao meu encontro me abraçando forte. Ela sabia sobre tudo o que acontecia comigo.

— Eu sei, se isso te faz feliz, é isso que importa. — A voz de Darcy é suave e reconfortante, ecoando seu apoio inabalável às minhas escolhas.

— E seus pais? — A pergunta de Ben ecoa na cozinha, trazendo uma ponta de tensão ao ambiente.

Todos meus amigos próximos sabiam sobre meus pais. E achavam errado toda essa situação, mas estava tão cega.

Diferente da minha família, os pais da Darcy sempre a apoiaram quando decidiu cursar moda. Ela sempre me contou que esse era o sonho dela desde criança, e o apoio deles foi fundamental. O mesmo aconteceu com os pais de Ben. Quando os avós deram o restaurante como herança para ele, Ben sempre quis gerenciá-lo. Era o sonho dele manter o restaurante na família. Os pais de Ben foram essenciais para ele encontrar motivação.

— Eu não pensei sobre essa parte quando decidi fazer essa loucura. — Eu admito, reconhecendo uma falha que anteriormente ignorara deliberadamente, pois sabia que seria a mais difícil de enfrentar.

— Eles não tem que falar nada, a vida é dela. — Ben olha para Isaac com uma expressão de desconfiança.

— Certo, e como vai ser agora? Você vai voltar para San Francisco? — O olhar da minha amiga transparecia desespero.

Eu sabia o motivo do seu desespero. Meus pais eram os responsáveis por custear minha faculdade e a maior parte das despesas. Desde o início, eles deixaram claro que esperavam que eu me dedicasse integralmente aos estudos, sem distrações ou preocupações extras.

Agora, com uma nova perspectiva, percebo como eles me privavam de tantas experiências, mesmo estando longe.

Eu não iria voltar para San Francisco, não havia sequer uma possibilidade disso. Amo morar em San Diego; tem sido uma experiência incrível. A cidade é maravilhosa, com suas praias deslumbrantes e um clima perfeito. Além disso, as pessoas aqui são tão acolhedoras e amigáveis, sempre dispostas a ajudar. Estar aqui me trouxe uma sensação de pertencimento que nunca experimentei antes. Não consigo imaginar deixar tudo isso para trás.

— Por que não tenta encontrar um emprego? Assim, você consegue pagar suas despesas e seus pais não terão motivos para fazer você voltar para sua cidade. — Todos olham para Isaac simultaneamente. — O que foi? Só dei uma ideia.

— Sim, você é ótima, tem carisma, é educada, vai ser fácil achar um emprego. — Darcy olha para os homens em minha frente e vejo que eles concordam com a cabeça.

Certo! Preciso de um emprego o mais rápido possível.

•••

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