ISABELLA MILLER
Isaac tinha saído da cozinha há menos de 10 minutos e eu já estava agoniada. A cada 2 minutos, olhava pela pequena janelinha da porta da cozinha.Era incrível como os dois eram parecidos, com o mesmo sorriso angelical e até os mesmos gestos com as mãos. Será que é uma mania de família?
Isaac estava sorridente conversando com a irmã, o que me deixava maluca. Será que estão rindo de mim? Ele já contou a mentira que inventei? Ela deve estar me achando uma idiota.
Vou tentar não pensar dessa forma. Eu realmente não tive escolha. Ou eu dizia que Isaac era meu namorado, ou aquele babaca continuaria me incomodando.
E falando do babaca, ele ainda estava lá quando Isaac foi em direção à mesa da Lily. Antes disso, ele fez um gesto para ela esperar e foi direto até a mesa do idiota.
Isaac colocou a mão no ombro do sujeito e falou alguma coisa que o deixou assustado. Ainda disse mais algumas coisas e, em seguida, deu um sorriso simpático como se nada tivesse acontecido antes de ir ao encontro da irmã.
Eu não sei o que ele disse, mas sei que o idiota pediu a conta logo em seguida e saiu do restaurante o mais rápido possível.
O que será que Isaac falou para deixá-lo tão agitado e fazê-lo ir embora? Com toda certeza, vou perguntar mais tarde.
— O que você está olhando lá para fora? — Levei um susto com Antônio aparecendo atrás de mim.
— Que susto, Antônio! — Coloco a mão no peito, tentando regular a respiração.
— Se levou um susto é porque está aprontando. O que você tanto olha? — Ele vem ao meu lado, olhando para a janelinha.
— Nada de importante. Não deveria olhar suas panelas, Isaac não ficaria feliz em ver as coisas queimadas. — Ele aponta para a janelinha.
— Você estava olhando o Isaac sentado com a moça? É a namorada dele? — Arregalo os olhos no mesmo instante.
— Não! É a irmã dele, não consegue ver que os dois são idênticos? — Vou ao seu lado, apontando para os dois.
— Verdade, os dois têm a mesma fuça. — Solto uma risadinha. — Acho que é melhor você.
— Eu? Melhor em que?
— Sendo namorada do Isaac. — Meu sorriso desaparece instantaneamente.
— Que conversa fiada, Antônio. — Bato palmas. — Vamos lá! Você precisa dar uma olhada nessas panelas e eu tenho que voltar ao trabalho.
— Não tente mudar de assunto, menina. — Cantarolo enquanto saio da cozinha. Olho para o lado e vejo Ben no balcão, ele aponta discretamente para a mesa dos clientes que acabaram de chegar.
Aceno com a cabeça e vou até ele pegar um cardápio.
— Eu já tinha visto, bobão. — Ele mostra a língua e abaixa a cabeça para anotar algo em seu caderno.
Eu sei que Ben é meu chefe, mas ainda assim é meu amigo, e adoro brincar com ele durante o expediente.
*
Não consegui conversar com Isaac depois que Lily foi embora, por um único motivo: o restaurante simplesmente lotou de gente.
Parecia que as pessoas estavam saindo até mesmo dos bueiros, pois não havia explicação para tanta gente aparecer.
Não estou reclamando! Adoro uma boa gorjeta. E geralmente, quando há muitos clientes, eles acabam sendo mais generosos com as gorjetas, o que é ótimo.
Isaac saiu pela porta da cozinha enquanto eu estava ocupada passando pano no chão. Com uma mochila no seu braço direito, ele caminhou até a porta de entrada, onde me esperava.
Depois que Darcy começou a ficar mais na casa do Ben do que na nossa própria casa, ela pediu para Isaac me acompanhar, dizendo que tinha medo de algo acontecer comigo.
— Já estou terminando. — Ele acena com a cabeça.
Não demorou muito para concluir a limpeza. Peguei minha bolsa no armário e caminhei até a porta de entrada, onde Isaac já aguardava.
— Vamos? —Pergunto, ajeitando a bolsa no braço.
— Vamos. — Isaac respondeu, mas sua quietude era evidente, parecia diferente, mais silencioso do que o habitual.
Enquanto caminhávamos, minha mente estava um turbilhão de ansiedade. Eu precisava perguntar, ou então sentiria que ia explodir.
Fiquei a tarde toda esperando por um momento para conversar com ele, e parece que agora é o momento certo.
— O que sua irmã achou de toda a situação? — Ele me olha de relance.
— Acho que deveríamos conversar sobre esse assunto quando chegamos em casa. — Encaro ele rapidamente.
— Você está de brincadeira? Esperei a tarde toda só para conversar contigo. Estou quase tendo um colapso de ansiedade?
— Não exagera, Isabella. — Ele começa a caminhar mais rapidamente.
Ele está tentando fugir de mim?
— Não é exagero! É um assunto sério. Sua irmã acha que sou mentirosa ou não?
— Não exatamente.
Ela me acha uma mentirosa! Tenho certeza.
*
Isaac entrou no apartamento com uma pressa incomum. Durante todo o trajeto, ele permaneceu em silêncio, enquanto eu tagarelava ao seu lado, fazendo mil perguntas.
— Você não vai escapar dessa conversa. — Fechei a porta e observei enquanto ele tirava os sapatos e os colocava no sapateiro antes de se encaminhar para a cozinha.
— Eu não estou fugindo. — Jogo minha bolsa no sofá e vou até a cozinha.
—Claro que está. Nem consegue olhar para mim direito. — Sentei-me no banquinho, observando-o procurar algo na geladeira.
— Não estou. — Ele pega um pacote de lasanha congelada.
Ele finalmente para o que estava fazendo e olha na minha direção. Seu peito subia e descia de forma acelerada.
— Ainda estamos namorando. — Fiquei alguns segundos encarando o rosto dele antes de pular do banco.
— Como é?
— Eu não contei que era mentira.
— Como assim você não contou que era mentira? — Ele sorri.
— Só não contei.
•••
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Olhares Amargos
DragosteA vida de Isabella Miller é um autêntico turbilhão: cursa direito por influência dos pais e divide o apartamento com uma amiga. No entanto, sua rotina se torna ainda mais agitada quando se depara com um desconhecido no sofá de casa. Isaac Williams...