Olhares Amargos

CAPÍTULO 28

ISABELLA MILLER

Sinto meu rosto esquentar quando a porta da cabine se abre e Darcy e Ben aparecem no meu campo de visão, ambos com sorrisos travessos.

Não tinha sentido vergonha alguma enquanto estava com Isaac na cabine. Pelo contrário, depois dos beijos, me senti segura e feliz. Mas, agora, vendo Darcy e Ben me olhando daquele jeito, a vergonha começou a surgir.

Eu não sabia como esses beijos iriam me afetar depois, mas naquele momento, antes das portas abrirem, eu só conseguia pensar no que Isaac havia dito. Que ele estava viciado em mim, e isso tinha me acertado em cheio de todas as formas possíveis. O impacto das suas palavras fez meu estômago borbulhar, e meu coração acelerar tanto que pensei que teria um ataque cardíaco ali mesmo. Mas, com tudo isso acontecendo ao mesmo tempo, minha resposta foi outra. Sem saber como responder com palavras, simplesmente o beijei novamente. Esse beijo, mais intenso que os anteriores.

— Que bonito! Os pombinhos estavam quase se comendo dentro da cabine. — Às vezes eu tenho muita vontade de matar o Ben.

— Gosto quando você fica calado. — Isaac retruca e entrelaça sua mão com a minha, me guiando para fora da plataforma de saída da cabine.

Eu sabia que Ben não iria parar, até porque esse não era do feitio dele.

— Vocês sabiam que todo o parque viu vocês lá em cima? — Ele e Darcy fazem movimentos com as mãos como se fossem duas bocas se beijando.

Caminho até eles e dou um tapa nas mãos dos dois.

— Não é como se todo o restaurante não tivesse visto vocês dois se pegando no escritório. — Os dois param de rir no mesmo segundo. — Vocês acham que aquela cortina fina impede de ver vocês dois lá dentro? Tem crianças traumatizadas.

Isaac, que ainda estava segurando minha mão, começa a rir e balança a cabeça em concordância.

— Você está brincando! — Ben exclama, colocando a mão na cabeça em um gesto de desespero.

— Eu já tinha pedido para trocar aquela cortina! — Darcy dá vários tapas no braço de Ben, o que só aumenta a expressão envergonhada dele.

— Eu vou trocar essa cortina! — Darcy revira os olhos e acelera o passo em direção à saída. — Sabia que sua amiga é meio doidinha? — Ben comenta, rindo. — Ela me bateu como se não tivesse culpa também.

Ele começa a caminhar mais rápido para alcançar Darcy, que já estava bem à frente.

Darcy sempre foi uma peça. Ela e Ben adoram se provocar desse jeito; é uma brincadeira que os dois têm. Mas, no fundo, todos sabem que ela não fica realmente brava.

— Aquela cortina não dá para ver nada. — Isaac continua rindo ao meu lado.

Nunca imaginei que ia gostar tanto de ver alguém rindo, mas é um prazer especial ver Isaac sorrir assim.

— Eu sei, mas foi a única coisa que pensei para o Ben calar a boca. — Digo, rindo. Na verdade, não dava para ver nada lá dentro, apenas alguns vultos, nada além disso.

Ele sorri antes de se aproximar e deixar um selinho suave em meus lábios. Isso me pegou de surpresa total; eu não estava preparada para um gesto tão inesperado.

— Vamos? Os dois ainda vão ter que pagar nosso jantar. — Ele me pergunta, e eu fico em silêncio por alguns segundos, ainda atordoada pelo beijo.

Finalmente, balanço a cabeça em concordância, incapaz de encontrar palavras. A surpresa ainda me impede de dizer qualquer coisa.