CAPÍTULO 33

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ISAAC WILLIAMS

— Preciso de mais verduras, frescas de preferência. — Ben revira os olhos enquanto anota no bloco de anotações.

Eu e Antônio estamos listando tudo o que falta na cozinha para Ben ir comprar.

Antes que eu possa dizer a próxima coisa, Isabella entra na cozinha. Ela se aproxima da bancada, deixa a comanda e sorri para Ben e Antônio, mas nem sequer olha para mim. Em seguida, caminha até a porta e volta para o salão.

— Ela nem olhou na sua cara. — Antônio murmura baixinho.

Antônio já repetiu essa frase umas 50 vezes só hoje. Ele está adorando jogar isso na minha cara.

— Que merda você fez, Isaac? — Ben pergunta, e eu reviro os olhos, me virando para Antônio, que também está com os braços cruzados, me encarando com uma expressão nada amigável.

Levanto as mãos no ar, como se estivesse me rendendo.

— Meu Deus, eu não fiz nada. — Os dois estreitam os olhos em minha direção.

— Mas é claro que você fez, Isaac. A Isabella está te ignorando e fugindo de você. — Ele diz como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Quando ela teve aquele problema com os pais, ela ficou ignorando todo mundo, não só você. Então, tecnicamente, você fez algo de errado.

— Eu não me lembro de ter feito nada de errado. — Ben se aproxima e dá um tapa nas minhas costas.

— Então, há uma chance de você ter feito algo. — Termino de finalizar os pratos e os coloco na bancada ao lado, prontos para Isabella levar aos clientes da mesa 8.

Faz alguns dias desde que voltamos da casa do meu pai, e, desde então, algo mudou em Isabella. Não sei exatamente o que aconteceu, mas parece que ela está me evitando. Antes, estávamos sempre juntos, trocando risadas e confidências, mas agora, toda vez que tento me aproximar, ela se afasta, como se estivesse fugindo de algo. Ela inventa desculpas para não ficar perto de mim, dizendo que tem algo urgente para resolver ou que precisa ajudar no restaurante, mas fica claro que há algo mais por trás disso.

Antônio, com seu jeito observador, foi o primeiro a perceber. Ele tem um olhar afiado para os dramas alheios e não perdeu tempo em espalhar o que notou. Claro, agora todo mundo no restaurante já sabe que algo está errado entre nós dois. Antônio pode ser um bom amigo, mas é também o maior fofoqueiro que conheço. Mesmo sem querer, ele fez com que todos soubessem que Isabella está diferente, e isso só aumentou a minha ansiedade.

O que mais me angustia é que não faço ideia do motivo por trás desse comportamento dela. Isabella sempre foi tão transparente, e agora, ela se tornou um mistério para mim. Esse afastamento está me deixando inquieto, porque percebi o quanto me tornei dependente da presença dela. Cada momento em que ela me ignora, cada vez que inventa uma desculpa para não estar por perto, sinto como se uma parte de mim estivesse se quebrando. E, honestamente, isso está me matando aos poucos.

Eu conheço Isabella tão bem que é impossível para ela mentir sem que eu perceba. Suas expressões quando está tentando esconder a verdade são tão óbvias que se tornam fáceis de decifrar. É quase como se ela estivesse segurando um letreiro dizendo "estou mentindo". Cada gesto, cada desvio de olhar, confirma o que já sei: algo está errado.

Isabella acha mesmo que pode esconder algo de mim.

— Na casa do seu pai, as coisas correram bem? — Ben pergunta, olhando ao redor, atento para se certificar de que Isabella não apareça de surpresa.

— Sim, pelo menos eu acho que sim. A Isabella disse que foi ótimo passar o final de semana com eles e que se sentiu super bem. — Ben ergue as sobrancelhas, intrigado.

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