> Reino Valoria <
[Liam]
O clima que o jantar ficou é inexplicável, o único som foi o da cadeira caindo.
- QUAL É O SEU PROBLEMA THEO? - Simon levanta nervoso.
- Desculpe Simon, eu pensei...
- QUANTAS VEZES O PAPAI JÁ DISSE QUE VOCÊ NÃO TEM QUE PENSAR NADA SOBRE A VIDA DELE?
- Eu já pedi desculpas... - Ele diz sem graça.
Eu quero enfiar minha cara na tigela de purê. Olho pra Amara e vejo que ela também está constrangida.
- Com licença, eu também perdi o apetite. - Simon sai da mesa.
Olho disfarçadamente pro Theo e vejo que ele está muito sem graça, tenho até medo de falar alguma coisa e acabar estragando o que sobrou do jantar.
- Bom... Acho que já acabamos não é Liam!? - Amara pergunta de forma retórica.
- Ah claro. - Digo levantando. - Estava tudo uma delícia Theo, obrigado.
- Por nada. - Ele diz de cabeça baixa.
- Boa noite.
Saímos sem ouvir a resposta dele, estamos totalmente sem graça. Assim que saímos do salão, até o ar parece mais fresco.
- O que foi isso? - Amara coloca os dedos na testa.
- Eu tô sem reação.
- Você viu o jeito que o rei Cedric saiu?
- Sim, fiquei com pena, pelo visto ele ainda sofre com o luto.
- Com certeza.
- Será que eu devo ir velo? Talvez pra falar alguma coisa, tranquilizar?
- Ele não parece o tipo de pessoa que acata o que um garoto de vinte anos tem pra falar... - Ela debocha.
- Pode ser. - Dou risada. - Vamos dormir...
Um soldado que estava por ali nos guiou até o corredor que estávamos, eles são muito iguais, até eu me acostumar vai demorar. Desejo boa noite pra minha irmã e entro no meu quarto, pulo na cama e tento relaxar mas minha cabeça ainda pensa no Cedric, será que vou incomodá-lo? Acho melhor não me intrometer nesse assunto. Tento dormir mas o sono não vem, talvez eu deva ir caminhar um pouco, tomar um pouco de ar.
******
[Rei Cedric]
A noite envolve o castelo em um manto escuro, e eu me encontro incapaz de encontrar paz em meus aposentos. Os eventos do jantar ainda ecoam em minha mente, o peso da tensão ainda pesando em meus ombros.
Decido caminhar pelos jardins em busca de algum alívio, esperando encontrar consolo sob o brilho das estrelas. À medida que atravesso os caminhos serpenteantes, minha mente está repleta de pensamentos tumultuados, incapazes de encontrar descanso mesmo na calma da noite.
Me encontro no jardim onde algumas flores balançam com o vento. É lá que o vejo, o Príncipe Liam, encarando a escuridão da noite com uma expressão indecifrável.- Príncipe Liam? - Murmuro, minha voz carregada de surpresa e curiosidade. - O que faz aqui neste momento da noite?
Ele se vira para me encarar, seus olhos brilhando com uma determinação silenciosa.
- Eu poderia fazer a mesma pergunta ao senhor, Rei Cedric. - Responde ele, sua voz suave e calma contrastando com o tumulto dentro de mim.
Fico em silêncio, incapaz de desviar o olhar daqueles olhos gentis que me observam com uma compreensão silenciosa. Me sinto vulnerável sob seu olhar, como se ele pudesse ver através das camadas de armadura que eu usei para proteger meu coração.
- Eu queria... - Começa ele, hesitante por um momento antes de continuar. - Eu queria dizer que sinto muito pelo que aconteceu esta noite. Eu vi como o jantar acabou mal, e... eu só queria que soubesse que estou aqui se precisar de alguém para conversar.
Suas palavras ecoam em meus ouvidos, tocando uma corda dentro de mim que eu não sabia que existia. Sinto um nó se formar em minha garganta enquanto luto para conter a avalanche de emoções que ameaça me engolir.
- Obrigado, Príncipe Liam. - Murmuro, minha voz falhando ligeiramente. - Suas palavras significam muito.
- Ah que bom Cedric. Bom... Acho que vou voltar pro meu quarto. - Ele diz sorrindo.
- Já decorou os labirintos desse castelo? - Pergunto.
- Com certeza não, sempre peço pra algum soldado me ajudar. - Ele ri sem jeito.
- Eu posso levá-lo.
O QUE? Cedric você enlouqueceu? Eu não consegui segurar as palavras dentro de mim, foi mais forte do que eu.
- Ah se não for incomodar, não quero me perder e dormir no chão. - Ele ri e mostra a beleza que o sorriso dele tem.
- Então vamos.
Ele caminha do meu lado e isso parece estranho de uma forma que eu não sei descrever. Subimos as escadas e entramos no corredor onde fica os quartos, vamos até o último quarto e eu abro a porta.
- Está entregue!
Ele passa por mim e entra, olho pra ele que vira rapidamente me fazendo desviar o olhar.
- Obrigado Cedric, tenha uma boa noite. - O olhar dele é reconfortante.
- Desejo o mesmo. - Começo a fechar a porta mas paro e vejo Liam ali parado. - E obrigado pelas palavras.
Ele só sorri e eu fecho a porta. Ponho a mão na testa e sinto um calor forte engolindo meu corpo, eu preciso urgentemente me deitar.
******
Depois de passar uma longa noite pensando, já tomei minha decisão sobre o Theo, ele já me desrespeitou duas vezes e eu não posso tolerar esse tipo de comportamento. Já chamei Simon e Theo até a sala do trono e estou esperando eles terminarem de tomar café.
Quando a porta abre, eu penso que são meus filhos entrando mas eu vejo Liam entrando, ele me olha e fica desconcertado.- Ah... É... Desculpe Cedric. - Ele parece nervoso. - Pensei que aqui era o salão que Simon havia me dito.
Quando ele vai sair, Theo e Simon entram fazendo ele entrar novamente, noto que ele fica ainda mais desconcertado.
- Ei Liam, você também foi chamado. - Theo sorri.
- Ah não, eu entrei no lugar errado, já estava de saída. - Ele vai em direção a porta.
- Pode ficar Liam. - Simon diz. - Assim já levo você na sala de relíquias.
- Ah... Tudo bem...
- Pai, o que o senhor queria? - Theo pergunta.
- Bom, eu pensei muito antes de tomar essa decisão, ontem novamente você me desrespeitou Theo, novamente você se intrometeu na minha vida sem a minha permissão e eu não posso tolerar esse tipo de situação.
- Pai... - Theo tenta falar.
- Eu ainda não terminei, pensando nisso, decidi que você ficará fora dos treinamentos até segunda ordem.
- O QUE?
[CONTINUA]
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Além das Muralhas
RomanceNo reino distante de Elysium, o príncipe herdeiro vive trancado no castelo, sofrendo a rejeição de seu próprio pai por sua orientação sexual. Sua solidão é interrompida quando em uma viagem diplomática, o rei percebe sua dor e começa desafiar as bar...