[Liam]
Já consigo ver o reino de longe. Toda a angústia, o medo e a incerteza voltam como um soco no estômago. Encarar meu pai, voltar pra "prisão" vai ser horrível ainda mais depois de tudo que vivi.
O barco começa seus preparativos pra ser ancorado e meu coração também está sendo. Olho pro céu e ele está preto e cheio de estrelas. O navio para no porto e de longe já consigo ver meus pais junto com alguns soldados e as carruagens. Aperto os olhos pra não deixar as lágrimas caírem. A rampa é colocada e eu começo a descer, Amara vem logo atrás, mamãe corre um pouco e abraça a gente com muita força.- Ah que saudades de vocês meus amores. - Ela aperta ainda mais.
- Saudades mãe, tenho tanta coisa pra te contar. - Amara diz.
- Meu pequeno, parece que você cresceu também. - Ela passa a mão no meu rosto.
- Ah não não. - Digo sem graça.
Vejo meu pai se aproximando e abraçando Amara, como eu sei que ele não vai falar comigo, olho pra minha mãe e ela já entende o que eu quero dizer.
- Subam, vamos pra casa. - Minha mãe me guia até a carruagem.
Entramos na carruagem e eu não dou uma palavra, não tenho o que falar, não tenho o que contar...
Tempo depois, chegamos ao palácio, pensei que tinha me livrado desse inferno. Desço da carruagem e já sei que eu tenho que ir direto pro quarto.- Filho. - Sou chamado.
Olho pra trás e minha mãe está me olhando.
- Não vai jantar? - Minha mãe pergunta.
- Ah... Pode ser...
Eu não iria mas como minha mãe chamou então eu vou. Os soldados entram com as malas e nós vamos direto pra sala de jantar que está reformada. Sentamos e o começamos a servir.
- Me digam tudo. - Minha mãe mostra entusiasmo.
- Ah mãe eu estou tão feliz, lá é lindo... Foi tudo tão incrível. - Amara sorri. - Mãe, a senhora acredita que eu aprendi a costurar vestidos?
- O que? Ah Deuses, isso é incrível.
- Sim, até vestido de noiva eu aprendi a fazer. - Ela sorri.
- Que interessante filha. - Meu pai sorri levemente.
- E você Liam? O que fez de bom? Minha mãe pergunta.
- Nada demais mãe, fiquei só observando como tudo funcionava.
- Poxa não vai me dizer que você ficou o tempo todo dentro do quarto?
- Ah não, eu conheci bastante do reino.
- Conta pra eles Liam. - Amara me olha.
- Bom... É.... Eu participei das aulas do exército.
- O que? - Minha mãe arregala os olhos.
Olho pro lado e vejo o rosto do meu pai em completo estado de surpresa.
- Sim, aprendi muita coisa, usar espadas, espadas em cima de cavalos, imobilizações... Simon até disse que eu fui um ótimo aluno.
- Nossa filho, nem posso acreditar... - Minha mãe sorri.
- Bom... - Meu pai de ajeita na cadeira. - Agora que vocês estão de volta, tudo voltou como era antes.
Sinto que isso foi pra mim, é como se ele quisesse falar "Agora que você voltou, pode ir pro quarto"... Eu preciso tomar uma decisão.
- Pai, com todo respeito mas eu não vou ficar novamente trancado no quarto, eu preciso de liberdade, preciso conhecer mais a vida.
- O que? - Ele me olha.
- Isso mesmo que o senhor ouviu. - Levanto. - Chega de ficar trancado, chega de se um prisioneiro dentro da minha própria casa.
- Quem você está pensando que é? - Ele levanta aumentando o tom.
Minha mãe e minha irmã levantam e ficam nos olhando.
- Liam, príncipe do Reino Elysium! Apesar do senhor não gostar desse fato, vai ter que aceitar.
- VOCÊ NÃO CANSA DE ME ENVERGONHAR NÃO É? - Ele grita.
- ENVERGONHAR? EU SÓ NÃO AGUENTO MAIS SER PRISIONEIRO.
Meu pai vem até mim pega na gola da minha camisa.
- ESSE LUGAR ESTAVA EM PAZ ATÉ VOCÊ CHEGAR.
Eu tomo coragem e faço uma coisa que eu sei que vai ter consequências.
- ME SOLTA! - Empurro ele pra trás. - Ótimo, então vamos fazer assim. - Vou até o meio da sala.
- Filho, calma... - Minha mãe intervém.
- EU NÃO VOU ME ACALMAR! - Grito. - Eu vou embora, eu vou voltar pro reino Valoria e vocês nunca mais vão ouvir falar de mim.
- VOCÊ ESTÁ PENSANDO O QUE? - Meu pai grita.
- O senhor vai dizer o que agora? Que eu tenho que ficar aqui? Eu não vou viver de aparências, eu vou viver a minha vida mesmo que seja longe daqui!
Meu pai vem atrás de mim e antes que eu possa fazer qualquer coisa, ele me dá um tapa que me faz perder o equilíbrio.
- ALDRIC CHEGA! - Minha mãe pega meu pai e arrasta pra trás.
- Maninho. - Minha irmã me ajuda a recuperar o equilíbrio.
- Eu odeio você pai, se é que eu posso chamá-lo assim, do mesmo jeito que você tem nojo de mim, eu também tenho nojo de você.
- Liam... - Minha mãe arregala os olhos.
- É isso mesmo... Eu vou ir embora e eu não quero ninguém atrás de mim, esqueçam que eu existo.
Saio da sala e volto pro meu quarto, apesar de ser uma prisão, no momento eu só preciso sair de lá e esfriar a cabeça. Entro no quarto e vejo minhas malas em cima da cama, não vou desfazer, eu vou ir embora! Vou voltar pro Reino Valoria.
Vejo minha mãe abrindo a porta e vem até mim.- Laim o que foi isso? - Ela diz fechando a porta.
- Foi isso que a senhora viu... - Passo a mão no rosto.
- Você não pode ir embora.
- Eu posso e vou!
- Você vai pra onde?
- Reino Valoria, vou voltar lá e vou viver minha vida com o Cedr....
DROGA, paro de falar em tempo mas minha mãe me olha estranho.
- O que? - Minha mãe me olha.
- Falei errado mãe. - Tento desviar o assunto.
- Liam... - Ela me olha.
- Você está me escondendo algo?
Minha mãe sempre confiou em mim, sempre disse que eu podia contar com ela, não sei como ela vai reagir, mas eu prefiro contar logo, antes que Amara acabe deixando escapar.
- Mãe... Olha só. - Me aproximo. - Eu... Cedric me acolheu como um filho, me deu tudo.. e eu acabei olhando ele com outros olhos.
- Liam, do que você está falando?
- Mãe, eu estou apaixonado pelo Rei Cedric.
Quando falo isso, vejo os olhos da minha mãe arregalando, ela levanta e eu sinto meu corpo tremer.
[CONTINUA]
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Além das Muralhas
RomanceNo reino distante de Elysium, o príncipe herdeiro vive trancado no castelo, sofrendo a rejeição de seu próprio pai por sua orientação sexual. Sua solidão é interrompida quando em uma viagem diplomática, o rei percebe sua dor e começa desafiar as bar...