Capítulo 21

236 32 3
                                    

> Reino Valoria <

[Liam]

             A notícia de que o Theo foi tirado do treinamento também me pega de surpresa.

- O QUE? PAI O SENHOR NÃO...

- Eu posso e já fiz. - Ele diz firme. - Você ainda precisa aprender que algumas coisas não devem ser ditas.

- PAI, EU NÃO SOU CRIANÇA!

- MAS ESTÁ AGINDO COMO UMA! - Cedric levanta furioso. - E agora vocês já podem ir.

             Assim que ele fala isso, eu já sou o primeiro a sair, não quero que sobre pra mim. Theo sai batendo a porta e some no final do corredor me deixando sozinho com o Simon.

- Bom... - Ele diz sem graça. - Decisão do rei. - Ele levanta os ombros.

- Sim. - Sorrio levemente.

- Vamos pra sala de relíquias? Tenho algumas coisas pra te mostrar.

             Sigo Simon até uma sala grande e quando chegamos, a porta abre revelando um lugar maravilhoso, muitas coisas estão protegidas com uma espécie de gaiola.

- Olhe isso. - Ele pega uma bola de porcelana. - Isso meu pai ganhou de uma rainha de um reino que acabou se perdendo.

- Se perdendo? - Pergunto curioso.

- Sim, ouve uma tempestade que aumentou o nível do oceano, até hoje falam que foi horrível vendo o oceano tomando conta do lugar.

- Que horror e como está agora?

- Virou um reino perdido, com um tempo a água não abaixou mais e tudo que tinha naquele reino foi engolido pelo oceano.

- Pelos deuses...

- É triste, meu pai ganhou isso antes dessa tragédia, por isso ele guarda aqui.

             Simon põe a bola no lugar e me leva até uma espada que está pendurada na parede.

- Essa espada, diz a lenda que ela foi forjada pelos tataravô do Rei Cedric.

- Uau.

- Dizem que ele era um Rei sanguinário, que não tinha piedade de seus inimigos.

- Essa espada é linda. Os detalhes. Tudo é...

             Antes de terminar de falar, um soldado abre a porta.

- Príncipe Simon, preciso que o senhor me acompanhe até o posto de treinamento.

- O que houve?

- Alguns soldados estão se exaltando, precisam ser controlados.

- Está bem. Liam, eu já volto, continue olhando.

- Ah está bem.

             Ele sai e fecha a porta me deixando sozinho com as relíquias que apesar de serem lindas, não deixam de ser assustadoras.
             Enquanto me deparo com as relíquias antigas na sala escura e silenciosa, sinto-me transportado para uma era distante, onde lendas e histórias se entrelaçam em um emaranhado de mistérios e segredos. Cada item exposto conta uma história, cada artefato carrega o peso de séculos de história e tradição.
Estou absorto em meus pensamentos quando ouço passos se aproximando. Olho para cima e vejo o Rei Cedric entrar na sala, seu rosto iluminado pelo brilho suave da luz do salão. Uma onda de calor se espalha pelo meu peito ao vê-lo ali, sua presença imponente enchendo a sala com uma energia vibrante.

- Príncipe Liam. - Murmura ele, sua voz suave como uma brisa noturna. - Vejo que encontrou o caminho para a sala de relíquias.

            Assinto com a cabeça, meu coração batendo um pouco mais rápido em meu peito. - Sim, é um lugar fascinante. As histórias por trás desses objetos são verdadeiramente impressionantes.

           Ele se aproxima de mim, seus olhos escuros brilhando com curiosidade. - De fato. - Concorda ele. - Cada relíquia tem uma história única para contar, uma conexão com o passado que nunca devemos esquecer.

            Nossos olhares se encontram em meio à penumbra da sala, e por um momento, sinto-me perdido em seus olhos profundos e misteriosos. Há uma tensão no ar, uma eletricidade que parece fluir entre nós e eu me pergunto se ele também sente isso.
            Mas então, como se despertando de  um sonho, ele se afasta ligeiramente, desviando o olhar para as relíquias ao nosso redor. A tensão que pairava entre nós desaparece como uma brisa passageira, deixando-me confuso e incerto sobre o que exatamente aconteceu.

- Theo saiu bravo da sala. - Digo me aproximando.

- É assim que tem que ser Liam, decisões precisam ser tomadas.

- Eu entendo, não sei se conseguiria tomar decisões importantes. - Digo rindo.

- Mas é necessário. - Ele se aproxima mais ainda se mim me fazendo olhar pra cima pra encontrar os olhos dele. - A vida é feita de decisões que você precisa tomar, toda vez for tomar sua decisão, você precisa impor, precisa fazer com que as pessoas ouçam sua voz.

- Faz sentido, vou lembrar disso. - Sorrio pra ele.

            Apesar de quase não ver o sorriso dele,  a beleza dele não deixa de ser visível, a barba, o bigode, é tudo tão alinhado, tudo tão... Bonito.

- Príncipe Liam? Tá tudo bem?

- Ah claro. - Digo saindo do transe. - Tava pensando no que você falou.

            A porta da sala abre e eu vejo o Simon entrando.

- Prontinho, acho que podemos continuar. - Ele sorri.

- Eu agradeço Simon mas acho que ani vai ser necessário. - Sorrio pra ele. Seu pai... Digo, o rei Cedric já me mostrou as relíquias.

            Simon olha pro pai com uma cara de curioso.

- Entendi. - Ele sorri malicioso. - Pai, podemos conversar?

- Claro.

             Saímos todos da sala e eu vou pro jardim e vejo como a colheita é feita com cuidado, deve ser por isso que elas são tão saborosas. Acho que posso ver o treinamento dos soldados, eles ainda não me apresentaram mas eu acho que não vai ter nenhum problema se eu for. Vou em direção ao campo onde eles treinam e já consigo ouvi-los treinando. Cada movimento que eles fazem, são premeditados, eles realmente sabem o que estão fazendo. Vejo umas roupas de treinamento jogadas em uma mesa e vou até elas pra ver. Chego perto das roupas e pego um colete de metal que está na mesa. Até que eu ouço vozes atrás de mim, me viro e vejo que são três meninos com roupas de treinamento.

- Olha só, o convidado do rei. - Eles debocham.

- Oi. - Digo sem graça ao perceber o deboche.

- Ficamos sabendo que você é a frutinha do papai. - Um deles se aproxima de mim.

- Não estou entendendo. - Tento me afastar.

- De longe já consigo ver que você é frutinha.

            Em um momento inesperado sinto suas duas mãos vindo no meu peito e eu perco o equilíbrio, caio no chão e sinto meu braço ralar na areia grossa. Olho pra cima e vejo eles rindo da minha cara.

- Olhem só, você realmente é um fraco, não é digno.

[CONTINUA]

Além das Muralhas Onde histórias criam vida. Descubra agora