No dia seguinte meu pai abordou-me com o mesmo assunto.
- Para proteger a Bia eu aceito. Só me prometa que não vai fazer o mesmo com ela. Não vai vendê-la.
- Que é isso? Eu não estou a vender-te.
- Isso é o quê? Troca de favores? Quando eu preciso ir?
- Vamos fazer o casamento certinho.
Depois de amanhã eu vou lá acertar com ele. Tu só sairás daqui casada para não dar falatório a toda a aldeia.Fui concordando com tudo. Eu precisava de saber os passos dele para dar os meus.
Fiquei na dúvida se contava à minha mãe, pois tinha medo dela ir contar tudo a ele.
Optei por pedir ao Tomé para ele contar depois que nós fossemos embora. Eu sabia que num acto de raiva a minha mãe ia ser agredida logo que meu pai soubesse da fuga.
Era apenas mais uma sova e eu não podia fazer grande coisa.
No dia combinado meu pai saiu cedo para ir à fazenda Santarém negociar a filha.
Arranjei uma trouxa com algumas peças de roupa minhas e da Bia e cobertas por Tomé a quem demos um abraço apertado saímos de casa.
Numa rua de pouco movimento parou uma camioneta. Era o senhor Zacarias, vendedor ambulante. Subimos na camionete e ficámos escondidas pelas várias caixas de frutas.
Logo ouvimos o trabalhar da camionete que seguia caminho até à próxima aldeia.
Conseguimos ficar escondidas até passarmos umas 5 aldeias.
A camionete parou numa estrada deserta ladeada por um enorme milharal. Seu Zacarias saiu para satisfazer uma necessidade e eu achei por bem que deveríamos descer ali também.
Descemos do lado contrário do homem e entrámos milharal a dentro. Não tínhamos fome, pois tínhamos comido algumas frutas e roubado outras para nos prevenirmos.
Caminhámos pelo milho sem encontrar ninguém. Bia já demonstrava cansaço quando surgiu à nossa frente um pequeno carreiro.
Parámos um pouco para descansar. Estávamos com sede pois a nossa àgua tinha acabado.
Continuámos a seguir o carreiro que não tinha fim. Achámos estranho não avistar nenhum trabalhador mas continuámos. Ao fim de uma ou duas horas, a verdade é que não tinha noção, avistámos um casarão enorme.
O meu coração bateu descompassadamente por não saber o que ia encontrar.
Eu tinha medo de ser apanhada e devolvida ao meu pai. Por certo, o castigo seria grande.
Quando nos aproximámos da casa grande reparei numa senhora de meia idade com uma criança que não teria mais que 1 ano. Ela reparou em nós e foi logo agarrando a criança.
Levantei os braços e falei para ela não se assustar. Só precisava falar. Então ela mandou a gente chegar mais perto. Na outra esquina da casa vinha vindo um homem na nossa direcção.
- Boa tarde senhora. Desculpe invadir as suas terras. O meu nome é Juliette e esta é a minha irmã Beatriz.
- O que vocês fazem por aqui sózinhas? - A esta altura o homem já estava ao pé de nós.
- Nós somos da aldeia Nova. Eu Fugi com a minha irmã porque o meu pai me vendeu ao dono da fazenda Santarém.
- O Amadeu? Perguntou o homem.
- Sim. E se eu não aceitasse ele mandava a minha irmã. Por favor, deixem a gente ficar. Eu trabalho no que for preciso.
A princípio ficaram desconfiados, mas aceitaram ouvir toda a história das duas irmãs.
Lúcia e José eram os proprietários daquelas terras. Viviam ali desde sempre com alguns trabalhadores. Agora tinham o seu netinho para cuidar pois o seu filho trabalhava na cidade e a esposa dele havia falecido no parto.
Desde então, a criança vivia cuidada pelos avós, recebendo a visita do pai aos fins de semana.
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Espinhos no caminho
FanfictionPor cada espinho encontrado no caminho, encontrarás o dobro da forças para os arrancares.