CAP. XV

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Mais um final de semana.  Rodolffo chegou sózinho.  Bia correu quando viu o carro, mas ficou desapontada por não ver Tomé.

- Oh!  O meu irmão não veio?

- Não.   Hoje não veio.

Rodolffo percebeu as lágrimas a quererem cair e abraçou-a.

- Não fiques triste.  Daqui a dias já o vais ver.  Agora posso ganhar um beijo.

Bia deu-lhe um beijo no rosto e ajudou-o com a mala.

Era sábado.  Habitualmente ele chega sexta à noite, mas esta semana não tinha sido possível.

Juliette estava sózinha na cozinha a descascar umas frutas para as compotas.
Bia foi colocar a mala de Rodolffo no quarto e ele aproveitou para beijar Juliette.

- Tive tanta saudade, disse segurando-lhe no rosto.

- Eu também, respondeu ela timidamente.
Como está a minha mãe?

- Bem melhor.  Depois falamos sobre isso.

- Oi, filho!  Já chegaste?

- Olá, mãe.  Como está a senhora e o pai?

- Estamos bem.  O pai foi ver os morangos com o Mateus.

- Já vou lá ter com eles e deixar as mulheres da minha vida trabalhar.

Lúcia sorriu para ele e depois para Juliette.

- Aproveita e conversa com ele sobre as mulheres da tua vida, que ele anda angustiado.

- Porquê?

- Conversa com ele.  Ele que te diga o que me disse a mim.

- Está bem.  Vou lá procurá-los.

Beijou a mãe e a Ju e saiu.

- O que tem o senhor José, dona Lúcia?

- Bobagens filha.  Tem medo que o Rodolffo leve o Mateus se um dia se casar.

- Está muito apegado a ele.  É normal.  Por isso ele mudou comigo?

- Notaste?  Ele ouviu uma conversa nossa e começou a cogitar que se vocês casassem, iam levar o Mateus.

- Ele não gosta de mim?

- Não é isso, filha.  É só mesmo por causa do Mateus.

- Isso é decisão do Rodolffo.   Nem eu , nem ninguém tem o direito de decidir.

- Eu sei e ele também sabe, mas isto aqui é solitário e se o Mateus for embora vai ficar pior.

- Mas Rodolffo sempre vem no final de semana.

- Pois é.  Isso vai passar.   Como está tua mãe?  Ele disse?

- Disse que está bem.  Não adiantou muito.

Rodolffo encontrou o pai e filho junto aos morangos.  Mateus tinha a boca e a blusa toda lambusada de vermelho.

- Espero que tenha lavado os morangos.
Como está, pai?
Vem cá ao papai.  Dá um morango.

Mateus colocou na boca de Rodolffo o morango já mordido que tinha na mão.

- Ele adora comer do pé.  Eu lavo sempre.  Trago esta garrafa sempre comigo.
Vou apanhar alguns para o almoço.

- A mãe disse que querias falar comigo.

- Deixa para mais logo.   Coisas da minha cabeça.  Nada importante.

Olha estes morangos se não são uma maravilha.

- A mãe e a Ju, já fizeram compota deles?

- Ainda não.   Estes são a primeira produção.

-  Vou pedir para fazerem.  Quero levar um frasco para o meu café da manhã.

- Então vou apanhar mais e levo já.

Coloquei o Mateus no chão e ajudei o meu pai a apanhar os morangos.

Quando terminámos olhei para o meu filho e estava coberto de lama.

Ali perto o meu pai tinha regado uns pés de alface e o terreno estava enlameado.  Dos pés à cabeça não havia lugar que escapasse.

- Exactamente como tu na idade dele.  Sempre que vinhas comigo,  eu ouvia um sermão da tua mãe.   Prepara-te para o que aí vem.

- Não tem importância.   Por ter vivido assim é que dou valor a esta terra.  O meu sonho era poder estar aqui todos os dias.

- Julguei que gostavas mais da cidade.

- Gosto da cidade, pai.  É lá que tenho o meu ganha pão, mas não se compara a isto.  Quero que o Mateus tenha o que eu tive.

- Obrigado filho.  Não sabes o bem que me faz ouvir-te falar assim.
Agora vamos para elas terem tempo de fazer a tua compota e te darem uma bronca.

- Mas o Mateus estava ao teu cuidado!

- Só até tu chegares.

- És muito engraçado.  A passar a responsabilidade.   Está bem.  Eu assumo a culpa.




Espinhos no caminhoOnde histórias criam vida. Descubra agora