CAP. XIII

82 11 10
                                    

O final de semana acabou.  Rodolffo e Juliette viveram de escapadelas para cantos onde não fossem vistos.

Ninguém percebeu excepto Lúcia que não é trouxa nem nada.

Na hora da despedida, Bia não queria largar o Tomé.  

Juliette chamou o irmão ao quarto dela.

- Toma.  Vai ajudar-te nas tuas despesas e com a mãe. Tenho tanta pena de ti, mano.  Ainda és tão novo para essa responsabilidade.

- Não é preciso, Ju.  Eu tenho algum dinheiro e na casa de Rodolffo eu não tenho tanta despesa.

- Mas eu fico mais descansada se aceitares.  Logo as coisas se ajeitam e a nossa vida vai mudar.
Logo que possamos eu e Bia vamos ver vocês.

- Obrigada, mana.  Amo-te muito.

- E eu a ti, meu menino homem.

Saíram abraçados quando já todos se tinham despedido.

Rodolffo deu tchau para todo o mundo, deu mais um beijo em Mateus e foi dar um beijo na face de Juliette.

- Sonha comigo, segredou ele.

- Vão com Deus, disse ela quando o carro deu partida.

Bia abraçou a irmã e estava chorosa.

- Força pequena.  Logo estaremos todos juntos.  Conforta-me saber que o Mateus está bem e a nossa mãe cuidada.

Todos entraram em casa.  Bia pegou no pequeno e foi brincar com ele.

José tinha tarefas a cumprir e Ju e Lúcia tinham uma encomenda de licor de canela para terminar.

Criou-se um silêncio entre as duas.

Falavam entre elas, apenas por monossílabos.

Juliette estava a ficar angustiada.  Nunca tinha sentido nenhuma tensão com Lúcia como agora.  Resolveu perguntar.

- Dona Lúcia,  está tudo bem?

- Sim.  Porquê não haveria de estar.

- Não sei.  Não está igual comigo.  Não conversa mais.

- É que é tudo novo para mim.

- O quê?

- Ai, Ju!  Somos duas mulheres.  Vou perguntar mesmo.  Tu e o meu filho, eu vi vocês fugindo.

Juliette baixou os olhos envergonhada.

- Olha para mim.  Gostas dele?

- Gosto muito.  Estou confusa, mas eu sei que gosto.

- Ele também me disse que gosta de ti.

- Ele disse, é?

- Eu nunca namorei.  Meu pai afastava todos os meus amigos homens.

- Para no fim te oferecer a um homem de 60 anos.

- Foi. 
A senhora não fica brava de a gente se gostar?

- Eu te quero como uma filha.  Estou muito feliz do meu filho estar a tentar seguir em frente.  Foram muitos anos a viver na lembrança da esposa. 

- E sobre a nossa idade, isso não é problema?

- Nenhum.  Eu mesma tenho 10 anos de diferença do Zé.

- Obrigada por ser minha amiga.

- Eu ficarei feliz se um dia puder ser tua sogra.  Vem cá dar-me um abraço.

Juliette e Lúcia abraçaram-se e o ambiente ficou mais leve.  Foram terminar as encomendas conversando mais sobre o assunto.

Juliette era curiosa sobre certas questões e Lúcia não tinha pudor em falar sobre tudo.  Era certamente uma conversa de mãe e filha.

José ouviu a primeira parte da conversa das duas.  Não tinha por hábito ouvir atrás das portas, mas ia beber àgua quando ouviu sobre Rodolffo e Juliette.

Ficou a escutar e já nem quis a àgua.  Saiu de casa em direcção à fazenda com as palavras delas na mente.

Rodolffo sempre confidenciou ao pai que não voltaria a casar.
Como é que agora se ia envolver com esta moça?  Será que é um plano dela para o caçar? Viu nele uma oportunidade de se dar bem?
E o Mateus?

José sempre foi apaixonado pelo neto e ficou muito feliz quando Rodolffo tomou a decisão de o deixar com eles.

Agora, uma dúvida pairava na cabeça dele.  Se Rodolffo casar, leva a criança.  Ah não! Isso eu não deixo.
O meu menino não vai sair daqui.

O pau que trazia nas mãos foi açoitando os pés de milho, descarregando a raiva que estava sentindo.

Espinhos no caminhoOnde histórias criam vida. Descubra agora