CAP. VII

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Enquanto isso na aldeia nova.

Tomé tinha acabado de regressar de mais um dia de trabalho.  Seu pai nunca mais apareceu bêbado mas também não se preocupava em arranjar serviço.  Hoje não estava em casa.

Sua mãe mantinha-se num estado de apatia total.  As poucas palavras que saíam da sua boca eram arrancadas à força por Tomé.

Tomé tinha acabado de sair do banho.  Vestiu uns shorts e estava a secar o cabelo quando ouviu vozes vindas da cozinha.

- Onde está esse bastardo? E hoje que eu acabo com a raça dele.

Vou em direcção à cozinha e vejo meu pai a cambalear completamente alcoolizado.   Estava empunhando uma pistola que me apontou assim que me viu.

- Agora vais dizer-me novamente aqueles desaforos do outro dia.  Não és tu o valentão?  O que põe o pai na rua?  Vá, desafia-me agora?

- Largue essa arma.  Você não está em si, ainda se magoa.  Não pense que eu tenho medo de si só porque está armado.
Disse e digo.  Fora desta casa!!!

António apontou a arma ao filho e um disparo foi ouvido.

Tomé ficou aturdido pois a bala passou rente ao seu ouvido.

Quando se deu conta da situação,  o pai jazia prostrado no chão e uma pequena poça de sangue se formava junto à sua cabeça.

Tomé olhou para baixo e para cima.  Sua mãe estava com o olhar esbugalhado.   Na mão tinha um ferro com o qual tinha atingido o marido na cabeça.

Tomé amparou-a  retirou o ferro das mãos dela e levou-a para outro cómodo.   Voltou para verificar os sinais vitais do pai e constatou que estava morto.  Saiu para a rua e pediu para um vizinho chamar as autoridades.

Ambos tiveram que prestar declarações.   Tomé contou o sucedido, mas da mãe apenas ouviram; "ele queria matar o meu filho"  para responder à pergunta se foi ela que bateu nele.

Os dias seguintes foram muito complicados para Tomé.   Os vizinhos testemunharam a favor deles.  Todos conheciam a história da família incluindo o porquê da fuga das meninas.

Depois do funeral e de tomar conhecimento de que não teriam que responder judicialmente,  Tomé tomou a decisão de deixar a aldeia e partir com sua mãe.

Ele precisava correr atrás de seu sonho e de ajuda médica para a mãe.

Assim, uma semana depois apanharam o autocarro e seguiram para a grande cidade, onde teriam novas oportunidades.

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Era mais um final de semana.  Rodolffo brincava  com Bia e Mateus.

Na cozinha, Juliette e Lúcia preparavam o almoço.

- Juliette,  faz dias que eu te acho esquisita.  Estás doente?

- Não,  mas estou angustiada.  Queria ter notícias de casa.  Sinto que alguma coisa não está bem.

Rodolffo entrou naquele momento para beber àgua e ficou a ouvir a conversa das duas.

- Gostavas de ir lá?

- Não.  Só queria saber do Mateus e da minha mãe.  O Mateus é tão novinho e ficou com o fardo do sr. António e da dona Maria da Luz.

- Os teus pais?

- Sim.

- Eles não quiseram vir com vocês?

- O Mateus queria, mas a minha mãe sempre escolheu o lado do marido.  Nunca vou entender porquê.

- Dependência emocional, Juliette  - disse Rodolffo entrando na conversa.

- Não cabe na minha cabeça uma coisa dessas.

- É mais comum do que pensas. 

Rodolffo traga o Mateus para almoçar, por favor, pediu Juliette.

- Eu acho que alguma coisa está a mudar no Rodolffo,  disse Lúcia assim que ele saiu.

- Porquê?  Ele não é sempre assim?

- Não.   Anda mais alegre.  Até com o filho ele está diferente.  Antigamente ficava triste quando brincava com a criança e agora não. 

- O Mateus deixa qualquer um para cima.  É uma criança adorável.

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Espinhos no caminhoOnde histórias criam vida. Descubra agora