CAP. IX

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Tomé entrou no gabinete de Rodolffo bastante apreensivo.

- Sente-se, Tomé. Vejo que está bastante nervoso.

- Muito, doutor.   Por agora a minha mãe é tudo o que tenho.

- Vamos fazer o seguinte:  já terminei  os pacientes da manhã.   Vamos descer e eu convido-o para almoçar.  Conversamos durante o almoço.

- Não quero incomodar.

- Não incomoda nada, vamos?

Rodolffo instruiu a enfermeira sobre a hipótese de se atrasar após o almoco.

Entraram no restaurante e escolheram os pratos.

- Agora, Tomé.  Conte-me a história da sua mãe. 

Tomé contou desde que ele se lembrava.  Das agressões do pai, da fuga das irmãs,  da morte do pai.  Tomé abriu o coração para Rodolffo.

- E sonhos?  Quais os seus sonhos?

- Primeiro curar a minha mãe,  segundo encontrar as minhas irmãs e depois trabalhar e estudar.

- Por essa ordem?

- De preferência, sim.

- E se a sequência for alterada?

- Não entendi, doutor.

- Trate-me por Rodolffo apenas.  Estou aqui apenas como uma pessoa que quer ajudar.
Imaginemos que primeiro encontra as suas irmãs.

- Ia ficar contente na mesma.

- Eu sei onde elas estão.

- Sério? Onde?  Como elas estão, Rodolffo?

- Calma.  Eu respondo a todas essas perguntas com calma.   Elas estão bem.  Um pouco longe daqui.

- Diga-me onde que eu vou lá.

Rodolffo contou pormenorizadamente tudo a Tomé que não conteve as  lágrimas.

- Eu pedi tanto que elas encontrassem gente boa.  Graças a Deus o meu pedido foi atendido.  Eu posso ir lá, Rodolffo?

- Vamos na sexta à noite.  Vamos primeiro ver o que fazer com a sua mãe.

Conversaram por duas horas e Rodolffo teve que regressar à clínica.

- Passa por cá amanhã no final das consultas às 19 horas.  Traz as tuas coisas e da tua mãe.   Vais ficar na minha casa até resolveres a tua vida.

Tomé deu um abraço a Rodolffo.   Estava comovido.  Era o segundo dia na cidade grande e já tinha passado por emoções jamais vividas.

Regressou à hospedaria e nessa noite dormiu serenamente como já não fazia há anos.

Enquanto isso Lúcia discutia com Juliette a melhor maneira de Bia regressar à escola.

- Teria que ir para a cidade, disse Juliette.

- Isso é verdade.  Também podemos ver um colégio onde ela possa ficar e vir aqui nas férias.

- E ficar longe de mim?  Não sei se é a melhor solução.

- E tu Juliette.   Não pensas  estudar mais?

- Estou contente com o nosso negócio.  As compotas são um sucesso e os licores também.   Nem todos podem ser doutores e eu sou feliz aqui.

- Mas aqui nunca vais arranjar marido.  Devias conviver com jovens da tua idade.

- Eu não estou à procura de marido.  O que a minha mãe passou fez-me não querer casar nunca.

- Isso é porque ainda não encontraste o amor da tua vida.

- Talvez seja isso, respondeu ela, mas por enquanto eu quero ajudar os meus irmãos.  O salário que a Lúcia me paga actualmente eu estou a juntar para eles.

- Tu mereces.  Não era justo trabalhares tanto e não seres remunerada. A loja de compotas vai muito bem e eu estou satisfeita.

- Eu também,  Lúcia.   Sou grata por tudo o que tenho aqui.

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