Tomé entrou no gabinete de Rodolffo bastante apreensivo.
- Sente-se, Tomé. Vejo que está bastante nervoso.
- Muito, doutor. Por agora a minha mãe é tudo o que tenho.
- Vamos fazer o seguinte: já terminei os pacientes da manhã. Vamos descer e eu convido-o para almoçar. Conversamos durante o almoço.
- Não quero incomodar.
- Não incomoda nada, vamos?
Rodolffo instruiu a enfermeira sobre a hipótese de se atrasar após o almoco.
Entraram no restaurante e escolheram os pratos.
- Agora, Tomé. Conte-me a história da sua mãe.
Tomé contou desde que ele se lembrava. Das agressões do pai, da fuga das irmãs, da morte do pai. Tomé abriu o coração para Rodolffo.
- E sonhos? Quais os seus sonhos?
- Primeiro curar a minha mãe, segundo encontrar as minhas irmãs e depois trabalhar e estudar.
- Por essa ordem?
- De preferência, sim.
- E se a sequência for alterada?
- Não entendi, doutor.
- Trate-me por Rodolffo apenas. Estou aqui apenas como uma pessoa que quer ajudar.
Imaginemos que primeiro encontra as suas irmãs.- Ia ficar contente na mesma.
- Eu sei onde elas estão.
- Sério? Onde? Como elas estão, Rodolffo?
- Calma. Eu respondo a todas essas perguntas com calma. Elas estão bem. Um pouco longe daqui.
- Diga-me onde que eu vou lá.
Rodolffo contou pormenorizadamente tudo a Tomé que não conteve as lágrimas.
- Eu pedi tanto que elas encontrassem gente boa. Graças a Deus o meu pedido foi atendido. Eu posso ir lá, Rodolffo?
- Vamos na sexta à noite. Vamos primeiro ver o que fazer com a sua mãe.
Conversaram por duas horas e Rodolffo teve que regressar à clínica.
- Passa por cá amanhã no final das consultas às 19 horas. Traz as tuas coisas e da tua mãe. Vais ficar na minha casa até resolveres a tua vida.
Tomé deu um abraço a Rodolffo. Estava comovido. Era o segundo dia na cidade grande e já tinha passado por emoções jamais vividas.
Regressou à hospedaria e nessa noite dormiu serenamente como já não fazia há anos.
Enquanto isso Lúcia discutia com Juliette a melhor maneira de Bia regressar à escola.
- Teria que ir para a cidade, disse Juliette.
- Isso é verdade. Também podemos ver um colégio onde ela possa ficar e vir aqui nas férias.
- E ficar longe de mim? Não sei se é a melhor solução.
- E tu Juliette. Não pensas estudar mais?
- Estou contente com o nosso negócio. As compotas são um sucesso e os licores também. Nem todos podem ser doutores e eu sou feliz aqui.
- Mas aqui nunca vais arranjar marido. Devias conviver com jovens da tua idade.
- Eu não estou à procura de marido. O que a minha mãe passou fez-me não querer casar nunca.
- Isso é porque ainda não encontraste o amor da tua vida.
- Talvez seja isso, respondeu ela, mas por enquanto eu quero ajudar os meus irmãos. O salário que a Lúcia me paga actualmente eu estou a juntar para eles.
- Tu mereces. Não era justo trabalhares tanto e não seres remunerada. A loja de compotas vai muito bem e eu estou satisfeita.
- Eu também, Lúcia. Sou grata por tudo o que tenho aqui.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Espinhos no caminho
FanficPor cada espinho encontrado no caminho, encontrarás o dobro da forças para os arrancares.