CAP. XII

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Sentámo-nos os quatro na àrea externa da casa.

- Então.   Eu já conversei com o Tomé.   Eu sei que vocês devem estar ansiosas para ver a vossa mãe, mas o meu conselho é que não vão por agora.

- Porquê? Perguntou Juliette.

- A mãe não está bem há muito tempo.  Já não estava bem quando vocês fugiram e depois piorou.
Fala quase nada.  Vive no mundinho dela.
A maior reacção que teve foi quando  bateu no pai.

- Uns dias ela está lúcida, mas na maioria não está, disse Rodolffo.

- Foi por nós fugirmos?

- Não Juliette.   Ela já não estava bem.  Lembraste que ela apanhava e não reagia?  Depois continuou.

- E quando podemos ir, Rodolffo?

- Vamos ver durante esta semana como é que ela reage ao tratamento.  Se estiver bem, vocês vão na próxima semana.  Pode ser?

- Pode.

- Tomé,  tu vais embora? Perguntou, Bia.

- Vou.  Preciso de encontrar um trabalho.  Quando eu puder pagar um apartamento,  vais comigo para regressares à escola.

- Anda mano.  Vamos dar uma volta.

Juliette e Rodolffo ficaram sózinhos.

- Rodolffo, eu tenho o salário que a tua mãe me paga.  Ajuda o meu irmão a conseguir um emprego e depois eu pago o aluguer do apartamento para ele.  Eu quero ver os dois a estudar o mais rapidamente possível.

- E tu, Juliette? Não queres voltar a estudar?

- Por agora não sinto vontade.  A minha prioridade são eles.

- E quando isso acontecer vais embora com eles?

- Só se eles precisarem muito de mim.  Ou se a minha mãe ainda precisar.  Nunca serei ingrata com os teus pais.

- Também tens que pensar em ti.

- Eu estou bem assim.  Tenho casa, comida, uma família que me trata bem.

- E a mim.

- Tu és parte da família.

- E se quiser ser algo mais?

Juliette baixou os olhos.  Rodolffo estava sentado na sua frente.  Puxou a cadeira mais para ela e segurou-lhe nas mãos.   Ela olhou-o nos olhos e apertou as mãos.

- Não digas isso.

- Porque não?  Não gostas de mim?  É por eu ser mais velho?  Ou por já ter um filho?

- Que conversa é essa?  Desde quando eu disse que essas coisas me interessam?

- Então?  Ainda não percebeste que eu gosto muito de ti?

- É por causa dos teus pais.  Eles vão achar que eu me quero aproveitar.

- O que eu mais queria agora era que tu te aproveitasses de mim.

- Não digas isso.  Não estou habituada a essas falas.

- Está bem, desculpa, mas quero saber se gostas de mim como eu gosto de ti.

- Gosto muito.

Rodolffo aproximou-se mais, olhou em volta e colou os lábios nos dela.

- Anda, vamos caminhar um pouco.

Foram os dois no sentido contrário de Tomé e Bia e quando já estavam bem distantes Rodolffo rodeou a cintura dela e beijou-a com paixão.

- E se os teus pais descobrem?  Não sei como reagir.

- A minha mãe já sabe dos meus sentimentos por ti.  Reage naturalmente.  Eles gostam de ti.

- Sério.  Que vergonha.

- Vergonha porque?  Por gostarmos um do outro?

- Sempre pensei que podias ter uma namorada lá na cidade.

- Juro que nunca tive ninguém depois da mãe do Mateus.

- Gostavas muito dela?

- Amei-a muito.  Será sempre uma boa recordação.

- E tens o Mateus para te lembrares dela.

- Não vais ter ciúmes duma recordação,  pois não?

- Não.   Estamos apenas a conversar.

- Vem cá.   Tira da cabeça qualquer coisa que te perturbe.  Se eu escolher estar contigo,  eu vou estar a 100%.

- Está tudo bem, disse Juliette segurando-lhe no rosto.

Rodolffo beijou-a novamente antes de retornarem a casa.

Espinhos no caminhoOnde histórias criam vida. Descubra agora