Chegámos à clínica. Rodolffo estava com um paciente e então tivemos que esperar um pouco.
Eu suava das mãos e Bia não parava quieta.
Rodolffo pediu à enfermeira que levasse a minha mãe para uma sala sózinha. Tomé foi com ela pois minha mãe já estava acostumada a vê-lo.
Quando se livrou do paciente, Rodolffo veio buscar-nos e deu-me um beijo e também à Bia.
- Tentem não chorar ao pé dela. Deixem ela entender que vocês estão bem.
Pararam em frente à porta e ouviram Tomé a conversar com ela.
- Está bem, mãe?
- Estou filho. Estou bem.
- Tenho uma surpresa para si.
- O quê? Hoje sonhei com as manas.
- E como elas estavam?
- Elas correram para mim e depois eu acordei.
- Feche os olhos. Vou trazer a surpresa.
Tomé chamou-as depois dela fechar os olhos. Colocou as duas sentadas de frente dela.
- Pode abrir os olhos. Veja.
Maria da Luz abriu os olhos e instintivamente esfregou-os com as mãos. Abriu novamente quando as duas a abraçaram e depois começou a chorar copiosamente.
Juliette olhou para Rodolffo e ele disse para a deixar chorar o quanto quisesse.
- Estamos bem, mãe. Voltámos para ti.
Ela chorava, fazia festinhas na cara ora da Juliette ora da Bia, mas não dizia nada.
Aos poucos foi parando o choro. Eu sonhei, eu sonhei.
- Foi real o seu sonho, mãe. Nós estamos aqui.
- Ele não vos fez mal, eu não deixei ele fazer-vos mal.
Estava a referir-se ao pai que a ameaçava sempre com elas.- Não, mãe. Ninguém nos fez mal.
- Juliette, perdoa a mãe. Eu fui fraca.
- Não foste nada. Tu foste uma guerreira. Nós amamos-te muito.
Ele deu um beijo em cada filha e chamou Tomé beijando-o também.
Rodolffo e a terapeuta estavam satisfeitos com o que viam.
- Estamos no caminho certo, doutor.
- Acredito que sim. Vamos deixá-los um pouco a sós.
- Juliette, se precisarem, estou no meu gabinete.
- Obrigada.
Passadas as primeiras emoções os três tentavam interagir com a mãe no ritmo dela. Ela não falava assim tanto. Tocava no rosto das duas, temendo que não fosse real.
- Juliette, tu já estás crescida. O banco. A conta. É tua. Eu fiz isso sem ele saber.
- O quê mãe? Não entendo.
- O banco. É teu.
- Está bem, mãe. Depois vemos isso.
Tomé, eu acho que ela está cansada.Tomé foi chamar a terapeuta que trouxe remédio para ela dormir um pouco.
- Ela agora vai dormir. Despeçam-se dela.
- Mãe, voltamos amanhã, está bem.
- Sim. Amanhã.
Deram um beijo nela e saíram. Já fora da sala Juliette não aguentou o choro.
Tomé abraçou-as e levou-as até Rodolffo.
Rodolffo abraçou Juliette. Tomé levou Bia até à rua e deixou-os sózinhos.
- Não te deixes abater. Ela hoje foi uma surpresa para nós. Nunca havia falado tanto.
- Rodolffo, ela falou no banco, que é meu porque já estou crescida, não entendi nada.
- Banco? Será banco, edifício? Ju, será que ela quis dizer que tem dinheiro no banco?
- Não, acho que não. O meu pai torrou tudo.
- Será? Sabes o nome do banco da tua aldeia?
- Sei. É o mesmo daquele ali em frente.
- Agora já fechou, mas amanhã vou lá contigo. Quem sabe a tua mãe tenha uma surpresa para ti.
- É pouco provável, mas...
- Olha! Vou ver a minha agenda de amanhã e depois. Quero passar um tempo contigo. Vou marcar um restaurante para jantarmos amanhã. Só nós dois, pode ser?
- Sim.
- Agora põe um sorriso lindo, daqueles que eu gosto e dá-me um beijo gostoso.
Juliette não se fez rogada e beijou-o. Entretanto ouviram batidas na porta.
- Entre disse Rodolffo sem se separar de Juliette.
Desculpe doutor. Julgava que estava sózinho.
Era a enfermeira que vinha comunicar que a doente já estava a descansar e medicada.
- Obrigado. Amélia, tente remarcar as minhas consultas de amanhã e depois. Avise-se se não conseguir remarcar alguma.
- Sim, Doutor. Vou começar agora.
Amélia saiu. Juliette não comentou nada mas não foi com a cara dela.
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Espinhos no caminho
FanfictionPor cada espinho encontrado no caminho, encontrarás o dobro da forças para os arrancares.