XXVII

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A minha conversa com Lúcia foi tranquila. Desde o início do nosso namoro ela sabia que um dia eu iria viver com Rodolffo. Era só questão de tempo.

Deu-me total liberdade para eu decidir o que fazer. Ela aceitou o negócio das compotas mais para eu me sentir útil e também para evitar o desperdício.

Combinei que continuariamos a vir aos fins de semana a faríamos as compotas necessárias. As frutas são sazonais e mesmo podendo fazer compotas o ano todo, tem alturas em que a produção diminui.

Dois anos depois.

Vivo com Rodolffo desde que vim da fazenda.  Ele optou por deixar o Mateus com os avós pelo menos até começar a frequentar a escola.

No apartamento de baixo vivem minha mãe, o Tomé e a Bia.
Eles vão muito bem na escola apesar dos vários anos parados.

Bia ainda não sabe o que vai ser, mas Tomé está convicto de que vai ser piloto aviador.   E se ele diz, ele vai ser.

A minha mãe ainda faz terapia, mas está bastante melhor.  Arrepende-se de ter sido tão omissa em relação a muitos assuntos e de não ter enfrentado o meu pai.

Sobre o dinheiro ela apenas explicou que no dia em que resolveu tudo só tinha o meu documento com ela e que foi sugestão do gerente bancário.

Quanto à parte dela, faz questão de arcar com todas as despesas incluindo os estudos dos filhos e ainda queria dar uma parte a mim.  Diz que eu fico prejudicada em relação aos irmãos.

Claro que não aceitei.  O que tenho chega para o meu investimento.

Hoje é a inauguração da minha fábrica.

As frutas e demais produtos para laboração  vêem da fazenda dos meus sogros e outras.
Há pelo menos dois meses que estamos a confeccionar compotas para a abertura da loja.

Daqui sairam também as compotas para a loja da aldeia que Lúcia quis manter.  Ela vai dedicar-se apenas ao Mateus como dantes.

Em frente à loja estamos eu, os quatro funcionários,  Rodolffo,  minha mãe e meus irmãos.

- Cortei a fita presa à porta e entrámos.  Lá dentro tínhamos bolo e champanhe.  Fizemos um brinde e depois de comer bolo, mandámos a família embora e fomos abrir a porta.

Os primeiros transeuntes logo pararam e espreitaram.   Uns entravam, outros não.

Para inauguração tínhamos um kit de 2 compotas doces com oferta de uma de pimenta para carnes.

Havia uma pequena secção de provas e ainda uma parede de vidro onde podiam espreitar a confecção na fábrica.

No final do dia eu estava satisfeita.  Não era pelo volume de vendas, que eu sei que um negócio não se faz num dia, mas por ter conseguido executar este projecto.

Foram dois anos de muita procura de espaço e muita burocracia, mas consegui.

Não me tornei educadora de infância nas estou feliz por adoçar as  manhãs de tantas pessoas.

Regressei a casa satisfeita.
Tomei um banho e depois de Rodolffo fazer o mesmo, cá estamos nós dois em mais um jantar a sós.

- Correu bem o dia?

- Sim.  Tivemos alguns clientes e muitos curiosos.

- É assim mesmo no início.

A sobremesa era como em tantas outras vezes a minha torta de maçã.   Fui buscá-la e no prato de Rodolffo coloquei um pequeno envelope e uma caixinha.

- Abre primeiro a caixa.

Rodolffo abriu e dentro tinha uma linda pulseira com a inscrição "Papai".

Uai!  Nem é meu aniversário,  porquê o Mateus me dá presente?

- Abre o envelope.

Rodolffo abriu e desdobrou a folha de papel de um teste de gravidez onde estava escrito Positivo.

- Vou ser papai de novo?  Sério, amor?

Juliette saiu da cadeira e sentou no colo dele, abraçando-o

- Sim, papai.  Vem aí o fruto do nosso amor, disse dando-lhe um beijo.

- Estou muito feliz, amor.  Viu, filhota?  O PAPAI ESTÁ FELIZ, gritou junto à barriga dela.

- Filhota? 

- Sim.  Eu sei o que faço.

Mas olha!  Tenho que ir agradecer a um velho de 60 e tal.  Se não fosse ele não te tinha.

- Rodolffo,  num dia tão feliz,  tu vens com essa?

- Desculpa as minhas sem noções.  Eu sei que isso já não te afeta.

Eu estou tão,  mas tão feliz, que tu não tens noção.

- Eu também estou muito feliz.  Hoje olhando o passado eu sei que tinha que ter passado tudo isto para chegar aqui.

- No que eu puder fazer, seremos o casal mais feliz do mundo.  O mais amigo, o mais companheiro,  os pais mais babados.
Ainda não casámos mas eu te juro amor eterno.

- Eu também te amarei sempre.

O juramento foi selado por um beijo.

Fim



Espinhos no caminhoOnde histórias criam vida. Descubra agora