CAP. XXI

63 9 8
                                    

Juliette voltou com os irmãos para casa.  Bia estava um pouco abalada com tudo mas os irmãos logo trataram de a animar.

Ficaram a fazer planos e entretanto começaram a fazer o jantar.

- Por falar em jantar.  Amanhã vou jantar com Rodolffo num restaurante.

- Shiii! Menina, como tá chic, disse Tomé.

- Pois é, mas nem tenho uma roupa de jeito para ir num restaurante.   De certeza ele vai-me levar num restaurante fino.  Eu não quero fazer feio.

- Olha.  Ainda está cedo.  Vamos ali no shopping comprar uma roupa.

- Não posso gastar dinheiro assim à toa.

- Não é à toa, mana.  A ocasião merece, anda.

Lá foram os três.   Elas duas há mais de 8 anos não entravam num shopping.   A última vez ainda andavam na escola.

Juliette entrou numa loja, escolheu um vestido longo, cor de lavanda e de alcinhas.  O decote pareceu-lhe exagerado,  mas os irmãos não acharam. 

- Esse mesmo, mana.  Tem um moço aí que vai adorar tirar,  disse Tomé.

Juliette deu um tapa no braço dele fazendo sinal para Bia.

- E sapatos?

- Eu tenho umas sandálias quase novas.  Tem uma cor que fica bem aqui.  Eu quase não usei e o vestido é comprido,  tapa um pouco.

- Mas não tem salto, diz a Bia.

- E eu lá sei andar de salto?  Não quero  cair dos sapatos e fazer mais feio.

Voltaram para casa mas ainda compraram um pote de sorvete para todos.

Rodolffo já estava em casa.

- Onde foram?  Já estava a ficar preocupado.

- Fomos ao shopping comprar sorvete.

- Só sorvete?

- Só.  Põe aí na geladeira que vamos fazer o jantar.

Juliette entregou a sacola do vestido à Bia para levar para o quarto e foi para a cozinha.

Na manhã seguinte Tomé foi para a clínica, Bia ficou a dormir e Juliette juntamente com Rodolffo foram ao banco.

O gerente era seu conhecido,  pois tinha conta ali.

Juliette deu o nome do pai e da mãe para verificar se havia conta activa nesses nomes.

- Negativo, disso gerente.

- Eu disse.  O meu pai torrou o dinheiro todo.

- No teu nome, Juliette.  Pode estar no teu nome.

- Eu era uma criança na altura.

- Dê-me a sua identificação.

Introduzidos os dados logo a expressão do gerente passou de céptico para espantado.

- Se não estivesse aqui uma senhora eu dizia uma asneira, doutor.

- Porquê?

- Já vos mostro.  Ele imprimiu um extrato para eles verem.

- Caraca!  É zero que nunca mais acaba.

- Juliette,  tu estás rica.

O gerente puxou o início da conta.

Esta conta foi aberta quando a menina tinha 13 anos.  Como estava só no seu nome só agora com a maioridade pode ter acesso a ela.  Foi aberta pela sua mãe.   Ela transferiu este valor da conta conjunta com o seu pai.

- Meu Deus, passámos por tantas privações e com tanto dinheiro.

- Juliette tens noção que a tua mãe fez isto para evitar que o teu pai gastasse tudo.

- Mas cortou-nos as pernas.  Eu não estudei, a Bia não estudou e o Tomé coitado.  Foi obrigado a trabalhar para comer.

- Não a julgues.  Ainda assim ela pensou em vós.  Se havia outra maneira, talvez,  mas foi esta que ela arranjou.

- Eu não julgo.  Só estou triste por todos.

Voltámos para casa.  Juliette estava abatida.  Bia via televisão e não percebeu a cara da irmã.

Juliette foi fazer o almoço.   A cozinha era o lugar onde gostava de estar e a tranquilizava.

Rodolffo foi ajudá-la.

- Logo quero essa carinha mais alegre.

- Isto já passa.  Só estou com muita raiva agora.

- Não estejas.  Logos vais ver a tua mãe e vais mostrar-te feliz.

- Nem sei como contar aos manos.  Tenho medo da reacção do Tomé.

- Eu vou estar contigo.  Eles vão ficar bem.

- Obrigada e desculpa tanta chatice e trabalho.

- Não sejas tola.  Estou aqui para isso e muito mais.

Ela sorriu, segurou na queixo dele e beijou-o.

Espinhos no caminhoOnde histórias criam vida. Descubra agora