CAP. XIV

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José apenas era visto por volta da hora das refeições.   O homem outrora cordial passou  ficar em silêncio enquanto durasse a refeição.

- Está tudo bem, José?  Estás muito calado.

- Não me apetece conversar.

- Mas já faz alguns dias que estás assim.  De certeza que não se passa nada?

- Não.   Já disse.

Lúcia não insistiu mais.  Ia falar com ele mais tarde.

O senhor José quer sobremesa? perguntou Juliette.

- Não!  Respondeu ele num tom agressivo.

Juliette percebeu a diferença  de comportamento, mas resolveu ignorar.

Enquanto isso na cidade, Rodolffo tentava facilitar a vida a Tomé.   Uma vez que ele não tinha uma profissão definida e a pouca idade também não ajudava, resolveu mantê-lo com ele na clínica.
Habituado a fazer de tudo um pouco lá na aldeia, Tomé fazia desde trabalho de electricista a recepcionista ou estafeta.  Onde era necessário ele lá estava.  Sorte de ter caído na graça do futuro cunhado.

Maria da Luz estava em franca recuperação.

O filho passava algumas horas do dia conversando com ela e já conseguia manter um diálogo mesmo que fosse por pouco tempo.  A medicação fazia com que ela dormisse bastante.

Um destes dias ela perguntou por Ju e Bia.  Tomé respondeu que logo elas viriam.  Ela apenas sorriu
Do marido nunca mais perguntou.

As sessões de hipnose a que ela foi sujeita revelaram as mais diversas atrocidades que ela sofreu às mãos dele.  Não era só a violência física, mas a violação com recurso a actos animalescos.

O silêncio ela justificou com protecção às filhas, pois o brutamontes ameaçava fazer-lhes o mesmo.

Lúcia estava deitada com o marido quando resolveu saber sobre a repentina mudança.

- Eu ouvi a tua conversa com Juliette.

- E que tem isso?  Acaso não achas que o nosso filho mereça ser feliz?

- Não é isso.  Essa menina apareceu aqui de páraquedas.  Quem me diz a mim que não foi caso pensado?

- Como podes pensar assim?  Tu ouviste a história dela, a mãe dela está na clínica do teu filho.   Como podes duvidar?

- E se o Rodolffo resolver casar e levar o Mateus?

- O Mateus um dia vai ter que viver com o pai.  É o normal?  Nem que seja quando for para a escola ou queres que ele fique aqui de enxada na mão?

- Eu não quero pensar nesse dia.

- É por isso que estás assim?  Com medo de levarem o Mateus?

- Sim.  O nosso filho disse que nunca mais casar!

- Até aparecer alguém.   Ele contou-me que gosta da Juliette.   Deixa os dois.  Não vamos interferir, se tiver que ser, que seja.
Só podemos abençoa-los.  E eu gosto muito da menina.  Educada, simples e muito trabalhadora.

- Isso é.  Não posso dizer o contrário.

- Então,  relaxa homem.  Não sofras por antecipação.  O Mateus sempre será o nosso neto, aqui ou na cidade.
E já viste como a Juliette e a Bia gostam dele?  Imagina o Rodolffo arranjar uma companheira que não sentisse amor por ele?

- É.  Tens razão.

- Conversa com o Rodolffo sobre as tuas preocupações.  Ele sempre ouviu os teus conselhos.

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