CAP. XI

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Saí da cozinha furioso por minha mãe ter aparecido naquele momento. 
Para disfarçar peguei a mamadeira do Mateus que por sinal estava vazia.   Voltei para o meu quarto  e tornei a deitar-me à espera que ele acordasse.

Quando eu estava aqui, o Mateus dormia sempre no meu quarto.  Eu fazia questão e a minha mãe também concordava.

Enquanto esperava fiz uma retrospectiva da minha vida desde que fiquei viúvo.  Amei muito a minha esposa e por anos jurava a mim próprio que nenhuma outra ocuparia o seu lugar.

Este tempo de convívio com Juliette fizeram-me olhar para ela com outros olhos.
De há um tempo para cá eu tenho vontade de abracá-la e beijá-la.  Eu ainda sinto algumas restrições por causa da idade dela.

Nós temos 12 anos de diferença o que para mim não é importante.  Espero que para ela também não seja.
Queria ter um tempinho com ela a sós, mas não vai ser este final de semana.  O reencontro com o irmão já é emoção suficiente para agora.  Até podia ser mal interpretado.

Mateus acordou.   Troquei-lhe a fralda e lá vamos nós tomar café.

- Bom dia gente.  Já acordei.

- Vem cá à vóvó, meu amor.  Juliette,  prepara a mamadeira do Mateus.

- Sim.
Onde está a mamadeira?  Estava aqui em cima da mesa.

- Ah!  Está lá no meu quarto.  Vou buscar, disse Rodolffo saindo em direcção ao quarto.

Rodolffo entregou a mamadeira a Juliette e ao mesmo tempo piscou-lhe o olho.

- Os teus irmãos ainda não acordaram?

- Não.   Fomos dormir já de manhã.

- E porque é que não dormiste mais um pouco?  perguntou Lúcia.

- Estou habituada a dormir pouco.  Mesmo quando me deito cedo,  durmo pouco.
Aqui está a papa do Mateus.  Será que ele vai querer fruta?

- Ele come da minha, respondeu Rodolffo.

Após o café Lúcia quis conversar com Rodolffo a sós.

Com o Mateus no colo foram dar uma caminhada pela propriedade.

- Desculpa filho, não quero interferir na tua vida, mas o que foi aquilo mais cedo na cozinha?

- O quê,  mãe?

- Tu e a Juliette.  Não finjas que não foi nada que eu bem vi o clima de intimidade.

- Não foi nada.  Foi só um carinho na bochecha dela.

- Gostas dela, filho?

- Eu acho que sim, mãe.

- Não te precipites.   Não faças nada sem teres a certeza.  Ela é boa moça não merece ser magoada.

- Não é minha intenção magoá-la.  Depois da minha esposa nunca senti  por mais nenhuma o que estou a sentir por Juliette.

- Se tiver que ser terão o meu apoio, mas vai com calma.

- Ela deve querer ir ver a mãe,  mas eu não aconselho para já.  Já conversei com o Tomé sobre isso e preciso conversar também com elas.

- Está assim tão mal, a mãe?

- Tem alguns rasgos de lucidez,  mas na maior para do dia vive num mundo só dela.

Voltaram para casa.  Tomé e Bia já estavam a tomar café.

- Quando terminarem, eu estarei lá fora.  Preciso conversar com os três.

Juliette saiu com Rodolffo enquanto os irmãos continuaram a comer.

- O que foi Rodolffo?  O que quer falar connosco?

- É sobre a vossa mãe, mas já é tempo de me tratares por tu.

- Sempre fui ensinada a tratar os mais velhos por senhor.

- Mais velhos?  Quer dizer que eu sou velho?

- Mais velho que eu, é.

- E numa relação entre homem e mulher, achas que a idade importa?

- Como quando o meu pai me quis casar com um homem de sessenta?

- Aí nem eu concordo, mas faz de conta, a minha idade e a tua?

- São só 12 anos de diferença.   Nem é muito.  Quer dizer, se um tiver 12 e o outro 24 já não acho bem.

- Não.   Eu e tu.  Tu namoravas uma pessoa da minha idade?

- Se eu gostasse muito, não tinha problema.

- Chegámos.  O que nos quer dizer, Rodolffo.

Sempre nos piores momentos, pensou Rodolffo.

Espinhos no caminhoOnde histórias criam vida. Descubra agora