CAP. XVI

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Regressaram à cozinha para deixar os morangos e como previsto, Lúcia deu bronca nos dois.

- Eu vou tomar banho junto com o Mateus, disse Rodolffo.

- Trouxeste tanto morango porquê  José?

- Uns para o nosso almoço e o Rodolffo disse que queria compota de morango.  Fazes, Juliette?

- Faço sim, sr. José.

Após o almoço, Rodolffo levou Juliette até ao pomar.  Sentaram-se debaixo de uma mangueira à sombra.

- Correu tudo bem por aqui?

- Sim.  Apenas o teu pai teve um comportamento diferente.

- Diferente como?

- Esteve mais calado e quando me respondia parecia mais agressivo.  Não sei se a tua mãe contou sobre nós e ele não gostou.

- Depois eu falo com ele.  Agora vem cá.   Eu quero um beijo.

Juliette estava sentada no colo dele e iniciou o beijo.

- É difícil ficar a semana sem te ver.

- Eu vou levar-te junto com a Bia para verem a vossa mãe.   Vais ficar uma semana comigo.

- Sério?  Ela já está mesmo bem?

- Está melhor.   Ainda não totalmente.  Estes processos são demorados, mas já perguntou por vocês.

- Tenho tantas saudades dela.

- Eu entendo, mas é para o bem dela.

- Não sei como agradecer o que estás a fazer por ela e por nós.

- Eu sei.

Rodolffo retirou do bolso das calças um anel e disse;

- Agradece sendo minha namorada.

Ela apoiou a cabeça no seu ombro abraçando-o.

- Eu quero muito, mas porque eu gosto de ti, não porque estou agradecida.

- Eu sei.  Foi uma maneira de falar.  Eu não tenho muito jeito para estas lamechices.  Esqueci-me do que é o romantismo.

- Não acredito.  Tens cara de jantares à luz de velas, ramos de flores e outros, mas também tens cara de safadezas.

- Safadezas é comigo.   Lingerie sexi, calcinhas comestiveis, óleos e leite condensado.

- Leite condensado?

- Sim.  É muito bom.  Nunca experimentaste?

- Rodolffo!  Tu és o meu primeiro namorado.

- Que bom.  Havemos de experimentar isso e muito mais.

- Eu assim fico com vergonha.

- Não tenhas.  Prometo descobrir contigo as coisas boas da vida.

- E eu vou ficar uma semana lá na tua casa?

- Sim.  Lá tem três quartos.  O meu, o do Tomé e outro, mas eu quero que tu fiques comigo.

- O Tomé já arranjou trabalho? Juliette tentou mudar o ruma da conversa.

- Juliette,  o Tomé tem dezasseis anos.  Na cidade dificilmente arranja trabalho em que tenha tempo para estudar.
Agora está connosco na clínica.  Quando abrirem as matrículas,  vai voltar à escola.  Precisamos resolver como vai ser da Bia.

- Eu tenho pensado nisso.  Eu posso ir para a cidade com ela, mas aí tenho que deixar a tua mãe sózinha com a loja e eu não quero.

- Sempre os outros à tua frente.

- Eu gosto de fazer compotas e licores.  E, Rodolffo eu não sei fazer mais nada.  Parei de estudar aos 13 anos.  Vou para a cidade viver de quê?

- Realmente,  o vosso pai atrapalhou a vida de toda a gente, mas se quiseres ainda podes voltar à escola.

- Não.  Já decidi que não volto.  Eu vou ter sucesso mas não pela via académica.
Não tens vergonha de mim por ser quase ignorante?

- Nunca mais digas isso.  Não é um diploma que define o carácter de alguém.   Conheço alguns diplomados que são a escória da sociedade.
E depois gosto de ti com cheirinho a maçã,  a canela, a morango e outros frutos.

- Às vezes cheiro a pimentão, a pimenta, a chuchu e outras menos doces.

- Também têem compotas disso?

- Sim.  Tudo serve para compotas, conservas e molhos.

- Vês.  O talento também está nessas coisas, mas não quero falar mais disso.  Quero falar de nós dois.

- O que queres saber?

- Não quero saber nada.  Quero beijar-te muito.  Queria muito fazer amor contigo,  mas eu vou esperar a hora e o tempo certo.

- Não quero fazer isso na casa dos teus pais.

Rodolffo colou os lábios nos dela passando os dedos por entre os cabelos.

Juliette estava sentada no colo dele abraçando a sua cintura com as pernas. 
Sentindo a erecção dele, afastou-se quando o beijo terminou e sentou-se ao seu lado.

Espinhos no caminhoOnde histórias criam vida. Descubra agora