A Culpa

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Retornando com a esposa a sua elegante propriedade em São Pedro, Naruto encontrou a mãe e Kabuto na sala, ansiosos em saber como tinha sido sua visita à casa dos Uchiha.

O mordomo da residência - único empregado naquela casa -, acabara de depositar sobre o aparador um bule fumegante, xícaras de porcelana e demais utensílios para o preparo do chá, junto com os biscoitos favoritos da viúva. Kushina, aproveitando a oportunidade de deixar a incapacidade da nora em evidência, deixou Sakura tomar as honras de anfitriã da casa. A jovem retorceu os lábios e andou até o pequeno móvel enquanto os demais se acomodavam para ouvir Naruto.

— Hinata me recebeu bem, como sempre meio tímida e nervosa — contou, acrescentando desanimado. — Sasuke, em contrario, foi bastante seco.

Observando cada movimento da mulher de seu filho, Kushina estreitou os olhos ao notar um miúdo sorriso adornar os lábios rosados.

— Por quê? — quis saber Kabuto Yakushi, negando com um gesto de mão o oferecimento de Sakura.

— Evidentemente porque não lhe agradou me ver ali — respondeu ainda intrigado com o comportamento hostil. Pensara que após ser padrinho de casamento de Sasuke a amizade renasceria. No entanto, naquela manhã ficará claro que o Uchiha não o queria por perto. — Também com ela o vi austero.

Recordando o olhar desconfiado e agressivo de Sasuke para Hinata, a incompreensão voltou a importunar os pensamentos de Naruto. Por um instante pensara que Sasuke estava com ciúmes dele. O que não fazia sentido, visto que, por amor ao Uchiha, Hinata passara por cima dos valores da alta sociedade, sujeitando-se a ser alvo de falatórios e desaprovação de seus pares. Talvez o antigo noivado incomodasse Sasuke, mesmo tudo não ter passado de um grande engano.

Diante de informações tão preciosas, o coração de Sakura bateu extasiada, a sensatez desaparecendo junto com a máscara de desinteresse que sustentava com muito custo.

— Então não deram a impressão de recém-casados felizes? — perguntou tirando o marido de seus conflituosos pensamentos.

— Não.

Indignada com o descaramento de Sakura, Kushina lançou um olhar irado a jovem que lhe servia uma xícara de chá tão fumegante quando o indisfarçável desprezo que emanava dos olhos de ambas ao se encararem.

— Falou com Kurenai sobre meu pedido? — Kushina questionou o filho desviando os olhos furiosos da perdida, que agora preparava a xícara de Naruto, somente ao proferir a última palavra.

Com um suspiro frustrado, por notar que sua mulher e sua mãe continuavam a travar uma guerra silenciosa, Naruto respondeu:

— Sim. Ela disse que não será nenhum incomodo passar para vê-la amanhã.

— E a que pensa dedicar-se o Uchiha? — perguntou Kabuto, relaxando na confortável poltrona situada no ângulo certo para visualizar as mínimas expressões das senhoras da casa.

— Ao comércio.

— Legal ou ilegal?

— Espero que legal! — Com dureza, em parte por perceber os olhares desdenhosos entre sua esposa e sua mãe, o Uzumaki destacou: — Está casado com uma mulher distinta, tem responsabilidades com ela e deve respeitar o sobrenome da família a qual se uniu em matrimônio.

Tão consciente quanto Naruto do clima pesado entre as senhoras Uzumaki, e ainda com as palavras de Gaara dispostas como peças de xadrez em sua mente, Kabuto moveu uma rumo a sua eminente vitória.

— E até quando pretendem ficar em São Pedro?

— Regressaremos amanhã — notificou agradecendo a esposa por lhe entregar o chá, seus olhos azuis capturados pelo encantador e discreto sorriso dela e alheios a sombra sobre o semblante de sua mãe. Porém, Kabuto percebera e mais algumas peças se moveram com precisão.

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