Telegrama

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Ódio, puro e corrosivo, era o único sentimento que o dominava. Ódio pela esposa, pela primogênita inútil, pela enteada que criara como sua, mas, acima de tudo, ódio por Sasuke Uchiha. Estava entrevado naquela cama, era chacota no povoado e dentro de sua própria casa, tudo por culpa de um novo rico que jamais passaria de um maldito ladrão.

— Querido, sente-se melhor?

Queria rir, mas nem mesmo isso conseguia fazer. Deitado naquela cama como um inválido, letárgico devido às beberagens medicinais, sem motivação para nada, além de odiar com o que ainda lhe restava de forças.

Seu nome em breve seria jogado na lama, perderia o apoio financeiro dos Uzumaki e cairia em desgraça aos olhos da alta sociedade, devido à depravação das filhas, da esposa e de um bandido saído do inferno. Se pudesse, erguer-se-ia e colocaria fim as vidas das imprestáveis ao seu redor, e também a do contrabandista, com as próprias mãos.

— O doutor Ortes garantiu que se descansar e tomar os medicamentos nos horários, em um mês estará melhor.

Hiashi encarou Kurenai com tamanho desprezo e raiva que a fez recuar, as mãos trêmulas quase deixando cair no chão à vasilha com a sopa de legumes. O marido não precisava falar, estava óbvio que se pudesse levantar daquela cama colocaria em prática tudo que dissera antes de cair desmaiado. A aterrorizava a debilidade de Hiashi, mas a aterrorizava ainda mais pensar no que aconteceria quando melhorasse. Só Deus podia proteger ela e as filhas quando o marido estivesse restabelecido.

~*S2*~

Algumas quadras da casa dos Hyuuga, também era o ódio que reverberava nas paredes da construção imponente que cercava os Uzumaki. Sentimento que Kakashi esperava aplacar ao solicitar uma reunião particular com Naruto.

— Por favor, dona Kushina, chama-o, deixe-me falar com ele — insistiu ao ter sua passagem negada.

— Repito que não é necessário — a viúva retrucou irritada com a persistência do advogado. — Não conseguira convence-lo.

Dando um longo respiro, a fim de evitar ser grosseiro com a Uzumaki, Kakashi voltou seu foco em fazê-la perceber o que aconteceria se Naruto, em seu desejo de retaliação, desafiasse o Uchiha.

— Suponhamos que Naruto e Sasuke se enfrentem em um duelo. Não duvido da habilidade de Naruto, já que foi um oficial do exercito, mas Sasuke está acostumado a lutar desde a infância para defender sua vida — explicou o mais calmo que a urgência em evitar o confronto permitia.

— Não se preocupe, a meu filho nada acontecerá — garantiu Kushina altiva.

— Como pode ter tanta certeza disso? — questionou intrigado com a declaração confiante da Uzumaki. Todos de São Pedro quando ouviam que Sasuke Uchiha entrara em uma briga, logo sabiam que o antigo pirata sairia vencedor. Era inimaginável um resultado diferente.

Percebendo tarde demais que, em sua impaciência com Kakashi, transparecera certeza que Sasuke jamais alcançaria seu filho, Kushina silenciou justificativas, sua mente trabalhando a mil em uma forma de escapar sem aumentar a desconfiança evidente do Hatake. Para seu alívio, naquele momento, Naruto, com aparência de não ter dormido há dias, desceu as escadas que levavam aos quartos do segundo piso.

— Alegro-me que finalmente saiu do quarto, filho! — falou dirigindo-se preocupada até o jovem.

Ignorando a saudação da mãe, Naruto encarou o licenciado.

— O que faz aqui Kakashi?

— Vim falar contigo.

Imaginando o rumo da conversa, e querendo colocar acabar logo com a visita indesejável, Naruto assentiu, apontando a direção do escritório.

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