Relação às claras

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De volta a sua casa, ainda irritado após a conversa com Sakura, Naruto se deteve por um segundo ao ser abordado por sua mãe ao atravessar a sala.

— O que Sakura queria?

— Me propor uma sem-vergonhice — resmungou seguindo para as escadas com ela em seu encalço. — Queria que ajuda-se Sasuke a escapar com ela e forjar a morte de ambos, para que morem em outro lugar com outros nomes. Depois de tudo que me fez, quer que a gratifique. — Parou no primeiro degrau. — Amanhã voltarei à fazenda verificar a safra. Chamei um advogado da capital que se encarregará dos processos que desejo. O hospede aqui e garanta que tenha tudo que precisar.

Deixando o filho seguir em frente, ansiosa, Kushina foi atrás de Kabuto para colocá-lo a par dos acontecimentos. O encontrou sentado confortavelmente na biblioteca, degustando um caro vinho, os pés sobre a escrivaninha de leitura.

Ignorando os péssimos modos dele, que nos últimos dias agia como se fosse dono e não hóspede, fechou a porta para dar privacidade a ambos.

— Kabuto, temos a solução para evitar o escândalo — disse se aproximando dele. — Sakura propôs que ela e esse sujeito fujam e digam que estão mortos.

— Parece um bom plano. — Kabuto retirou os pés da mesa e se ajeitou na poltrona, provando seu vinho antes de comentar: — É comum um preso morrer, por causa das circunstâncias em que está. E Danzou já planeja dar um fim nele na transferência para o presidio. Mas ela seria mais difícil explicar.

Kushina acomodou-se a frente dele, um torcer de lábios indicando o quanto os problemas criados por Sakura a perturbava.

— Quando ouvi a ideia daquela maldita, achei a escapatória perfeita. — Batucou os dedos nos braços da cadeira. — Ninguém saberia da traição, Naruto consertaria o erro cometido com Hinata e o sobrenome da família não seria motivo de chacota. — Observando uma pintura representando uma vegetação em chamas, que estava ali desde seus antigos habitantes, um pensamento cruel revirou em sua mente. — Seria ainda mais perfeito se tivéssemos a sorte dos dois morrerem de verdade... — murmurou esfregando o indicador nos lábios.

Inclinando-se para frente, Kabuto fitou a eterna viúva com desconcerto e preocupação.

— Afinal o que está pedindo Kushina? Que mate os dois?

Com frieza, Kushina cravou o olhar no de Kabuto ao responder:

— Quero que desapareçam para sempre e deixem de prejudicar minha família.

Sendo amigo de Sakura, Kabuto pesou as palavras antes de seguir naquela conversação. Coçou o queixo, sentindo nos dedos a barba crescente, pensando em apará-la e, ao mesmo tempo, se imaginando com ela farta, observando as terras que ganharia dos Uzumaki.

— Ajudo no que precisar, mas quero garantias.

— De que tipo?

— Quero que formalizemos nosso compromisso e marquemos uma data para o casamento.

Desconcertada com a insistência de Kabuto em casar com ela, algo que em momento algum pensou em levar adiante, só insinuou para conseguir a ajuda dele, com feições endurecidas argumentou aborrecida:

— Tenho urgência em resolver a situação atual, não tenho cabeça para pensar nisso.

— E eu tenho urgência em resolver nossa situação.

— Percebe que está me pressionando?

— Um homem apaixonado faz tudo por aquela com quem vai casar — galanteou com um sorriso forçado. — Posso falar com Danzou, dar a ordem que queira, mas antes quero marcar a data.

— Preciso ter a aprovação de Naruto primeiro.

Kabuto soltou um riso fraco, desprovido de humor.

— Nunca dependeu dele para nada, por que necessita agora?

— Entenda, não quero entrar em conflito com meu filho, principalmente agora que estamos próximos de um escândalo moral e social — Kushina explicou moderando o tom, logo segurando a mão dele por cima da escrivaninha. — Quando não tiver mais esses dois atormentando minha vida, terei tempo para nós. Vai falar com Danzou?

Sendo um exímio manipulador, Kabuto percebeu de imediato que a viúva planejava ludibria-lo. Tinha certeza que, caso executasse mais esse pedido com sucesso, a viúva o chutaria, acabando com seu sonho de se converter em um homem rico e de posição social alta.

— Sinto que está me utilizando. Que jamais pensou em se casar comigo — Kabuto comentou afastando-se do toque dela.

— Está equivocado, mas, sendo sincera, a forma que vem insistindo ultimamente me parece indelicada.

— Hum, o que acha de contarmos tudo que fez pelas costas do seu filho? Inclusive essa sua intenção de ajudar Sasuke e Sakura a fugirem?

— Não se atreva!

— E direi a Kakashi também. Óbvio que garantindo que retire meu envolvimento.

Erguendo-se, Kushina o encarou colérica e acuada.

— Está bem! Quanto quer pra manter silêncio?

— Não se trata de quantia, e sim de um casamento vantajoso. Pode até ser de aparência, se preferir — ele acrescentou ajeitando-se confortavelmente na poltrona.

— Percebo que meu filho tinha razão a seu respeito.

— O bom é que deixamos toda relação às claras — ele retrucou com um largo sorriso.

— Aceito sua proposta, mas com a condição que mande Danzou matar aqueles dois malditos.

— Será como pediu. — Kabuto ergueu-se e se afastou em direção a porta sem olhá-la ou lançar doces palavras de amor como antes. — Essa conversa me aborreceu, vou descansar e sonhar com a minha confortável vida após casarmos. Até amanhã, Kushina!

Ao retirar-se o homem, encarando com ódio a taça ainda com um pouco de vinho, Kushina segurou-se para não agarrar o objeto, tacá-lo no chão e extravasar sua raiva. Respirou fundo, controlando seus nervos, ajeitou seu cabelo e andou altiva para fora. Tinha de manter a mente afiada, focada. Por enquanto, teria a ajuda de Kabuto para se livrar do Uchiha e de Sakura, depois daria um jeito nele.

~*~

Sentado no canto de sua cela, em mais um dia preso, Sasuke amargava sua sorte.

Os Uzumaki, mais uma vez, se intrometiam em sua vida para prejudica-lo. Tinham tudo, riqueza, poder, influência. Quando ele, Sasuke, conseguia chegar perto dessas coisas, que eram importantes só por almejar formar uma família com dignidade, apareciam os Uzumaki para roubar sua chance de ser feliz.

E o pior é planejarem lhe roubar o amor de Hinata. Ela, que tinha lhe sido entregue em sacrifício por amor a outro e que por breves momentos pareceu nutrir sentimentos de afeição por ele, aguentaria esperá-lo? Aguentaria os comentários sobre ele? Sobre ser ladrão e assassino, mesmo após ter prometido a ela que não faria mais nada disso? E não tinha feito. Mas ela acreditaria na palavra dele?

Hinata tornou-se a luz que iluminava suas trevas e apaziguava seu ódio. Agora não a tinha, não tinha nada. E tudo por culpa dos Uzumaki.

— Sasuke! Veja, estão vindo algumas freiras.

Ergueu o rosto e olhou na direção apontada por Shikamaru sem muito interesse, até uma freira aproximar-se da cela chamando-o.

— Sasuke!

Reconhecendo a voz feminina, ansioso e apaixonado, se projetou até a grade encontrando o rosto bonito da esposa, que com lágrimas nos olhos lhe sorria.

— Hinata! Senti tanto a sua falta — disse atravessando as mãos pelos espaços da grade para segurar a face dela, puxá-la até si e beijá-la.

Coração SelvagemOnde histórias criam vida. Descubra agora