Coração Selvagem

Irmãos

Assustada com o desmaio de sua patroa e, sem junto com Tenten temendo não conseguir carrega-la, Temari correu para os fundos da residência, onde tinha seu quarto e, sem que outros soubessem, dava abrigo para Gaara.

Atendendo ao pedido aflito da irmã, Gaara entrou na casa, levantou Hinata do chão e correu com ela até o quarto de casal, depositando-a cuidadosamente sobre a cama.

— Chame o médico! — Tenten pediu para Temari e sentou ao lado da amiga inconsciente.

Seguindo a irmã até a sala, Gaara questionou preocupado:

— O que houve afinal?

— A senhora descobriu que o senhor Sasuke ficará preso por vinte anos — Temari contou parando próximo a porta. — Ela não tem comido nada ultimamente... Deus, isso é culpa nossa...

— Nossa?

— Deveríamos dizer a verdade pra ela, o motivo de você ter trabalhado aqui.

— Não! Danzou pode ferir nosso irmão se contar.

— Faz dias que não consegue ver nosso irmão, quem garante que já não fez? — Temari questionou preocupada e revoltada ao mesmo tempo. — Aquele homem é tão nojento e perverso quanto o Orochimaru. Ele torturava todas as meninas do bordel...

Vendo na face do irmão que compreendia que ela também estava inclusa, Temari voltou sua concentração para buscar ajuda do médico da cidade, dando as costas para o irmão, a dor das lembranças sendo eclipsadas pela urgência em ajudar Hinata.

~*~

Longe dali, Colibri batia na porta dos fundos do Taberna de Shikamaru Nara. Atendendo-o, Konohamaru observou o idoso a principio com desconfiança, mas ao saber que vinha a mando de Sasuke o levou para dentro, até o grupo que continuava a definir o plano ordenado pelo capitão.

Reconhecendo-o, Shikamaru foi até Colibri contente pelo funcionário da prisão estar ao lado deles.

— Pessoal, esse é o Colibri, funcionário da prisão. — Para diminuir a tensão que se criou em sua entrada, complementou agradecido: — Ele ajudou o nosso capitão a cuidar de sua ferida.

Shikamaru continuou as apresentações para dar a Colibri a tranquilidade que necessitava:

— Esses são Shino, Kiba, meu primo Chouji e Konohamaru, gente de confiança de Sasuke. Fico feliz que veio falar conosco.

— Vim porque o capitão pediu para avisa-los que o sentenciaram há vinte anos. — Seguiu-se o mesmo impacto que o dominou ao receber essa informação, mas, necessitando finalizar logo o encontro, acrescentou: — E o capitão também mandou que contasse a vocês e ao advogado Hatake que os irmãos do morto trabalham na casa dele.

~*~

Despertando poucos minutos após Temari retornar com a notícia que o médico estava no campo, mas sua assistente ficou de avisa-lo do pedido da jovem Uchiha, Hinata ergueu-se da cama e, ignorando os pedidos de Tenten para ficar deitada, seguiu apressada para a sala de estar.

— Hina, o que vai fazer?

— Tenho que falar para o Kakashi... Ele tem que fazer algo... Não podem fazer isso... Não deixarei... — declarava em meio às lágrimas.

Uma nova tontura a dominou antes que chegasse até a porta. Dessa vez teve a força para sentar-se e respirou fundo para acalmar-se. Todo seu corpo tremia e sentiu-se incapaz de erguer um braço, a mente girando naquela condenação injusta.

Temari abaixou-se a sua frente e segurou as frias mãos da patroa, esfregando-as nas suas para aquecê-las.

— Temari, chame o Kakashi... Peça que venha aqui... Agora! — Hinata mandou tomando ar para controlar o mal-estar, as palavras pesavam em sua garganta, tornando difícil dize-las.

— Precisa descansar, amiga — Tenten aconselhou preocupada com a extrema palidez que preenchia o rosto de Hinata.

Hinata sacudiu a cabeça em negação, a dor crescendo em sua alma e as lágrimas caindo em cascatas por seus olhos. Não se conformava que sua família, a que sempre se esforçou em agradar e proteger, lhe causasse tanto mal. Precisava ajudar Sasuke a escapar das garras da injustiça dos Uzumaki, fugir para longe de todos que desejavam separá-los e afundar seu marido em uma cela escura e fétida. Nem mesmo podia visitá-lo por culpa deles.

— Preciso de papel e caneta... Enviar uma carta para... o Sasuke...

Tentou se levantar, mas Tenten e Gaara, que não fazia ideia de como estava ali, impediram que o fizesse.

— Pego pra você — ele ofereceu indo buscar nas gavetas do aparador os itens pedidos.

Adiando falar com Kakashi, com a culpa explodindo em seu peito, Temari não aguentou mais segurar os pecados de seu irmão.

— Senhora... Pensei muito e... Embora queira ajudar meu irmão, não posso mais ocultar o que ele fez.

— Temari! — Gaara alertou tenso, os dedos amassando a folha que trazia.

Temari encarou o irmão, que sacudia a cabeça em negativa.

— Temos que contar pra ela.

— O que...?

Novamente a jovem trocou um olhar com o irmão, em seus olhos Gaara via o pedido para que ele confessasse o que fez, que tivesse coragem e fosse grato pelo que Hinata fizera por eles.

Caindo de joelhos aos pés de Hinata, de cabeça baixa confessou:

— O senhor Kabuto e o delegado me colocaram aqui para encontrar algo que incriminasse o seu marido.

— Por que... Como pode fazer isso comigo e com o Sasuke...? Nós te protegemos em Campo Real... — lembrou machucada pela traição dele.

Gaara ergueu os olhos carregados de remorso.

— Juro que não fiz isso, o senhor foi preso sem minha ajuda. — Poupou-se de dizer que tentou cumprir o combinado, mas não conseguiu, pois Sasuke, aparentemente, não guardava nada criminoso em casa.

— Então como Sasuke acabou preso... E condenado a anos de prisão...? — Limpando o rosto das insistentes lágrimas, fitou Gaara com decepção.

— Não me orgulho do que tentei fazer, mas só aceitei o que pediram para ajudar meu irmão — Gaara contou com a voz embargada pela vergonha. — Ele está muito doente e só assim me permitiam visitá-lo. — Fitou Hinata com suplique pedido de perdão nos olhos, tristeza e medo: — Danzou ameaçou minha família e ele tem meios para matar meu irmão se o desagrado.

— Desde que demitiram o Gaara, o delegado não o deixa visita-lo — Temari contou tão angustiada quanto o irmão.

Coberta de raiva e ressentimento, Hinata estava pronta a expulsar Gaara de sua casa quando a campainha tocou insistente.

— Deve ser o médico — Tenten disse se encaminhando para abrir a porta.

Tomou um enorme susto ao se deparar com uma muralha humana, um homem alto, musculoso, todo encapuzado e usando óculos escuros que entrou na residência com passos pesados e uma carranca de dar medo. Logo atrás dele vinha mais três homens, somente um identificou por ter estado preso ao lado do Uchiha.

Tão surpresa quanto à amiga com a invasão, Hinata viu o amigo de seu marido erguer Gaara do chão pelo colarinho da camisa.

— Vai abrir essa boca e dizer tudo o que eu perguntar, ou o mato aqui mesmo — Shino pronunciou ameaçador.