I: O Dia da Faxina

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I

Nas Terras Altas da Escócia, três crianças subiam um morro ladeado por prédios residenciais antigos, remanescentes das construções típicas do século XIX. Os dois garotos avançavam com suas bicicletas, enquanto a garota acompanhava-os a pé, seguindo em direção ao centro da aldeia de Ravenclaw's Pride. Ao chegarem em frente ao mercado, ao lado da loja de poções da Madame Snape, eles fizeram uma pausa. A garota, de aproximadamente nove ou dez anos, dirigiu-se até uma máquina de self-service e retirou uma latinha de Coca-Cola para si e outra de Sprite para o garotinho ao seu lado, que parecia ter a mesma idade que ela.

— Pega um Monster Energy para mim aí — disse o garoto maior.

— Dá o cash aí, bobão. Monster é caro.

— Então sai da frente — o garoto grande empurrou a menina para o lado, pegando algumas moedas e assim retirando um Monster Energy Absolute Zero.

Não parecia que Ravenclaw's Pride tinha sido um deserto alguns meses atrás, com longas filas de pessoas nos mercados e estabelecimentos de serviços essenciais. A doença respiratória, que ainda assolava o mundo dos trouxas, parecia ter se acalmado no mundo bruxo devido à alta taxa da vacinação. Era como se fosse um problema de um passado distante, embora ainda fosse obrigatório usar máscaras de proteção facial em locais fechados. Tudo isso era creditado a Severo Snape e sua família, que eram adorados e reverenciados quase como deuses por todos os moradores da aldeia.

Ou quase todos.

Um claro exemplo disso eram as três crianças ali presentes. O garotinho menor e a garota eram colegas de classe dos filhos mais novos do casal Snape, mas o alvo das risadas sempre recaía sobre o garoto chamado Alan. Ele era, de longe, o mais excêntrico e sensível da turma, tendo o talento especial de irritar toda a classe com suas crises. Seja por gritar ou fazer birra por não gostar da textura da comida servida na cantina, ou reclamar do som alto que a sala fazia durante alguma atividade. Dava dor de cabeça para todo mundo e não fazia jus ao que tanto se prega da família que veio, de mestres e intelectuais.

E enquanto tomavam seus refrigerantes e se entupiam de açúcar e cafeína industrial, aquela era a oportunidade perfeita de enviarem alguns presentinhos a Alan.

— Ei! Vamos na casa do Alan Anormal entregar umas encomendas? — disse o mais velho do grupo, sedento por aprontar.

— Sim, eu topo — disse o garotinho baixo, virando o que restou de sua Sprite. — Podemos catar umas mangas do pomar da velha Nettleship e tacar na casa dele.

— Eu não acho uma boa ideia. Essa família é poderosa — disse a garota. — Vamos ser mortos e executados em praça pública se descobrirem que a gente aprontou lá.

— E você é uma chorona medrosa. Já sei! Vamos comprar uns ovos e estragar a frente da casa dos retardados mentais.

O grupo de crianças comprou duas caixas de ovos, alguns salgadinhos de pacote e subiram a montanha ao lado da Rua Principal, seguindo pela trilha dos Doze Pavilhões até adentrarem na floresta densa. Lá, depararam-se com uma imponente casa de pedra branca de dois andares, com telhados cor de piche. Conhecida pelos moradores de Ravenclaw's Pride como Casa de Pedra, era o lar da família Snape. As crianças deixaram suas bicicletas junto a uma árvore na ribanceira e pegaram as duas caixas de ovos.

— Muito bem, turma... no três a gente joga os ovos e grita "Alan Anormal". Bora?

— E-eu ainda acho que não é uma boa ideia... será que devemos fazer isso? Já disse que essa família é perigosa. Se o povo da aldeia descobrir... vamos ser fritos e servidos na grelha que roubaram da velha Nettleship...

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