XX: O Salão dos Doze

27 2 407
                                    

I

Urias Guerra subiu lentamente a escadinha que conduzia à entrada da casa da família Snape. Ao alcançar a porta, ele bateu três vezes na argola da aldrava, cada batida ressoando com um som metálico que cortava o silêncio da manhã. Whitesnake despertou de seu sono, olhando em volta, confuso, até que sua visão ofídica de prata se fixou na porta. Havia algo familiar naquela figura misteriosa.

— Uau. Que bons ventos trazem ser tão inteligentes por estas terras?

— Não quero ouvir monólogos, aldrava, e faça logo o seu enigma. Estou com pressa e não tenho tempo para brincadeiras.

Whitesnake não gostou daquele jeito rude, mas, mesmo assim, formulou o enigma, como era seu dever. Urias entrou na casa dos Snape com passos firmes, dirigindo-se diretamente à sala de estar. Ele já conhecia o caminho, pois estivera lá uma vez antes, recebido pelo menino odioso que lhe atendeu uma vez, o mesmo que esteve no seu caminho hoje. Urias sentia uma curiosidade crescente, um desejo ardente de explorar cada canto da casa. Ele sabia que tal atitude poderia irritar os moradores, então conteve-se, esperando quieto e calado. O que mais lhe chamou a atenção foi a imponente tapeçaria feita na parede da sala de estar. Ela exibia, com cores vivas e traços detalhados, a árvore genealógica da família Snape.

— Muito interessante...

— Você — Urias olhou para trás, e viu, na entrada da sala de estar, Severo Snape e sua esposa Erina. — O que está fazendo em minha casa?

— Os Snape. Que bom vê-los. Sei que nosso primeiro encontro não foi dos mais amigáveis, mas eu estou aqui com uma proposta de paz, que creio ser irrecusável aos senhores.

— Não negocio com larápios.

— Ah, não? Seus negócios na cidade de Cokeworth não dizem isso.

Severo se espantou. Como ele poderia saber sobre o seu esquema em Cokeworth? Faz anos que ele não pisava os pés naquele lugar imundo, e só sua esposa sabia dos seus negócios.

— Ouça a minha proposta antes de querer me julgar. Em troca do perdão da dívida do Vicente, eu proponho um casamento entre mim e a sua filha, aquela menina de cabelo preto e cinza que saiu agora de pouco, Joanne Snape é o seu nome, não é?

Severo já estava prestes a avançar e espancar Urias só pelo fato de ele ter ousado entrar em sua casa. Agora, a certeza de querer matá-lo era quase irresistível. Seu sangue fervia, e seu rosto, normalmente pálido e macilento, começou a se aquecer e a adquirir um tom vermelho intenso. A fúria que crescia era palpável, quase tangível, e foi essa transformação que fez Urias abrir um sorriso.

— O que houve, senhor? Quer me matar só porque pedi a mão da sua filha em casamento? Não é isso que essa sociedade aqui faz? Casam suas filhas? Pois eu estou aqui, negociando com o próprio pai e pedir a bênção.

— Você acha que a minha filha é algum tipo de mercadoria? — disse Erina, irritada.

— De nenhuma maneira, senhora. Eu não estou aqui propondo dinheiro, e sim uma união justa. Eu tenho muito dinheiro. Minha família é uma das mais poderosas, ricas e influentes do Brasil. Se nos unirmos em um matrimonio, imagina quanto poder ganharíamos? Poderíamos ter uma enorme influência sobre este mundo, como reis. Poderíamos... até derrubar governos. Imagine sua filha sendo Ministra da Magia, por exemplo?

— Aí esse país iria afundar de vez, como já está afundando.

Severo estava muito nervoso. Erina ficou preocupada e começou a passar a mão no peito dele com o intuito de acalmá-lo. Normalmente, funcionava, mas ela viu que não parecia estar surtindo efeito desta vez.

Belas MentirasOnde histórias criam vida. Descubra agora