XXVI: As Sombras e as Luzes de Saikou e Jaou

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I

No dia seguinte, Joanne já estava pronta para o seu próximo treinamento, que seria com Yuri, o makai da luz. Foi uma dica que viera diretamente de Ren Akamichi, que mencionou o quão importante seria esse próximo desafio. Como sempre, Joanne se preparou minuciosamente, repetindo seu ritual habitual. Vestiu o uniforme que reluzia intensamente sob qualquer fonte de luz, em tons cintilantes de azul, roxo, verde e vermelho que se misturavam em harmonia, como se cada cor representasse um dos elementos que ela já havia enfrentado. A faixa, ainda no mesmo estágio, não tinha mudado, e Joanne culpava Ren por isso.

— Por favor, não tente arrumar encrenca com o Ren — alertou Marlene Marilyn naquela manhã quando ela chegou para o trabalho.

— Ele é irritante, Marlene. E se acha o mais poderoso de todos os makais.

— Eu sei que o Ren é uma pessoa complicada, mas arrumar briga não vai ajudar a melhorar o seu relacionamento com ele. Pode ser que até complique as coisas.

Joanne concordava com Marlene, mas não permitiria ser humilhada, nem mesmo por um superior. A atitude de Ren conseguia ser ainda mais insuportável do que a de seu próprio pai quando ele decidia lecionar. Apenas Joanne conhecia o verdadeiro inferno na Terra que era lidar com o professor Snape em seu modo mais autoritário, aquele que parecia ressurgir dos tempos antigos, quando ele fazia questão de ser o tirano na sala de aula. Não era só ela quem sofria com isso; seus irmãos também sentiam o peso dessa rigidez, e até mesmo sua mãe, quando solicitava ajuda, acabava sendo alvo da severidade quase cruel que o seu pai exibia.

Quando Joanne chegou ao Salão dos Doze, foi imediatamente recebida por Yuri, que a esperava sentado em uma das cadeiras próximas à mesa central. O makai permanecia imóvel, fixando o olhar em um ponto distante. Seu semblante austero parecia ecoar as antigas lendas dos guerreiros makais, que diziam que Saikou e Jaou, as espadas da luz e da escuridão, eram as mais poderosas que já existiram. Juntas, essas lâminas possuíam o poder de moldar o próprio Universo, como yin e yang, equilibrando a bondade e a maldade, o bem e o mal em perfeita harmonia.

Joanne achava besteira? Jamais.

Além de toda a imponência de Yuri, Joanne não pôde deixar de notar o quão interessante ele parecia. Era o mais alto da equipe, ultrapassando até mesmo a altura de Ryo Ogami. Seus cabelos curtos estavam estilizados em mechas que se erguiam de forma despretensiosa, conferindo-lhe um ar rebelde. As vestes, embora surradas e de cor bege clara, contrastavam com a calça jeans preta simples que usava por baixo, dando-lhe uma aparência despreocupada, mas carregada de força.

— Você chegou, finalmente.

— Desculpe por qualquer atraso — Joanne se curvou em respeito.

— Não, está até adiantada. Eu é que não gosto de esperar. Podemos prosseguir?

Joanne seguiu o makai atentamente enquanto caminhavam pelo longo corredor. A cada passo, as tochas ao redor se acendiam, lançando uma luz intensa e branca, quase cegante, que iluminava o caminho, até que, finalmente, ela se deparou com o mundo de Saikou.

E que mundo... bizarro. Diferente dos ambientes que já havia enfrentado, Gekido com seu pântano barrento e sombrio e Ninjaden com sua densa floresta verdejante, Saikou era um verdadeiro labirinto de espelhos. As paredes, altas e anguladas, formavam prismas que refletiam uns nos outros, criando uma atmosfera etérea, como se estivesse suspenso no tempo e espaço. A luz branca dos espelhos refletia em cada superfície, criando um ambiente quase divino, onde tudo parecia feito de uma matéria cristalina, pura e cintilante. Cada movimento de Joanne se desdobrava em infinitas versões de si mesma, tornando difícil discernir o real do ilusório. O chão, embora também brilhante, exibia uma solidez imponente, sugerindo que ali a resistência seria testada tanto no físico quanto no mental.

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