Belas Mentiras

XXV: As Montanhas de Gekido e Ninjaden

I

Severo quase finalizara o seu maior projeto de vida. Nunca pensaria que conseguiria esse feito em toda a sua carreira como cientista e alquimista.

O laboratório improvisado na garagem não ficava todo esfumaçado desde quando fez a Poção da Fertilidade há um ano. O cheiro também não era dos melhores, mas se quisesse realizar um de seus maiores sonhos, teria de aguentar, até porque, faltava bem pouco para que ficasse pronto.

O caldeirão soltava uma fumaça vermelho dourado que se espalhava pela mesa. Severo colocou os seus óculos de grau e com cuidado, foi ver se ainda tinha líquido dentro do recipiente com uma concha. Nada. Estava bem seco, o que lhe soou como algo positivo. Então pegou um tipo de fórceps e sentiu o metal bater em algo duro. Com cuidado, tirou o objeto do caldeirão em meio a fumaça e ficou maravilhado.

A rocha grande se assemelhava com um rubi de tão brilhante e intensa, totalmente espelhada. Severo riu de uma maneira que nem ele mesmo pensaria que riria um dia. Era uma felicidade genuína, verdadeira.

— Eu... não acredito. Eu consegui. Eu realmente consegui. Eu só preciso fazer os testes agora, para ver se está tudo certo.

Severo colocou a rocha dentro de um recipiente de vidro que estava em cima de um acendedor e o ligou a fogo bem baixo. Ele estava conectado a tubos, um mecanismo complexo que construiu para extrair essências com mais facilidade. Demorou um pouco, mas já via que, o elixir que a pedra extraía era vermelho sangue brilhante e muito ralo. O cheiro de metal também era bem evidente.

— A fogo baixo não vai se ter quantidades grandes por um curto período, mas eu não me importo em esperar. Agora, só falta o teste final.

Severo retirou a rocha e a colocou perto de uma pequena quantidade de mercúrio líquido. Com cuidado, o aproximou, e não demorou muito para que o metal brilhante se transformasse em uma pequena poça de ouro. Severo, inseguro, não queria tocar para ver se era ouro genuíno, mas fez o teste pegando um pouco com uma pipeta e analisando com calma a estrutura em um microscópio.

— Os componentes mudaram. É ouro genuíno.

A rocha não sofreu nenhum dano. Ela continuava límpida e brilhante. Estava tão feliz que nem sabia como contar a Erina que tinha feito uma Pedra Filosofal. Era o seu maior sonho como alquimista, aliás, era o sonho de qualquer alquimista. Levou décadas até aperfeiçoar suas habilidades, e chegar a esse resultado, uma pedra de um tamanho até que considerável, e que duraria por séculos e séculos.

Mas agora, teria que guardar a pedra muito bem, principalmente pelo fato de que, esse simples objeto fora motivo de muitas guerras entre a comunidade bruxa. O armário de relíquias era uma boa opção, com todos aqueles feitiços fortes que sua esposa jogou, era o local mais seguro de toda Casa de Pedra.

Pegou uma caixinha de madeira, limpou a pedra com uma microfibra e a guardou com cuidado, fechando-a em seguida. Ela tinha conseguido extrair líquido o suficiente para um pequeno cálice. Ele iria tomar? Não. Poderia, mas sua intenção não era viver para sempre, e nem queria.

Foi até o corredor do hall de entrada e abriu o armário de relíquias, colocando a caixinha da Pedra Filosofal ao lado da Mão de Midas. Depois, foi para a cozinha pegar um cálice e encheu-o com o Elixir da Vida.

— Erina — Severo andava pela casa a procura da esposa. — Mas não é possível que ela tenha já saído para o trabalho. Erina!

— Mas o que é isso?! — Erina saiu pela porta dos fundos da cozinha e o encontrou; ela usava um avental e uma touca de pano nos cabelos. — Severo, eu estava fazendo o almoço. Por que toda essa gritaria?