III: O Trovão de Alangina no Festival do Takoyaki

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I

Severo acordou com mais disposição na manhã seguinte, pronto para o passeio planejado com Joanne até o festival que ocorria regularmente na praça principal da aldeia de Miraikami. Ao chegar à cozinha, já vestido, deparou-se com um enorme par de asas de morcego diante de si. Surpreso, Severo questionou internamente por que Nyx estava acordado tão cedo, considerando que o seu genro era adepto da rotina noturna como vigia.

— Bom dia, sogrinho. Espero que o senhor tenha acordado de bom humor, porque hoje é o dia do Festival do Takoyaki.

— Takoyaki é aquela tal massa com pedaços de polvo que a Joanne me disse, né?

— Isso, e é uma delícia. O senhor vai adorar.

Severo observou Nyx mexendo com os hashis em uma pequena marmitinha branca, contendo uma substância viscosa, semelhante a secreção nasal, envolvendo algumas sementes ao redor, parecendo pequenos feijões. Apesar da aparência grotesca, aquilo não parecia ter um sabor agradável. Determinado a não ser mais tão reclamão, Severo, movido pela curiosidade, decidiu perguntar o que era.

Nyx respondeu:

— É natto. Eu como sempre pela manhã, ou quando acordo. Faz muito bem para a saúde. Confesso que a aparência não é muito boa, mas... o senhor quer experimentar?

— Quero.

Nyx entregou a marmitinha para Severo, que pegou o hashi com cuidado, agora mais habilidoso. Para sua surpresa, percebeu que se tratava de um monte de sementes de soja, e o muco era uma espécie de fermentação. O cheiro era terrível, assemelhando-se a amônia, e quando tentou pegar com os palitos, as sementes saíram como se estivessem envoltas em teias de aranha.

— Nossa... o cheiro é...

— Tenebroso, eu sei. Mas experimenta.

Severo colocou um pouco na boca e mastigou, com a fermentação saindo de sua boca como se estivesse soltando teias como uma aranha. Diferente do cheiro, o gosto era bem doce e saboroso.

— Não é ruim, pelo contrário. É algo doce no final, bem saboroso. É interessante, tirando essa coisa grudenta que me faz parecer o Homem Aranha.

— Fico feliz que tenha gostado, sogrinho. Uma parte dos japoneses adoram, mas o restante do mundo odeia, tanto que foi parar no Museu da Comida Nojenta. A Cassie também não gosta. Já eu, como porque gosto mesmo — Nyx foi até a geladeira e pegou outra marmitinha e abriu.

Joanne tinha sido a próxima a aparecer, com a cara bastante amassada e com sono, quando viu o seu pai com a boca cheia de natto.

— O senhor tá comendo natto?

— Sim. E?...

— Natto é nojento. Como o senhor gostou disso?

— Ué, experimentando. Como você sabe que é tão ruim sendo que nunca provou?

— Não preciso experimentar para saber que é uma merda. Esse treco tem o cheiro do peido do Alan.

Nyx quase se engasgou ao ouvir as últimas palavras; Severo precisou dar umas chacoalhadas nele, pegando forte nas asas de morcego.

— Q-que específico — argumentou, com a voz rouca pelo engasgo. — Como você sabe que o cheiro do natto é o mesmo que o cheiro do pum do seu irmão?

— Porque o peido da Polly, minha pufosa, é igual ao dele, extremamente fedido.

— Polly é... aquele seu bichinho de estimação todo verde e peludo, né? Que o sogrinho odeia mais do que eu... — Nyx ameaçou rir, mas só recebeu um olhar frio do sogro.

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