XIII: Salvando o Clube de Teatro II - O Cubo Mágico

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I

Os ânimos estavam exaltados. O palco montado no pátio da República estava cercado por muitas pessoas, a maioria de Ideon, curiosas para saber o que seria encenado. Com tanta gente reunida ao mesmo tempo, Kaijiki Hoshino sentia um medo crescente. Espiando constantemente pela cortina, ele ajustava seus óculos, que teimavam em escorregar pelo nariz. O nervosismo fazia suas mãos tremerem levemente. Ele precisava de água, de qualquer coisa que pudesse ajudá-lo a se acalmar.

Kaijiki foi até o alojamento do clã Inu e pegou alguns refrescos dispostos na entrada. As barraquinhas com mesas estavam cheias de lanches e petiscos, mas ele mal conseguia pensar em comer. Precisava se concentrar. Enquanto isso, Joanne Snape, a roteirista, estava sentada em uma das cadeiras de plástico colocadas no pátio, na primeira fileira de frente para o palco. Seu olhar preocupado varria a plateia que continuava a chegar. E se eles não gostarem? pensava incessantemente. Admitia para si mesma que estava bastante insegura sobre a recepção de sua história. A sociedade bruxa do Japão não tinha tanto traquejo com obras britânicas, e isso a deixava ainda mais nervosa.

— Ah, finalmente os refrescos — Joanne pegou um copo de vidro com suco de laranja que Kaijiki trazia consigo. Bebeu um gole e sentiu rasgando o gosto agridoce e ácido da bebida. Só que isso não a fez acalmar os ânimos, parece que piorou, pois viu que Rinne Fugo vinha na sua direção, correndo, até mais nervosa do que ela. — Rinne-chan, o que você está fazendo aqui?

— Jojo-chan, o Grossi-sensei sumiu!

Joanne se levantou e quase derrubou o suco de laranja no chão.

— Que? Como ele foi sumir?

— Eu não sei. Só olhei para o camarim e não o encontrei.

— E mais essa agora. Quem vai dirigir a peça, agora?

— Não sei, Jojo-chan. E temos só vinte minutos.

— Que merda. Ok, vamos procurá-lo. Se ele não aparecer, eu mesma irei dirigi-la. Ok? Você pode procurar lá no alojamento dos Sarus, Kaijiki?

— Eu posso sim. A-assim eu me acalmo um pouco também.

— Que assim, seja. Vou dar uma olhada lá no clã Inu.

Rinne disse "hai" e foi para o lado oposto, junto com Kaijiki. Joanne atravessou o palco pela parte de trás e dirigiu-se ao alojamento dos Inu. Ao virar uma esquina, deu de cara com o próprio diretor, que vestia um haori preto adornado com desenhos de flores brancas. O encontro repentino a assustou tanto que ela perdeu o equilíbrio e caiu sentada no chão. Com um olhar preocupado, o diretor imediatamente se abaixou para ajudá-la a se levantar.

— Você se machucou?

— Eu... estou bem, senhor.

— Está procurando alguém?

— Sim. O Grossi-sensei. Ele sumiu.

— Ah, o espectro. Ele deve estar em algum lugar. Espectros não vão muito longe, mas, aqui dentro dos Inus você não o encontrará.

— Certo, obrigada por ter me dito, sensei. Vou continuar procurando.

Joanne se despediu com uma rápida reverência e se afastou. Caminhou até o alojamento dos Kijis, onde finalmente avistou Grossi-sensei. Ele se assentava encostado nas árvores dos rouxinóis, aproveitando a sombra enquanto bebia algo de cor roxa, parecido com suco de uva. A cena parecia estranhamente fora de lugar, e isso despertou a curiosidade dela.

— Sensei? Ou, sensei — ele parou de beber e olhou para Joanne, que fez uma carranca quando viu os lábios do professor pintados com um roxo que mais se parecia com sangue. — Sensei, a peça já vai começar. O senhor tem que estar do meu lado.

Belas MentirasOnde histórias criam vida. Descubra agora