X: Isaac Shiratori

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I

Dois meses se passaram desde que Joanne chegou a Mahoutokoro e já aprendeu muita coisa. A carga horária era exaustiva, cansativa e até mesmo injusta, as matérias bem avançadas e demasiadamente pesadas, e por isso, era compreensível os alunos começarem aos sete anos de idade; e não era nem o começo.

Joanne tentava o seu melhor para conseguir a admiração dos professores e do diretor Oroku-sensei, que, até então, parecia ter certo prestígio por ela. Desde o ataque da Yuki-Onna, percebeu que ele gostava dela e queria que ela aproveitasse o máximo que a escola poderia oferecer. Então... por que sentia que o diretor tinha planos? Planos que poderia beneficiá-la, como também...

Não! Não seria contaminada por tais pensamentos estranhos, especialmente quando o seu pai citava Alvo Dumbledore como um verdadeiro manipulador e jogador de cartas. Beirava o absurdo. Sua mãe falava bem do antigo diretor de Hogwarts, mas era reclusa e não comentava muito também. Joanne acha que ela foi contaminada pelo mesmo cerne de desconfiança e maldade que o seu pai tinha.

Devaneios. Joanne precisava voltar no foco dos estudos que era a sua escrivaninha abarrotada de pergaminhos e pilhas de livros. Escrevendo rápido em seu caderno, não notou quando Sayo Ogami entrou e parou no meio da sala, observando o rabiscar rápido da pena da caneta.

— Ei! Sua caneta...

— Minha caneta? — Joanne olhou para o objeto. — O que tem ela?

— Tá fazendo muito barulho.

— Nem é tanto assim.

— Mas para mim é.

Joanne ficou pensando, mas refletiu bem e não iria fazer aquela pergunta.

Contudo...

— Sayo, você já pensou se pode ser autista? Falo isso porque os meus dois irmãos mais novos são, e eles tem esse problema com barulhos.

— Meu otou-san me levou para um neuropsiquiatra quando eu era beeem pequena. Não deu autismo. Deu superdotação.

Joanne ficou com um ponto de interrogação enorme pairando na sua cabeça.

— Eu não sabia que superdotação fazia a pessoa ter os ouvidos sensíveis.

— Há mais complexidade nesse ramo do que você imagina.

— Se você diz — Joanne voltou a escrever, agora com mais cuidado para não irritar os ouvidos de Sayo.

— Rinne disse que quer falar com você.

— E onde ela está, minigênio? Eu não tenho uma bola de cristal ou possuo clarividência para saber sua exata localização.

— Na barraquinha de oden. Você não vai me pedir pra te levar lá, né?

Joanne bufou, arrumou as suas coisas, se levantou e saiu do alojamento, vendo Rinne sentada e comendo sopa de oden. Se sentou ao lado dela, e pediu a Tsuruhara-san um prato de ramen, ao mesmo tempo que observava Rinne pegar cuidadosamente o ovo com os hashis e dando uma mordida, em um clima de sobriedade e melancolia.

— Rinne-chan, a Sayo disse que você queria conversar?

Hai. É sobre o que ocorreu naquele dia com a Yuki-Onna — Rinne se levantou e fez uma curvatura. — Me desculpa. Eu jamais tinha a intenção de duvidar das suas palavras.

Sabia que não, mas não deixou de ficar chateada do mesmo jeito. Se sentiu um lixo, pior do que quando Harry Potter queria alertar o mundo da volta de Voldemort e ninguém acreditava nele. Contudo, lá no fundo do seu coração de metal e circuitos, ela entendia. Foi mesmo um choque saber que há uma criatura terrível dentro do Oceano Atlântico que, provavelmente, matou os pais dela. Deveria ter sido mais carinhosa ao abordar o assunto.

Belas MentirasOnde histórias criam vida. Descubra agora