Belas Mentiras

IV: O Chuuo Domuu

I

Joanne acordou naquela manhã de segunda-feira com duas notícias surpreendentes: Kento ainda estava lá, afiando sua espada, e seu pai planejava voltar para a Europa após o café da manhã. A notícia da partida de seu pai a deixou muito chateada. Ela desejava que ele ficasse um pouco mais, que pudesse absorver mais sobre o fascinante mundo da bruxaria japonesa, mas tudo parecia destinado a se dissipar com sua partida.

Ela entendia, ou pelo menos tentava entender, afinal, seu pai agora ocupava o cargo de diretor em Hogwarts, e certamente tinha uma montanha de responsabilidades pela frente, precisando administrar a escola com mãos de ferro. No entanto, Joanne não queria vê-lo tão estressado quanto costumava ficar quando era apenas um professor. Toda a família conhecia bem os desafios que o senhor Snape enfrentou naquela prisão juvenil.

Mas antes de se despedir dele, Joanne queria conversar com Kento sobre o que havia escutado na noite anterior com Nyxodia. Ela precisava falar sobre o tal Mestre Logos,que parecia estar seguindo seus passos, possivelmente em conluio com a Arca. Tudo isso por conta de um coração de circuitos e polímeros que batia em seu peito, substituindo o original que nasceu com uma má formação.

Ao entrar na sala de estar, Joanne encontrou Kento afiando a espada dos trovões que lhe conferia a armadura de Alangina. Ela hesitou por um momento, não sabendo se seria educado interrompê-lo. Ele parecia bastante concentrado em sua tarefa, e havia também o fato de que Joanne escutara uma conversa privada e não seria nada educado comentar.

— Kento-sama... — ele parou de amolar a espada e a encarou.

— Está tudo bem, Jojo-chan?

— Sim e com você? Quero que saiba que eu não queria tê-lo abandonado. Se eu não estivesse com tanto medo daquele cara, teria lançado os meus raios nele e o fritado...

— Jojo-chan, você fez bem em correr. Eu sou treinado para esse tipo de combate. Seria de muito irresponsabilidade minha deixá-la me ajudar.

— Mas nem sempre dá para se defender ou escapar. Minha mãe era a melhor auror dos tempos dela, e teve o rosto cortado por um bruxo das trevas. Por mais habilidoso que vocês, bruxos da lei, possam ser, acaba escapando alguma coisa.

— Você... viu quando eu me transformei?

— É... um pouco, só as suas costas. Por quê?

— Bom... você sabe. Não posso me transformar na frente de civis.

— Sei, o tal código de honra dos makais, super rigoroso. Só o inimigo pode ver minha armadura, pois essa vai ser a última coisa que verá em sua vida.

— Não é bem assim. Esse está mais para o código dos samurais dos magiie, mas, digamos que, é, pode ser algo nesse gênero. E porque não queremos envolver civis em nossas lutas, que em sua grande parte, não acabam muito bem.

Joanne se sentou ao lado dele no sofá.

— Kento... eu ouvi uma conversa sua com o Nyx ontem, sem querer, juro. Esse... Mestre Logos pode ter se aliado com a Arca e estar atrás de mim. Queria te pedir desculpas por isso e...

— Sim, eu conversei com o meu irmão sobre isso e é o que desconfio a princípio, já que ele parecia, sim, estar atrás de você. Ele pode muito bem ter se aliado com esses bruxos das trevas para te capturar, mas sendo muito sincero, não acho que seja por isso. Ele voltou no intuito de se vingar de mim e do meu irmão. Ainda não compreendo o porquê, depois de quase vinte e cinco anos... ele poderia ter nos assassinado naquela época, em que éramos crianças.

— Vai ver ele tinha medo do Nyx. Ele é meio amedrontador quando entra no seu modo full gárgula.

— Não, o Mestre Logos não tem medo de nada. Ele era o nosso líder. Acho que você não sabe, Jojo-chan, mas quando um makai é escolhido como Mestre Logos, além de ser uma grande honra, significa que ele precisa abandonar tudo anterior a seu passado, incluindo o próprio nome.