V: O Dilema do Faisão

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I

Joanne sentiu-se compelida a agir rapidamente, pois Kento falava com tamanha brusquidão que era difícil acompanhar. Com pressa, ela agarrou suas roupas essenciais e começou a arrumar as malas, separando os livros favoritos dos de escola. Vestiu seu uniforme e conseguiu despedir-se de Cassiopeia com menos afobação.

— Tchau, Cassie. Vou sentir muito a sua falta.

— Digo o mesmo, Jojo. E espero que encontre bons amigos na Mahoutokoro, e claro, te ajude com aquele probleminha — Cassiopeia piscou para ela.

Joanne ficou paralisada; não duvidava que, a essa altura do campeonato, sua irmã soubesse de tudo. Não era apenas para conhecer a Mahoutokoro, significava muito mais. Ela ansiava por melhorar seu comportamento, por ser mais tolerante e respeitosa com as pessoas ao seu redor, por deixar de ser tão mal-educada e respondona. Não compreendia por que havia se tornado assim... afinal, seus pais sempre a tinham educado muito bem.

Ela também cogitava que isso poderia ter alguma relação com a Arca, aquele coração maligno que residia em seu âmago, carregando consigo toda a monstruosidade daquela inteligência artificial descontrolada. Joanne não encontrava meios de se libertar.

— Eu... quero melhorar, Cassie. De verdade.

— Bom, para isso vai ter que se esforçar, mas já reconhecer que precisa de disciplina já é um grande passo dado. Agora vá, antes que o Kento fique irritado com você.

Joanne abraçou novamente a irmã e pegou suas malas, seguindo Kento e deixando-se guiar até o muro adornado com as rosas encantadas. À beira do rio, avistou um pequeno barco de madeira com uma lamparina sobre ele, evocando lembranças dos barcos que transportavam os alunos do primeiro ano até Hogwarts. Dentro do barco, encontrou Hase-san, o amigo oni de Kento, aguardando-os.

Kento abriu uma pequena portinhola ao lado e desceu até a margem íngreme e pegajosa do solo. Pediu a Joanne que entregasse suas malas, e com cuidado, ele as colocou na embarcação.

— Ele é quem vai nos levar?

— Mais ou menos. É que por aqui, não tem passagem por terra que leve direto para Aokigahara.

— Perai... você disse Aokigahara, a floresta dos suicidas?

Kento arregalou os olhos ao ouvir Joanne mencionar a primeira parte, incluindo Hase-san. Ambos pareciam escandalizados.

— Desculpa. Eu não tive a intenção de ofender, mas...

— Sim, Jojo-chan. Aokigahara é um lugar que ocorre muitas tentativas de suicídio, mas também é um lugar mágico e de respeito. É por lá, diante do Monte Fuji, é que vamos para a Mahoutokoro.

Joanne abaixou a cabeça, sentindo-se péssima. Sabia que não deveria ter feito aquele questionamento odioso. Era exatamente por isso que ela precisava tanto de ajuda para melhorar seu comportamento.

Hase-san pegou dois remos e começou a remar lentamente para o Norte, afastando-se rapidamente de Miraikami. Não demorou muito para adentrarem uma floresta densa, com árvores pendentes e cobertas de musgo, criando um ambiente úmido como um pântano. O lugar, por si só, já parecia bastante assustador, especialmente na completa escuridão que os envolvia.

— Estamos nos aproximando.

Kento indicou uma direção, e Hase-san remou. A luz fraca da lamparina fez Joanne sentir mais medo do que já estava, e um arrepio percorreu sua espinha quando algo pouco convidativo surgiu à sua frente.

Era mais um dos portais torii encontrados em todo o Japão, porém este era particularmente grande, estendendo-se sobre duas margens do lago e erguendo-se majestosamente no meio das águas. Tinha uma aparência antiga e desgastada, construído de madeira e envolto por heras que cresciam ao seu redor como um parasita. Flores brancas pontilhavam a região, invadindo até mesmo o lago e flutuando na água turva.

Belas MentirasOnde histórias criam vida. Descubra agora