VIII: Kagami-no-Heya

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I

Joanne estava enfrentando enormes dificuldades para lidar com toda a carga de estudos exigida pela Mahoutokoro. Se havia algo com que ela concordava plenamente com Sayo Ogami, era que a carga estudantil de Hogwarts era uma piada. Na Mahoutokoro, a exigência era intensa e pesada, o que explicava por que os bruxos japoneses começavam a estudar tão cedo; havia uma quantidade avassaladora de material para acompanhar. Apesar disso, sua experiência educacional durante a primeira semana na escola foi positiva, permitindo-lhe progredir significativamente, embora à custa de muitas noites em claro, inúmeros deveres de casa e uma pilha interminável de livros sobre sua mesa.

Neste exato momento, Joanne carregava um monte de livros nas mãos, dirigindo-se à biblioteca para continuar sua intensa sessão de estudos, agora que foi abençoada com um pequeno intervalo. O lugar era escuro, repleto de estantes que se estendiam pela sala retangular e toda modorrenta, com um bibliotecário ainda mais ranzinza do que Madame Pince, que parecia um anjo em comparação a ele.

Ele não falava japonês por ser um oni, o que era meio... estranho. Sua pele era totalmente azul e escamosa, com manchas laranjas espalhadas por todo o corpo. Em lugar de dedos, possuía duas grandes garras, reminiscentes de uma estranha combinação entre um peixe e um crustáceo, além de asas finas, semelhantes às de uma libélula. Seus bigodes eram longos e fartos, e usava óculos de meia-lua. Joanne não sabia seu nome e nem tinha interesse em descobrir; seu único objetivo era estudar, de preferência de forma tão silenciosa quanto possível.

Sentando-se em um lugar próximo a um abajur, Joanne abriu os livros e começou a estudar, fazendo anotações em japonês em seu caderno. Sua caligrafia no hiragana estava melhorando os contornos, mas ainda não conseguia dominar completamente o kanji. Takeshi-sensei já havia reclamado que ela precisava ter algumas aulas de caligrafia se quisesse que tanto ele quanto os outros docentes entendessem o que ela escrevia ali.

A matéria passada por ele era bem desafiadora. O sensei pediu para que os alunos do oitavo ano escrevessem quase um tomo completo sobre as criaturas das sete camadas do Inferno — ou Submundo, como muitos ali chamavam — e Joanne se lembrou de um, que eram os diabretes vermelhos, criaturas bem raras e até mais tentados que os já tão famosos diabretes da Cornualha. O problema era catalogar as criaturas. Joanne não sabia em qual camada o diabrete vermelho morava no Submundo.

Joanne deveria ter se preparado melhor. Ela sabia que seria algo desafiador, mas tudo bem, estava disposta a enfrentar qualquer dificuldade em nome do conhecimento e de conquistar mais manchas douradas em seu uniforme.

Terminou suas pesquisas, anotando tudo o que precisava, e saiu da biblioteca, deixando para trás a montanha de livros e levando consigo apenas um volume grande e pesado. Ao passar por outros alunos que entravam ou saíam, dirigiu-se ao grande salão, onde o almoço seria servido em breve. Sentou-se à mesa do clã Kiji e não demorou para que o relógio marcasse meio-dia e a refeição aparecesse diante de seus olhos, linda e saborosa. Serviu-se de um pouco de arroz, salsichas pequenas e alguns gyosas com recheio de carne de porco moída, acompanhados por um punhado de brócolis e pepino.

Rinne chegou mais tarde, carregando um monte de livros na mão, e mais ainda na sua frágil bolsa de pele de briba.

— Tanta coisa para fazer — Rinne colocou os pesados livros em cima da mesa. — Conseguiu fazer o tomo que o Takeshi-sensei pediu, Jojo-chan?

— Nem comecei. Só escrevi uma folha.

— Acho que estamos ferradas. Ele pediu para entregarmos até o final de Junho, que é quando começa o período de provas, mas mesmo assim, é muito conteúdo. Tudo bem, é compreensível, estamos no final do Módulo II da educação mágica.

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