Capítulo 22

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Sou levada até a pequena e aconchegante sala de Leah

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Sou levada até a pequena e aconchegante sala de Leah. A televisão estava desligada e as janelas abertas para que os últimos raios de sol entrem. Há pequenos vasos de cactos enfeitando a estante e pilhas de livros didáticos. Ela me deixa sozinha por alguns minutos, olhando para aquele belo cômodo bem diferente da sala do meu apartamento.

-Trouxe para você e é melhor que apoie a perna aqui- Fala me entregando um copo de água com analgésicos e acomodando minha perna em cima de um banquinho- Agora me conta o que aconteceu.

A expressão de Leah está carregada com um misto de preocupação e ódio por quem me machucou. Pelas veias saltadas em sua mão percebo que seria capaz de cair na porrada com alguém agora mesmo.

-Ontem eu acabei seguindo Marcelo até sua casa. Ele estava com uma garotinha nos braços e eu não pude evitar- Meus ombros se curvam ao lembrar que não tive sucesso ao persegui-lo- E se ele estiver fazendo o mesmo com ela? É uma criança. Espionei pelo portão aberto até que seu cachorro escapou e me perseguiu por alguns metros. Felizmente consegui entrar na Kombi antes que ele me visse.

-Porra Jessie. Poderia ter me ligado para que possamos resolver isso juntas- Fala apertando a ponte do nariz como se sofresse de dor de cabeça de repente.

-Me desculpa... Eu não pensei- repentinamente a dor da minha perna passa para o meu coração que faz meus olhos arderem em lágrimas. Eu odiava ser tão fraca.

-Está tudo bem... Mas por que não foi ao médico? Mordidas de cachorro são perigosas.

-Ele trabalha lá Leah- Minha voz sai rouca por conta do grande nó na garganta.

-Ai merda.

-Mas eu vou ficar bem- Tento aliviar o clima, mas ela balança a cabeça negativamente- Só preciso de pomadas e remédio.

-Não Jessie. Você precisa de um médico- Sua voz é dura, mas não sinto que seu ódio esteja voltado para mim.

Aquele ódio é voltado para Marcelo.

Leah pega a chave do carro que descansa sobre o balcão e apanha uma jaqueta enroscando-a no braço.

-Não me faça ir até lá- Imploro segurando seu braço antes que fique fora do meu alcance. O contato entre nossas peles faz meu coração acelerar- Eu prefiro morrer a encontra-lo mais uma vez.

Seus olhos negros em contraste com a pele branca encontram o fundo da minha alma. Seus ombros cedem junto com um longo suspiro. A policial senta ao meu lado no sofá largando os pertences e procurando o celular.

-Eu vou chamar um amigo. Ele pode te ajudar.

-Obrigada- Agradeço baixinho.

*

As mãos de Yvan trabalham agilmente na ferida aberta da minha perna. No fim, precisei levar um ponto no corte profundo causado pelos dentes do cão, mas o médico fez a gentiliza de aplicar anestesia, então senti absolutamente nada.

Leah passou o processo todo encostada a parede. Não sei se observava com atenção ou se viajava dentro da própria cabeça. De qualquer forma, ela nunca perde a postura.

-Você vai precisar trocar o curativo todos os dias para fazer a limpeza do local e tomar antibiótico- Diz retirando as luvas de látex e bagunçando os cabelos levemente ruivos- Fez bem em me chamar Addari. A senhorita Brodie poderia ter uma infecção grave.

-Ouviu Jessie?- Verifica Leah erguendo a cabeça e saindo se seu transe. Seu olhar ganhando um brilho cheio de razão- Quanto eu te devo?

-Nada. É um favor de velhos amigos.

-Tem certeza? Não me importo em pagar- Leah coloca a mão no bolso procurando pela carteira, mas Yvan a interrompe com um gesto.

-Não vou aceitar seu dinheiro Addari. Posso conversar com você lá fora?

-Tudo bem.

-Até mais senhorita Brodie. Descanse- E se retira acompanhado de Leah.

Fico tentada a aproveitar o efeito da anestesia e caminhar até a janela para ouvir o que os dois conversavam, mas meu corpo lateja de cansaço.

Eu só queria afundar na minha cama agora.

Da sala, consigo ouvir apenas o murmúrio de suas vozes e quando ouço Leah se despedindo de Yvan, resolvo aproveitar a onda de despedidas e ir para casa.

Manco até a cozinha e procuro pela chave da Kombi ao lado das compras ainda encaixotadas. Leah havia largado todos os afazeres para ficar de olho em mim.

-Para onde pensa que vai?- Dou de cara com Leah na porta da cozinha. A noite se estendendo atrás de si.

-Eu agradeço pela ajuda, mas preciso ir para casa. Amanhã tenho que trabalhar.

-Nem pensar- Ela passa meu braço por cima de seus ombros novamente e me leva até o sofá- Não ouviu Yvan? Você precisa de descanso e ele te deu um atestado. Nada de trabalho amanhã.

-O que? Leah eu agradeço muito, mas...

-E mais nada- Seus dedos pousam levemente em meus lábios, silenciando-os- Você vai ficar no meu quarto essa noite, está bem?

-Não Leah- Protesto ficando de pé novamente- Se eu for ficar, vou dormir no sofá. É isso ou vou para casa.

Seus dedos percorrem os fios de cabelo ondulado e um longo suspiro lhe escapa. Também não deixo de perceber a revirada de olho que dá ao se aproximar de mim.

-Você é bem complicadinha, não é Jessie Brodie?- Ela enrosca os dedos em meu ombro e me força a sentar- Agora faça o que estou mandando, senão vou ter que chamar as autoridades.

-E você não é a autoridade?

-Touché.

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Jessie Brodie (sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora