❌Aviso de gatilho❌
A vida de Jessie nunca foi normal.
Aos vinte e um anos Jessie Brodie tenta recomeçar a vida após uma série de traumas sofridos na infância. Ainda está fresca em sua memória a temperatura das mãos de seu tio que marcaram seu corpo...
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Com o novo trabalho de tio Marcelo ele ficava mais tempo fora de casa, mas folgava em certos dias da semana. Quando estava fora era maravilhoso. Eu podia brincar livre no quintal e dormir sem preocupações. Mas quando era sua folga eu sentia necessidade de me mexer devagar dentro de casa para que não note minha presença.
Para minha sorte mamãe sempre ficava com a gente, então me sentia mais segura quando tinha que ficar na sala e compartilhar a televisão com meu tio. E também tinha Luke que me chamava para brincar na casa dele de vez em quando.
Apesar de tudo, havia uma coisa que eu achava divertido. Às vezes, nos reuníamos na sala com salgadinhos e, os adultos, com vinho para ouvir as histórias de Marcelo. Eu adorava ouvir sobre pacientes engraçados e velhinhas confusas. Achava mágico quando riamos todos juntos de alguma situação a ponto de provocar lágrimas nos cantos dos olhos. Minha mãe sempre estava com o braço ao redor do meu corpo nessas horas, me dando colo.
Hoje é um dos dias que Marcelo fica de folga em casa, mas não preciso me preocupar em andar sem fazer barulho, pois Luke me chamou para brincar na casa dele. Mesmo assim, ainda sinto um frio da barriga ao deixar mamãe sozinha em casa com o Marcelo. Será que ele seria capaz de queima-la com suas mãos quentes?
Balanço a cabeça dispensando o pensamento e sigo para a casa de Luke. Enquanto espero ele aparecer no portão, olho para o hotel bem ao lado. Grande, com a pintura forte e brilhante e silencioso. O que papai estaria fazendo nesse momento?
-Jess você veio!- E saltita até o portão e me puxa para o lado de dentro- Do que quer brincar?
-Eu não sei Luke- apoio o corpo de um lado e coço o queixo- Esconde-esconde?
-Ah não! De novo? Já brincamos disso na última vez- Diz tombando a cabeça para traz e depois cruzando os braços- Por que não podemos ir à sua casa? Você tem um quintal onde dá para brincar.
Um nó se forma na minha garganta. Eu adoraria levar Luke até minha casa e mostrar meu quarto cheio de brinquedos se não fosse por Marcelo. Tenho medo de que ele machuque Luke e faça sua pele branca queimar. Não sei se me perdoaria se algo acontecesse com meu amigo.
-É melhor não, sabe?- Digo curvando os ombros e a chateação surgindo na voz- Meu tio está de folga e não gosta muito de bagunça.
-Não vamos fazer bagunça!- Insiste batendo o pé no chão- Ele nem vai reparar que estamos lá.
-É melhor não Luke- Procuro uma desculpa melhor e mais convincente na minha cabeça, mas não encontro- Minha mãe também não ia deixar.
-Por quê? Ela não gosta de mim?
-Gosta! Ela sempre elogia o seu cabelo loiro, mas não quer que você vá lá em casa. Entende?
-Não faz sentido!- Luke aborrece e aperta os braços com mais força- Eu só queria brincar.
