Capítulo 10

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-É para cá que você vem todos os dias?- Pergunta Beth apertando a jaqueta contra o corpo- Caramba está muito escuro.

-Não todos os dias- Respondo dando uma olhadinha para ela que seguia atrás de mim- Só quando quero relaxar e ter companhia.

Conduzo Beth pelo estacionamento vazio e escuro até chegarmos ao mesmo muro em que Luke e eu nos sentamos no meu primeiro dia de trabalho. Como marcado, ele já estava sentado lá em cima de costas para o estacionamento e olhando para o mundo.

-Como vamos subir? – Pergunta Beth olhando para o muro com tinta descascando em nossa frente. Reparo que durante a noite seus olhos ganham um brilho misterioso e me pergunto se os meus ficam iguais.

-Não é tão alto quanto parece- Coloco as mãos em torno da boca formando uma espécie de concha- Luke! Vamos precisar de ajuda!

-Está falando sério que o filho do dono está aqui também? Em cima do muro?

Dou de ombros.

-Apenas suba.

Abaixo-me junto ao muro e faço um apoio com as mãos para que Beth possa ficar mais alta e alcançar o topo. Tenho que usar todas as minhas forças para não derruba-la quando pisa em minhas mãos. Todo esse peso deve vir de suas belas curvas. Por sorte, quando meus braços começam a tremer, Luke oferece a mão à Beth e a puxa levando-a para o topo.

Alongo os braços e observo Beth agarrar a borda com força e se acomodar com medo de cair. Ali em cima os fios soltos de seu cabelo loiro balançam enlouquecidamente. Luke, com uma perna de cada lado do muro, oferece a mão para mim.

Afasto-me do muro para pegar impulso e corro saltando e agarrando a mão de Luke. Escalo com sua ajuda e em segundos estou lá entre Beth e meu amigo de cabelos loiros. Acomodo entre meus amigos, meu cabelo marrom contrastando com o cabelo cor de mel deles.

Hoje a noite está mais fria do que de costume. Nossas camisetas chacoalham com o vento e os fios de cabelos dançam até virarem nó. O ruído do asfalto parece estar mais alto e uma música é trazida pelo vento até nós. Como naquele dia, os sons da noite nos envolvem.

Luke apanha duas garrafas de cerveja geladas e as passa para nós. A dele, para minha surpresa, não tinha sido aberta ainda. Bebo um gole em silêncio e deixo a noite entrar em mim. Ao longe as luzes fortes das fábricas e dos prédios enfeitam a cidade.

-Bem, acho que nós já nos conhecemos, não é?- Diz Luke se inclinando para olhar em seus olhos- Se não me engano você é a Bethany, estou certo?

-Está. Pode me chamar de Beth- Responde ela com um sorriso sem mostrar os dentes- E você é filho do dono, Luke?

-Isso mesmo.

-Então já nos conhecemos.

-Poxa! Já sabem até a comida favorita um do outro?- Falo revoltada. Queria ser a responsável por apresentar eles um ao outro e por apenas uma noite não ser a novata.

-A comida favorita do Luke é abacate com limão- Responde Beth com naturalidade. Luke tosse parecendo ter se engasgado com a cerveja- O que foi?

-Como você sabe?- Ele pergunta de olhos arregalados.

-As garotas são obcecadas em você Luke. Se duvidar elas sabem até o tamanho de cueca que você usa.

-Impossível- Diz com um sorriso de quem não quer acreditar em algo. Beth levanta uma sobrancelha para ele com um sorriso parecido estampado no rosto- Jura?

-Você é bonitão Luke- Ela se volta para a paisagem a sua frente- Esperava o que?

-Tudo menos isso. Você sabe de mais alguma coisa?

-Olá? Eu estou aqui- Digo balançando os pés e as mãos na tentativa de chamar atenção- Não Luke. Ela não pode saber de coisas mais pessoais do que o tamanho da sua cueca, senão o namorado dela vai estrangula-la.

-Você namora?- os olhos de Luke empertigam em sua direção. De repente esquecendo- se novamente da minha existência. Uma parte de mim não o culpa, pois nos conhecemos a tanto tempo que ele provavelmente deve saber coisas sobre mim que nem eu mesma sei.

-Faz dois meses- Ela dá um gole na cerveja e faz uma careta- Ele trabalha em um bar aqui perto e acabamos nos conhecendo durante uma rodada de bebidas.

-Você gosta de beber mais do que eu imaginei- Falo.

-Tem muitas coisas que eu gosto que você não imagina, Jessie- Responde tombando a cabeça para o lado e apontando para a noite- Está vendo aquele prédio com luzes cor de rosa?

Estreito os olhos na direção em que seu dedo aponta. Talvez eu precise mesmo marcar uma consulta no oftalmologista. Procuro até minha visão focar em um prédio não muito longe daqui com luzes cor de rosa vinda de seu interior.

-Faço aulas de balé ali- Continua- Eu danço desde pequena e nunca parei por nada. A música e os passos delicados como um cisne me fazem sentir viva. Quando danço, consigo ver o mundo com mais clareza. Talvez você pudesse tentar Jessie.

-Jessie odeia balé- Interrompe Luke- Uma vez a mãe dela a colocou em aulas de balé junto com as outras garotas da sala. Jessie acabou se irritando e jogando a sapatilha na professora. Ficou um roxo bem feio na testa daquela mulher. Pobrezinha.

-Nem ficou tão ruim- Digo em defesa- Foi só um roxinho.

-Roxinho? Parecia uma berinjela no meio da testa da professora- Diz Luke causando risadas de sair lágrimas nos olhos. Deve ser o efeito da cerveja após um dia de trabalho e estômago vazio.

-Como sabe de tudo isso?- Pergunta Beth.

-Eu conheço Jessie há muitos anos. Tantos que não dá para contar nos dedos.

-E como foi que se conheceram?

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Jessie Brodie (sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora